Depois de terem lançado panfletos sobre a população de Rafah, quase todos famílias que ali chegaram nos sete meses de invasão israelita de Gaza, fugindo dos bombardeamentos das IDF, para que fugissem para campos de tendas criados em Khan Younis, as tropas de Telavive avançaram em força.
Primeiro, fecharam a zona de fronteira com o Egipto, nas imediações da cidade, e depois a aviação israelita, os F-35, os mais sofisticados aviões de guerra do mundo, bombardeou massivamente a zona sul da urbe, de onde mais de 100 mil pessoas fugiram apressadamente (ver links em baixo nesta página).
Este ataque, que Benjamin Netanyhau considera fundamental para acabar com o Hamas, apesar de sete meses de guerra protagonizada pelos mais poderoso Exército do Médio Oriente, não o ter conseguido, surge no meio das mais promissoras negociações de um cessar-fogo.
Com efeito, o Hamas, que mantém, inesperadamente, a capacidade de infligir ataques contra as IDF, inclusive lançar roquetes sobre Israel a partir do norte do território, que já estaria limpo pelas IDF, tinha, na segunda-feira, 06, anunciado que aceitaria os termos da proposta de acordo dos mediadores Egipto e Catar.
Apesar de ser natural que a proposta dos dois países árabes não consubstancie todos os requisitos de Israel, esta seria a que mais se aproximava disso até agora, como o demonstra o envio de uma delegação ao Cairo para conversações com base nessa mesma proposta.
E mesmo assim, Netanyhau, estando para isso também a ser pressionado pelos seus aliados ocidentais, EUA e Reino Unido em especial, não se coibiu de dar a ordem para avançar em Rafh, onde as ONG"s internacionais esperam que ocorram centenas de mortes nos próximos dias.
Isto, porque esta cidade estava dimensionada para pouco mais de 200 mil habitantes antes desta fase aguda do conflito que opõe palestinianos e israelitas há dezenas de anos, e, devido à imposição das IDF, para ali ocorreram mais de 1,3 milhões de pessoas em busca de refúgio oriundas do norte e centro do território.
Com esta densidade populacional, qualquer explosão de artilharia, como sublinham analistas militares, pode, por defeito, fazer dezenas de mortos, como, de resto tem sucedido a ponto de em pouco mais de sete meses já terem morrido mais de 34 mil pessoas, na sua maioria mulheres e crianças (mais de 14 mil), além de 90 mil feridos.(ver links em baixo nesta página)
A Faixa de Gaza é um pequeno território, o único na Palestina que os israelitas não controlavam, com 365 kms2, em pouco mais de 40 kms de extensão por nove de largura, onde 2,3 milhões de pessoas lutavam por sobreviver antes de 07 de Outubro.
Além dos efeitos dos ataques israelitas, a população civil de Gaza sofre agora de doenças e fome generalizada devido aos bloqueios no acesso da ajuda alimentar mínima, como alimentos, medicamentos e combustíveis.
Israel invadiu Gaza após o ataque do Hamas e da Jihad Islâmica de 07 de Outubro do ano passado, apanhando de surpresa as forças israelitas, tendo esse assalto ao sul do país deixado um rasto de morte com mais de mil pessoas mortas, na maioria militares surpreendidos nos quartéis.
A operação israelita, desenhada, com total insucesso até agora, para aniquilar o Hamas, libertar os reféns levados para Gaza pelo Hamas e fazer do território uma área segura para Israel acabar com os roquetes), levou a uma vaga global jamais vista de críticas a Israel.
Para reduzir o impacto desta fase, ainda mais melindrosa sobre Rafah, devido ao risco de milhares de mortes, o Governo israelita procurou calar a Al Jazeera em Israel porque este canal de televisão do Catar tem sido o mais eficaz veículo das imagens com as atrocidades israelitas para o exterior.
O que coincide com a decisão do júri dos Prémios Pulitzer em atribuir uma menção especial ao "trabalho corajoso" dos jornalistas palestinianos que cobriram a guerra na Faixa de Gaza desde 07 de Outubro, bem como aos seus colegas mortos durante o conflito.
Netanyhau entre a espada e a parede
Porque insiste Netanyhau? Alguns analistas, como o major-general Agostinho Costa, que comenta na RTP3 e na CNN Portugal, Benjamin Netanyhau está preso nas suas circunstâncias.
Por um lado, está ameaçado pelos partidos radicais que integram a sua aliança de Governo, que dizem deitar abaixo o Executivo se a guerra acabar sem os objectivos todos alcançados, por outro, Netanyhau sabe que assim que o conflito terminar, voltará a ter de enfrentar a justiça, onde estava a ser julgado por sérias suspeitas de corrupção e peculato e branqueamento de capitais.
E ainda porque, assim que terminar a invasão israelita de Gaza, o seu Governo vai ter de explicar como é que as mais famosas, e efectivamente das mais poderosas do mundo, unidades de intelligentsia, a Mossad, (externa), o Shin Bet (interno) e a AMAN (militar), além da parafernália tecnológica que vigia a fronteira, não deram conta de que um grupo de mais de mil combatentes do Hamas e da Jihad Islâmica estavam a preparar o assalto a Israel de 07 de Outubro.
Contexto que acolhe com coerência trágica o facto de Israel ter negado o acesso das Nações Unidas ao ponto de passagem de Rafah, na Faixa de Gaza, como denunciou o Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU (OCHA), o que permite adivinhar como intenção fechar os olhos do mundo ao que ali se passa e vai passar.
A condenação desta postura agressiva de Israel é praticamente global. (ver links em baixo nesta página)