"Ele não era activista cívico, como muitos dizem, apenas teve espírito patriota e tomou a decisão de juntar-se àqueles que habitualmente lutam por essa causa, apesar de ter sido aconselhado pela família a não ir, por receio de que lhe acontecesse algo", disse Paula de Matos, irmã do jovem Inocêncio de Matos, licenciada em direito.
Ao aperceberem-se que o jovem não voltou a casa e estava com o telemóvel desligado, os familiares, preocupados, decidiram procurá-lo e terá sido numa das esquadras de polícia que a família foi aconselhada a ver o vídeo posto a circular na internet dando conta da suposta morte de um jovem na manifestação.
"O agente da polícia, da esquadra do "Ana-Ngola", disse-me que realmente houve alguns detidos da manifestação mas que já tinham ido embora", conta Paula de Matos.
"Mas que nós tínhamos de procurar ainda na "internet" para saber se de facto era ele ou não. Infelizmente, ao nos depararmos com o vídeo, era mesmo ele", lamentou a jovem, acrescentando que, de seguida, a família recebeu a informação de que Inocêncio tinha sido levado para o Hospital Américo Boavida, para onde se deslocaram, mas onde lhes foi negado acesso.
No dia seguinte, prossegue Paula de Matos, "por volta das 6:00, já no Américo Boavida", receberam a informação de que o jovem Inocêncio de Matos estava ao cuidado dos médicos na sala de cuidados intensivos, após ter saído do bloco operatório, e que a família podia vê-lo apenas às 8:00 da manhã.
"Na hora indicada, o meu pai (antigo combatente das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA), braço armado do MPLA na luta pela independência) entrou e recebeu a informação de que ele já estava morto e que morreu na quarta-feira às 16:00. De seguida, o médico levou o meu pai para identificar o corpo, isso por volta das 9:00, quando o meu pai se deparou com a realidade", contou.
No entanto, a família questiona-se como é possível que o corpo do jovem tenha ido parar à morgue às 9:00, quando, na verdade, foram informados às 8:00 que Inocêncio de Matos estava nos cuidados intensivos.
"Com que celeridade foi removido o corpo? É claro que ele morreu no dia anterior e isto está provado no relatório médico que temos, onde se lê que ele morreu às 16:00 do dia 11", disse a jovem, garantindo que o relatório médico será posto a circular nas redes sociais o mais breve possível pelos activistas que prestam ajuda à família, entre os quais se conta Laura Macedo.
Paula de Matos disse ainda ao Novo Jornal que a família aguarda os resultados da autópsia e que o funeral do jovem Inocêncio está marcado para a próxima segunda-feira, 16.
Inocêncio de Matos, de 26 anos, era o terceiro de sete filhos de Alfredo Miguel de Matos e Regina Alberto, e também o único rapaz, após a morte de um irmão seu no ano passado.
Natural da província do Uíge, solteiro, o jovem frequentava o 3.º ano do curso de engenharia informática da Universidade Agostinho Neto. Faleceu, segundo a versão oficial, no Hospital Américo Boavida, em Luanda, onde deu entrada após ter sofrido graves ferimentos na cabeça durante um confronto com a polícia na manifestação do dia 11 de Novembro. A primeira - e a última - em que participou.