Benjamin Netanyhau, em declarações ao podcast "Call me Back" do norte-americano Dan Senor, procurou aliviar a pressão gerada pelo surpreendente anúncio esta terça-feira, 21, do procurador internacional do TPI, o britânico Karim Khan, de que tinha proposto um mandado de captura contra si.
Nessa entrevista, o chefe do Governo israelita, que está também a ser julgado por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), da ONU, por proposta da África do Sul, afirmou que os 35 mil mortos somados pelas autoridades de saúde de Gaza e pela ONU estão "inflacionados".
Em vez de 35.500 mortos civis, entre estes quase 15 mil crianças, com mulheres e idosos a somarem perto de 15 mil, Netanyhau entende que são "apenas" 30 mil e entre estes estão 13 mil combatentes do Hamas.
Para diluir a pressão internacional e também interna, os seus aliados mais fieis, como o Presidente dos EUA, Joe Biden, e o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, vieram a público recusar a ideia de que em Gaza está em curso um genocídio, embora sem o efeito desejado porque Washington e Londres já não surpreendem com a sua postura de apoio incondicional a Israel.
É também para se defender do momento mais frágil de Israel no panorama internacional de sempre, onde, além das acusações de genocídio no TIJ e de crimes contra a humanidade no TPI, que Netanyhau está agora a procurar diluir o efeito do gigantesco número de civis mortos em Gaza em sete meses da sua invasão do território.
Isto afecta ainda mais o primeiro-ministro israelita, e o seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, que também está sob mandado de captura do TPI (ambos na foto), bem como três dos mais destacados líderes do Hamas, quando é inevitável comparar os 35 mil civis mortos em Gaza confirmados pelas Nações Unidas em sete meses de conflito com os cerca de 10 mil nos mais de três anos de guerra na Ucrânia.
E ainda com o facto de, por exemplo, o mandado de captura emitido igualmente pelo TPI contra o Presidente russo, Vladimir Putin, em Março de 2023, por crimes de guerra, também, estar assente principalmente no transporte "forçado" de crianças ucranianas para a Rússia, alegando Moscovo em sua defesa que isso foi feito para as proteger do conflito.
Curiosamente, nas declarações defensivas de Netanyhau, este faz ainda um exercício que é pouco abonatório da sua posição, porque alega e sua defesa que as Forças de Defesa de Israel (IDF) foram capazes de manter um rácio de mortes de um para um entre civis e "terroristas" do Hamas.
Com este esforço, o chefe de Governo de Israel pretende ainda conseguir o que nunca aconteceu, que é o colectivo de juízes do TPI bloquear a proposta de mandados de captura internacionais do procurador-chefe deste órgão de justiça global, o que é uma impossibilidade efectiva se se tiver em consideração o histórico neste tipo de decisões.
Mas não é apenas fora de portas que se aperta o cerco a Benjamin Netanyhau, tamém internamente está a perder terreno a cada diz que passa, ou porque os pequenos partidos extremistas religiosos e radicais ideologicamente, ameaçam demitir-se se ele travar a operação militar em Gaza, os moderados exigem-lhe um plano para Gaza no pós-conflito e as ruas voltaram a encher-se de manifestantes que exigem a sua demissão como sucedia antes de 07 de Outubro do ano passado, dia do assalto do Hamas ao sul de Israel.
O esforço para manter o poder é ainda justificado pelo facto de que assim que cair, terá de voltar ao tribunal, enfrentando acusaões de corrupção e branqueamento de capitais, e, naquilo que é o mais sério problema que deverá enfrentar, terá de explicar todas as falhas das agências de segurança que não anteciparam o ataque do Hamas.
E isto é de grande melindre em Israel porque fragilizou de forma trágica aquelas que eram (são?) as organizações de intelligentsia entre as mais prestigiadas do mundo, como a Mossad (operações externas), Shin Bet (secreta interna) e AMAN (secreta militar).
Os dois Estados
Neste momento de fragilidade diplomática e política em Israel, Netanyhau tem ainda pela frente o crescente número de países ocidentais que pugnam pela criação e reconhecimento do Estado da Palestina, como, de resto, está previsto pelos Acordos de Oslo (1993/95) intermediados pelos EUA, e é conhecida como a "solução uma Palestina, dois Estados" que, agora, Washington recusa sempre que a proposta volta ao Conselho de Segurança da ONU.
E nas últimas horas, três países europeus voltaram a insistir nesse caminho, a Espanha, a Noruega e a Irlanda - vão reconhecer o Estado da Palestina a 28 de Maio -, o que levou o Governo israelita a retirar momentaneamente os seus embaixadores, para já apenas da Irlanda e da Noruega.
O ministro israelita dos Negócios Estrangeiros, Israel Katz, justificou a medida com uma "inaceitável ingerência externa na soberania de Israel" colocando "em perigo a segurança nacional", acusando estes países de estarem a "premiar terroristas".
O primeiro-ministro espanhol Pedro Sanchez, depois de insistir, no Parlamento em Madrid, que só a solução dos dois Estados é viável, acusa mesmo Netanyhau de estar a "usar a fome e o terror para punir mais de um milhão de crianças" alinhando na ideia do TPI de que se trata de crimes de guerra..
"E não há já dúvidas de que o primeiro-ministro israelita não tem nem ideia de um plano de paz para a Palestina" procurando através do terror e da destruição impossibilitar a solução dos dois Estados, exigindo ao mundo que não actue com ambiguidade na abordagem ao que se passa em Gaza e na Ucrânia, o que é uma clara indirecta para EUA, Reino Unido e Alemanha, entre outros.