Com o acordo alcançado em Viena entre a OPEP e os países fora da Organização de Países Exportadores de Petróleo, foi alcançado mais um recorde: depois de 15 anos de ausência de diálogo entre uns e outros, o barril de petróleo está hoje a bater máximos de Julho de 2015, nos 56,7 dólares norte-americanos.

Estes números são, no mínimo, um bálsamo para as contas públicas angolanas, que, como se sabe, são fortemente dependentes das exportações de petróleo e têm, segundo o Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2017, uma previsão média de venda do barril de 46 USD.

Mas há mais... e provavelmente melhor, pelo menos para os primeiros meses do ano que está a chegar: o acordo a que os países OPEP e não-OPEP chegaram na sede da organização, no Sábado, só vai começar a ser aplicado durante o mês de Janeiro, e de forma faseada, sendo de prever que o impacto no preço do barril sofra ainda mais impulsos para cima.

Nesta reunião de Viena de Áustria, para além dos 1,2 milhões de bpd com que a OPEP se comprometeu, mais cerca de 600 mil foram acorrentados ao acordo por países não-cartelizados, como a Rússia, que entra com 300 mil, e o México, que assegura um corte de 100 mil, sendo que outros pequenos exportadores também se sentiram impelidos a participar neste esforço.

Os perigos do "fracking"

Mas nem tudo são rosas para os países que exportam crude: ao virar da esquina está o perigo de esta subtracção de 1,8 milhões de bpd poder ser, pelo menos em parte, preenchida pelos produtores norte-americanos do chamado "fracking", que consiste na extracção de petróleo e gás da rocha de xisto a grande profundidade e que, com a queda do preço para a casa dos 20/30 USD por barril, se viram forçados a sair do mercado por não compensar ou porque faliram.

Os analistas admitem que, se os preços chegarem à casa dos 60/70 dólares, estes vão ser tentados, e muitos vão mesmo fazê-lo, a regressar à produção, o que pode diminuir o impacto dos cortes agora anunciados pelos produtores tradicionais.

Provavelmente atentos a esta realidade, os países do topo da lista dos maiores produtores, como o "top 1" Arábia Saudita, já admitiram que a OPEP pode ir ainda mais longe nos cortes.

"Posso dizer com absoluta certeza que a partir de 1 de Janeiro vamos cortar e cortar substancialmente para ficarmos abaixo do nível com que nos comprometemos a 30 de Novembro," disse Khalid Al-Falih, ministro saudita da Energia.

O que está em causa, numa explicação simples, é que a consistência desta subida no preço do barril só será real se produzirem de forma clara um défice de crude nos mercados, por forma a que a lei da oferta e da procura consolide o crescendo nos preços.

Para além do risco que representam os produtores do "shale", ou "fracking", esta estratégia dos países OPEP e não-OPEP enfrenta ainda outra eventual contrariedade: a economia global.

Isto, porque se a procura não se mantiver nos níveis actuais, o que só pode advir de uma diminuição da pujança da economia global, o "défice" de oferta por esbater-se ou mesmo desaparecer.

Neste cenário, as atenções estão colocadas na China, cuja dimensão tem um impacto directo global, mas que tem dado alguns sinais que impõem cuidados na análise, como, por exemplo, a previsível mudança de agulha de uma economia sustentada pelo sector das exportações para uma realidade onde o consumo interno se impõe nos números de crescimento do gigante asiático.

Isto, porque o sector exportador é bastante mais consumidor de petróleo que o consumo interno, podendo acontecer que a China continue a crescer economicamente mas a diminuir as importações de petróleo.