As televisões, rádios e jornais concentram agora as atenções na ajuda que começa a chegar à cidade da Beira, província de Sofala, onde a devastação e morte provocadas pela passagem do ciclo Idai, que atingiu ainda partes do Zimbabué e do Malawi, assumem maiores proporções, mas também aos muitos homens, mulheres e crianças que só agora conseguiram deixar os locais onde sobreviveram estes dias porque as águas começam lenta mas continuadamente a baixar.
E os relatos que estes trazem não são de modo a admitir que a contabilidade da tragédia possa ficar pelos mil mortos assumidos pelo Presidente Filipe Nyusi.
Canoas cheias de pessoas que se viraram à frente dos olhos destes sobreviventes, aldeias onde viviam centenas de pessoas que foram varridas pelas águas sem que se saiba onde estão esses habitantes, corpos contados às muitas dezenas por pessoas que caminharam horas até aos locais onde estão montados improvisados campos de acolhimento... são dados que vão chegando aos media e que deixam antever que o número de mortos possa ser muito mais volumoso.
Entretanto, também a ajuda internacional é cada vez maior e mais alargada, com toneladas de alimentos, medicamentos - Angola já enviou dezenas de toneladas para a região afectada, as últimas duas toneladas de medicamentos seguiram para Sofala no Sábado e já hoje seguiu mais um avião carregado com bens necessários aos sobreviventes-, mas também embarcações e helicópteros - dois aparelhos angolanos já estão naquele país do Índico - ou ainda equipas médicas, socorristas, técnicos de resposta a catástrofes naturais - com cerca de duas dezenas de especialistas angolanos - ou militares treinados para estas situações, etc.
Para já, os dados oficiais das autoridades moçambicanas apontam para 790 mil pessoas afectadas, que podem ser feridos, mortos, desalojados, em risco, em campos de acolhimento..., tendo o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) mantido o número de mortos, nas últimas horas, praticamente intocado, mas acrescentado mais 50% ao número de atingidos pela passagem do Idai.
O ministro da Terra e Ambiente, Celso Correia, tem tido o cuidado de sublinhar que atingidos pelo Idai não significa que sejam pessoas em risco de vida mas sim pessoas que de uma forma ou de outra viram as suas vidas alteradas, que podem ser feridos ou apenas pessoas com as suas casas afectadas com maior ou menor gravidade, ou estão em áreas isoladas a precisar de apoio.
Entretanto, sabe-se que os centros de acolhimento criados começam rapidamente a ser insuficientes, com mais de 130 mil pessoas entradas, sendo que destas pelo menos 7 mil são idosos ou grávidas em estado de especial vulnerabilidade.
Mas também aqui as notícias indicam que depois de chegar a estes centros, os problemas não terminam porque surgem relatos de casos de cólera ou outras doenças relacionadas com a falta de condições de salubridade, escassez de água e alimentos com qualidade...
Alias, as equipas que coordenam os trabalhos no terreno e a Organização Mundial de Saúde (OMS) admitem que, depois de socorridas as pessoas isoladas, e recolhidos os cadáveres, os esforços vão ter de ser concentrados no combate às eventuais epidemias, especialmente as diarreicas, como a cólera... cujos primeiros casos já começaram a surgir.
Angola na linha da frente da ajuda
A ministra da Saúde sublinhou hoje em Luanda, depois de ter estado na região mais afectada pelo Idai, que sobrevoou, que a situação é "bastante crítica" tendo observado um cenário de "grande destruição" permanecendo as imagens de horror que são as pessoas em cima de árvores e de frágeis telhados, com fome e com sede.
Essa a razão pela qual Angola se posicionou neste esforço internacional de "ajuda humanitária e de solidariedade" para "atenuar a situação crítica".
Para a cidade da Beira, apontou ainda Sílvia Lutucuta, seguiram os tais dois helicópteros com a missão de resgatar pessoas em situação de risco e ainda equipas igualmente helitransportadas com especializadas em situação de catástrofe, perfazendo já a centena de pessoas no terreno enviadas por Angola.
Angola tem desde sexta-feira, na cidade da Beira, uma "missão humanitária e de solidariedade" composta por cerca de 100 pessoas, entre técnicos do Ministério da Saúde e da Defesa, com tropas especiais, que se juntaram às equipas locais de salvamento.
Estas equipas e os meios colocados no tereno deverão permanecer em Moçambique por cerca de um mês mas este prazo poderá ser prolongado se se revelar necessário e "até que as condições mínima estejam asseguradas".
EUA iniciam ajuda
Depois de algumas críticas devido à ausência de uma resposta dos EUA, que dispõem no continente um forte contingente e meios militares do seu Comando Africano, o AfriCom, o Presidente Donald Trump ordenou que essa ajuda fosse prestada de imediato.
Para isso, Washington enviou para o tereno uma equipa para avaliar as necessidades e em que melhor medida a ajuda norte-americana poderá ser fornecida.
Moçambique tinha feito um pedido formal de ajuda à comunidade internacional há três dias.
O apoio do AfriCom , está disponível "sempre que as suas capacidades únicas possam ser utilizadas na resposta do Governo norte-americano", explica o comando militar dos EUA em África num comunicado divulgado hoje.