Estas duas referências, em destaque nos media internacionais, estão intimamente ligadas, considerando que a invasão israelita de 08 de Outubro de 2023, que decorre com crescente letalidade porque às mortes pelas bombas juntam-se as mortes pela fome e doenças de fácil prevenção, enquanto a ajuda humanitária que as poderia evitar não chega ao território devido aos bloqueios israelitas.

Por um lado, os antigos chefes das secretas israelitas, incluindo a Mossad (externa), o Shin Bet (interna) e a AMAM (militar), querem o fim do conflito porque as Forças de Defesa de Israel (IDF) não conseguiram, ao fim de 22 meses de invasão, nem acabar com o Hamas nem libertar todos os reféns.

Por outro, devido à fome generalizada, que é uma das "ferramentas" mais eficazes do genocídio israelita em Gaza, as agências humanitárias internacionais, num documento divulgado pela Al Jazeera, alertam para o "iminente colapso humanitário" no território se as operações militares não cessarem de imediato.

Com a aparente invencibilidade do primeiro-ministro Benjamin Netanyhau garantida pelo apoio político, militar e financeiro dos Estados Unidos, da União Europeia e do Reino Unido, uma derradeira esperança para os 2,2 milhões de habitantes de Gaza é a pressão interna que começa a ser exercida sobre o Governo radical de Telavive, seja nas ruas, seja por antigos governantes e, agora, ex-chefes das secretas que, por maioria de razão, estão cientes da realidade no terreno.

Alguns analistas notam que este pedido veemente destes antigos dirigentes da intelligentsia hebraica alude à falta de resultados operacionais porque não pode referir as questões humanitárias e, muito menos, o genocídio, como é reconhecido pelas Justiça internacional, devido ás implicações internas dramáticas que essa opção teria.

No vídeo é ainda notado que essa falta de resultados, tanto militares como políticos, tem produzido efeitos devastadores na reputação global de Israel.

O que é uma referência nítida ao facto de as IDF, com o apoio ilimitado do mais sofisticado armamento norte-americano, a intelligentsia ocidental toda à sua disposição, incluindo a rede de satélites, sem que se tenha anulado, em quase dois anos de guerra atroz, um grupo, mesmo com milhares de membros, com acesso apenas a armas ligeiras e obrigado a estar escondido debaixo de terra.

Dando a cara por este grupo de 18 antigos lideres das secretas israelitas, Ami Ayalon, ex-chefe do Shin Bet, organização em foco apertado neste conflito (ver aqui), refere que esta guerra já poderia ter acabado "porque deixou de ser apenas uma guerra", estando a conduzir o Estado de Israel à "perda da sua identidade e segurança".

"Estamos à beira do abismo da derrota", acrescentou Tamir Pardo, antigo elemento da Mossad, justificando a declaração com a convicção de que ""não importa a qualidade do Exército, o que é relevante é que uma guerra sem objectivos políticos claros e evidentes não pode ser ganha, é uma garantia de derrota".

Perante estas declarações ganha corpo a ideia de que o Governo de Netanyhau, a começar pelo próprio, está a conduzir esta guerra de forma a alcançar objectivos pessoais, como manter a justiça à distância, onde está acusado de crimes graves de corrupção e branqueamento, ou os seus ministros extremistas, como Bem Gvir, da Segurança Nacional, ou das Finanças, Bezalel Smotrich, que defendem às claras a destruição de Gaza e o extermínio do povo palestiniano.

O que, como nota a ONU, é o que está a acontecer com o bloqueio férreo à entrada de ajuda humanitária em Gaza, apenas flexibilizado em determinados momentos em que a pressão internacional aperta, como quando o próprio Presidente dos EUA, Donald Trump, admitiu que há fome no território, contrariando Netanyhau, que insiste, de forma persistente, no contrário.