Milhares de estudantes foram detidos pela polícia na madrugada de quarta-feira para hoje, quinta-feira, 02, quando várias unidades da polícia, fortemente equipadas e com recurso a granadas atordoantes e disparos de balas de borracha, irromperam pelos campus universitários.
Apesar destas duas importantes universidades, Columbia e UCLA, terem sido "limpas" a tiro de balas de borracha e granadas atordoantes (som estridente), com milhares de agentes da polícia, que usaram ainda gás lacrimogéneo, os protestos corem agora por fora, para as ruas das cidades.
A dimensão destes protestos faz lembrar apenas situações vividas na décadas de 1970, quando o universo estudantil e académico ocupou a linha da frente dos protestos antiguerra, e depois durante os protestos em Wall Street, pelo movimento "Occupy Wall Street", em 2011, que exigia medidas radicais para acabar com os abusos capitalistas.
No entanto, apesar de alguma violência policial, com alguns feridos por impacto de balas de borracha, não há registo de feridos com gravidade nem sequer hospitalizações, como chegou a suceder nas situações acima citadas.
No entanto, a relevância destes protestos pode ser igualmente forte, porque tende a impactar fortemente a campanha eleitoral nos EUA, onde o democrata Presidente Joe Biden, trava a luta política da sua vida para vencer o republicano Donald Trump.
E, para já, numa primeira análise, a maioria dos analistas considera que se trata de uma vaga de manifestações estudantis, que vai para além das universidades da elite norte-americana, que põe em causa a estratégia eleitoral democrata que, tradicionalmente, colhe as preferências do universo académico.
E com uma margem tão curta entre as duas candidaturas, com ligeira vantagem nas sondagens para o ex-Presidente Trump, este momento pode ser altamente stressante para as aspirações de BIden, até porque coincide com mais um claro falhanço da sua diplomacia para a guerra em Gaza.
Isto, porque o secretário de Estado, Antony Blinken, voltou ao Médio Oriente para a sua 7ª tentativa de acalmar os ânimos e, para já, voltou a falhar rotundamente, com um "bónus" que pode ter consequências para o prestígio dos EUA na região.
Bónus esse que foi o facto de Blinken ter ouvido da boca do primeiro-ministro israelita que com ou sem acordo de cessar-fogo, não haverá travão na incursão militar israelita na cidade de Rafah, onde estão 1.5 milhões de refugiados de Gaza em busca de segurança, oriundos do norte e centro do território invadido e ocupado pelas Forças de Defesa de Israel (IDF).
E as coisas tendem a ser cada vez mais difíceis para Biden e Blinken, porque em Israel, o primeiro-ministro Benjamin Netanyhau está obrigado a não corresponder aos seus pedidos para acabar com a guerra, porque o seu futuro político, e até a sua liberdade, depende de se manter no cargo e só o conseguirá se mantiver a guerra a correr.
Isto, porque, ao mesmo tempo que a guerra surgiu quando Netanyhau enfrentava sérias acusações de peculato e corrupção em tribunal, as ruas se enchiam diariamente de milhares de opositores ao seu Governo, tendo a guerra criado uma protecção para estes perigos que enfrentava.
Além disso, o seu ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, líder dos ultra-radicais do Partido Religioso Sionista, já disse que se Netanyhau assinar um acordo de cessar-fogo que leve ao fim da incursão militar, abandona o Governo, o que levará imediatamente à sua queda e a novas eleições.
Entre a espada da pressão norte-americana, face às exigências eleitorais do candidato e Presidente Joe Biden, e a parede, que é o iminente risco de queda do seu Governo, Benjamin Netanyhau está a tentar a quadratura do círculo, que é dizer que assina o acordo de cessar-fogo mas não desiste da invasão da cidade de Rafah...
O que vai fazer Netanyhau? Como vai proceder Joe Biden? Para já, essas respostas não existem, mas adivinha-se que em Washington se esteja a começar a pensar no uso do derradeiro trunfo, que seria cortar o financiamento e o fornecimento de armas a Israel.
E em Israel, o primeiro-ministro pode estar à beira de um acto desesperado, que seria ameaçar os seus aliados no Governo mais radicais com eleições, que seria uma quase certa vitória da oposição de esquerda de Yair Lapid, que já está no terreno um passo à frente, a discutir com os vizinhos árabes do Médio Oriente o futuro de Gaza no pós-conflito.
Para já, o Hamas tem estado a rejeitar assinar um acordo de cessar-fogo enquanto este não garantir o fim das hostilidades israelitas e a retiradas das tropas invasoras de Gaza, assim como o regresso das populações às suas terras, de onde saíram às centenas de milhar após o 07 de Outubro.
Entretanto, como está noticiar a Al Jazeera, em Gaza continuam a morrer diariamente dezenas de pessoas em persistentes bombardeamentos israelitas, que não cessaram de intensidade apesar das negociações que decorrem no Cairo, Egipto,
O Hamas, segundo a CNN, considera ainda Blinken como um negociador comprometido com os interesses de Israel, o que pode ser um entrave ao sucesso das conversações, embora Israel não abdique do papel deste no processo.
Entretanto, enquanto se prolonga este turbilhão, em Gaza já morreram mais de 34 mil pessoas, na sua maioria crianças e mulheres, mais de 80% do toral, além de 90 mil feridos, com igual proporção de mulheres e crianças entre estes.
E se o assalto a Rafah, uma cidade no sul do território, junto à fronteira com o Egipto, que tinha antes desta fase da guerra perto de 200 mil pessoas, conta agora com mais de 1,5 milhões, com uma densidade populacional que permite garantir que nesse caso morreriam mais uns milhares de inocentes.
Nestes quase sete meses de invasão israelita a Gaza, iniciada após o assalto do Hamas ao sul de Israel, onde morreram mais de 1200 pessoas, Israel, o mais sofisticado e poderoso exército do Médio Oriente, não conseguiu nenhum dos objectivos traçados por Netanyhau.
O primeiro-ministro israelita disse que queria exterminar de vez o Hamas, libertar todos os reféns levados pelo Hamas para Gaza a 07 de Outubro, e fazer deste território uma zona segura para Israel, especialmente por causa dos roquetes dali disparados contra as localidades israelitas...
Nada disso foi até agora conseguido, apesar da tragédia lançada sobre o território, uma extensão de terra com 365 kms2, 40 kms de extensão por nove de largura, com, actualmente, 80% dos seus edifícios destruídos, incluindo 32 dos seus 36 hospitais, com a fome e as doenças a equipararem-se já aos bombardeamentos nas causas de morte mais relevantes.