São dezenas de milhares de soldados das Forças de Segurança de Israel (IDF) que estão envolvidos nesta operação que, ao que tudo indica, começou mesmo antes de realizada a transferência forçada de 1 milhão de pessoas para campos de refugiados no centro de Gaza.
Além dos que estão envolvidos directamente nesta arriscada operação, o Governo de Telavive anunciou, concomitantemente, a mobilização de mais 60 mil reservistas, o que, contrariamente ao que Benjamin Netanyhau tinha dito ao anunciar este avanço sobre a capital do massacrado território, não será terminada em pouco tempo.
Além do elevado número de forças terrestres mobilizadas para esta operação de controlo total da Cidade de Gaza - Gaza City como passo decisivo para que Israel passe a controlar totalmente os 365 kms2 deste território, habitado por 2,2 milhões de pessoas, excluindo os mais de 65 mil mortos, entre estes mais de metade crianças (pelo menos 20 mil) e mulheres, desde 08 de Outubro.
A invasão israelita foi iniciada nesta data depois de um assalto ao sul de Israel pelos combatentes do Hamas e da Jihad Islâmica, grupos considerados terroristas no "Ocidente", onde foram mortos mais de mil pessoas e mais de 200 levados como reféns para Gaza, mas que está agora envolta em crescentes dúvidas sobre as razões para que a melhor intelligentsia do mundo não tenha percebido as ruidosas preparações da entrada de milhares de "terroristas" no país.
Agora, quase dois anos depois, com Gaza a ser receptáculo de centenas de milhares de toneladas de bombas, uma carga explosiva largamente superior à contida na bomba nuclear despejada pelos EUA sobre Nagasaki, ao que tudo indica, as IDF, depois de matarem um número recorde de jornalistas, mais de 250, palestinianos para impedir que as imagens da carnificina cheguem ao exterior, avançam para uma segunda fase, que é o controlo absoluto do território.
Porém, sob fortes críticas internas, incluindo o líder da oposição Yair Lapid, do Partido Yesh Atid (Há um Futuro), e do histórico Ehud Olmert, além das organizações internacionais e de vários países europeus, incluindo os melhores aliados de Telavive, como a França e o Reino Unido, Netanyhau dá a ordem para esta desafiante e potencialmente trágica operação.
Uma operação que se sabe, mesmo que não através de um documento oficial do Governo israelita, mas sim de dois dos seus ministros, Gen Gvir, da Segurança Nacional, e Bezalem Smotrich, das Finanças, dois radicais políticos e religiosos que defendem o extermínio dos palestinianos e a destruição total de Gaza, visa preparar o terreno para a substituição das localidades palestinianas por colonatos judeus em larga escala.
Isto, quando o plano anunciado pelo primeiro-ministro, aprovado há cerca de duas semanas pelo Gabinete de Segurança, que agrega a maioria do Executivo israelita, prevê ainda uma campanha de intensos bombardeamentos das posições conhecidas do Hamas, tendo esta noite, de quarta-feira, 20, para quinta-feira, 21, sido filmada uma gigantesca explosão nas imediações de Gaza City, uma das maiores vistas e sentidas deste Outubro de 2023.
Isto, quando o Hamas tem vindo a ceder em quase toda a linha nas condições apresentadas pelos Estados Unidos, e outros mediadores, como o Catar e o Egipto, para um cessar-fogo, incluindo a libertação faseada dos reféns, paralelamente à saída das IDF das áreas de Gaza mais urbanizadas de modo a permitir a normalização possível e a entrada de ajuda humanitária urgente para salvar a vida em risco de dezenas de milhares de crianças, mulheres e idosos, as maiores vítimas do terror israelita no território.
E esta operação de entrada e controlo da Cidade de Gaza surge quando, inclusive internamente, Netanyhau e o seu Governo começam a ser questionados sobre a invasão, momeadamente porque dos três objectivos anunciados a 08 de Outubro de 2023, a destruição total do Hamas, a libertação de todos os reféns e garantir que Gaza deixa de ser uma ameaça a Israel, nenhum foi conseguido.
Isto, mesmo depois de o território estar totalmente arrasado, contabilizados oficialmente 65 mil civis mortos - algumas ONG internacionais falam em mais de 400 mil corpos ainda sob os escombros -, mais de 300 mil feridos, a fome e a doença estarem impregnadas já entre os mais de 2 milhões de pessoas que sobrevivem entre ruínas e o mundo estar como nunca esteve em sintonia na condenação do genocídio do povo palestiniano, como a Justiça internacional, a ONU e vários países afirmam ser o caso, o que levou à emissão de mandatos de captura internacionais contra Netanyhau.