Provavelmente esta foi a última época das chuvas em que a velha igreja do Cabo, construída pelos portugueses no século XVI, foi inundada... e tudo porque o padre Daniel Malamba se lembrou de denunciar o problema nas redes sociais através de um vídeo que o próprio filmou, com a água a invadir o monumento.
Ainda hoje, esta que é uma das mais antigas igrejas existentes em Angola, serve os seus paroquianos, mas nos últimos seis anos com mais dificuldade sempre que chove, porque, como explicou o sacerdote ao Novo Jornal Online, foi erguido um muro nas imediações que desvia as águas da chuva para o interior do templo católico.
Face às perspectivas de ser rapidamente encontrada uma solução para este problema, o padre Daniel não podia estar mais satisfeito, como o próprio explicou ao Novo Jornal Online: "Estou bastante satisfeito com a repercussão que o vídeo teve na sociedade".
Isto, porque, continuou, "desde que postei o vídeo a mostrar o drama que vivemos, tenho recebido apoios e a visita de várias pessoas da sociedade angolana a mostrarem solidariedade e preocupações".
A afortunada decisão de realizar um vídeo surgiu de repente, como que por inspiração da Imaculada Conceição, a quem a igreja foi dedicada aquando da sua construção, em 1575, tendo passado a denominar-se Nossa Senhora do Cabo após a sua reconstrução, em 1669, a seguir à reconquista de Luanda aos holandeses, que por cá estiveram entre 1641 e 1648.
Foi assim, relatou o pároco: "Eu estava a celebrar a missa de quarta-feira quando começou a chover intensamente e, como já é costume sempre que chove, a igreja começou a ficar inundada e foi então que disse aos fiéis que ia fazer um vídeo e colocar na internet".
Vinte minutos depois, as imagens já estavam a circular na web, a navegar pelo mar digital e a chegarem a bom porto, como ficou explicito assim que surgiram as primeiras demonstrações de apoio e de incómodo pela situação que a mais antiga igreja de Luanda está a atravessar.
Do administrador da Ingombota à ministra da Cultura, todos se deslocaram à igreja da ilha de Luanda, arrastados pela enchente de likes e partilhas que o vídeo do padre Daniel atraiu.
O próprio explicou como foi ao Novo Jornal Online: "No dia seguinte à divulgação do vídeo, para o nosso espanto, recebemos a visita do senhor administrador da Ingombota, no mesmo dia, vieram outras pessoas do partido (MPLA), na sexta-feira, esteve cá o senhor Governador de Luanda, Adriano Mendes de Carvalho, no Sábado, após a chuva, esteve a senhora ministra da Cultura (Carolina Cerqueira), e todos mostraram a sua preocupação com nossa situação e prometeram ajudar".
Não foi milagre, mas a verdade é que do nada, na segunda-feira, minutos depois de começar a chover de novo, aconteceu que - conta ainda o pároco do Cabo - "apareceram camiões de uma empresa construtora com equipamento e pessoal para, num ápice, remover as águas".
O pároco da igreja da Nossa Senhora do Cabo espera que as promessas sejam cumpridas, tendo do entanto, respondido a uma pergunta do Novo Jornal Online nesse sentido com a sabedoria popular: "Isto é pão para hoje e fome para amanhã".
No entanto, admitiu que "agora há esperança" em ver resolvido um problema que já podia ter sido resolvido há seis anos se um muto erguido no local tivesse respeitado algumas regras simples de gestão urbana.
A imagem que os paroquianos do Cabo esperam ver nas próximas chuvas não é a de sacos de areia à porta da igreja para minimizar o efeito das enxurradas provocadas pela pluviosidade e que, ao mesmo tempo, deixam os fiéis também fora do templo.
O que o padre Daniel quer ver é as águas pluviais a escoar como deve de ser para condutas próprias em direcção ao mar, o mais breve possível.
E, já agora, os bancos da igreja e algumas madeiras substituídas porque as chuvas dos últimos anos deixaram quase tudo degradado ou mesmo inutilizável.
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