Numa altura em que a Administração de Joe Biden está sob fogo cruzado da opinião pública e a pressão das eleições de 05 de Novembro, a revelação de que os israelitas usam bombas norte-americanas para chacinar palestinianos, pode ser um problema sério.
Mas a curiosidade mais estranha é que há décadas que se sabe que a esmagadora maior parte do equipamento militar, armamento e munições usados pelas Forças de Defesa de Israel (IDF) é fornecido pelos EUA, o que deveria retirar drama a esta investigação do NYT e da CNN, realizada a partir da análise aos restos das munições encontradas no local.
Só que a realidade é que essa mesma revelação está a causar um enorme mal-estar na Casa Branca e a adensar a pressão sobre Joe Biden para travar a fúria genocida do Governo de Benjamin Netanyhau, como, alias, os dois grandes tribunais internacionais acusam.
Recorde-se que o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), das Nações Unidas, está a acusar os governantes israelitas de genocídio e o Tribunal Penal Internacional (TPI), criado pelo Estatuto de Roma para julgar atrocidades contra a Humanidade em 2000, emitiu mandatos de captura contra Netanyhau e o seu ministro da Defesa, Yoav Gallant além dos chefes do Hamas.
Depois de meses de apoio ilimitado a Israel, que, na verdade continua, os EUA têm vindo a reforçar a retórica de cansaço com a atitude israelita de ignorar as advertências da comunidade internacional para travar a mortandade entre vivis de Gaza, que já passou os 36 mil, na esmagadora maioria crianças e mulheres.
E agora, aquilo que deveria ser uma não notícia, porque os EUA são, desde sempre, os maiores fornecedores de armas a Israel, está a ser visto por analistas como uma estratégia concertada com a Casa Branca para justificar uma reviravolta na posição norte-americana face ao conflito genocida de Gaza.
Isso, porque, no cenário mais provável, porque os democratas de Joe Biden terão estudos de opinião que apontam para um insustentável dano que aquela guerra está a provocar nas suas aspirações eleitorais de renovar o mandato por mais 4 anos.
E isso é visível no crescendo dos protestos populares antiguerra, nas manifestações de milhares de estudantes por todo o país, na forma como o Presidente Biden e o seu chefe da diplomacia, Antony Blinken são alvos de protesto de activistas nas suas acções de campanha...
E agora, depois de no Domingo terem sido mortas quase 50 pessoas num conjunto de tendas em Rafah, cidade do sul de Gaza onde as IDF desencadearam uma operação de larga escala, que levou a um protesto de dezenas de organizações e países, com o cerco a apertar sobre Telavive e sobre a Administração Biden, terá chegado o momento de dar um murro na mesa.
E sem o amparo dos Estados Unidos, seja no fluxo contínuo de armas e dinheiro, seja no apoio diplomático, especialmente no Conselho de Segurança, onde, entre outros exemplos, os EUA vetaram, mais uma vez, a recente proposta de avançar para a solução "Dois Estados", Israel dificilmente terá espaço de manobra para manter a decorrer impunemente a sua guerra injusta e, segundo o TIJ e o TPI, criminosa e genocida (ver links em baixo), contra o povo palestiniano.
Para fazer reverberar ainda mais a selvajaria dos ataques contra civis, menos de 24 horas depois do massacre de quase 50 pessoas em Rafah, não muito longe dali, um novo bombardeamento israelita ceifou a vida a mais 21 pessoas, de novo na maioria mulheres e crianças.
Depois de Benjamin Netannyahu ter admitido que se tratou de um "erro técnico trágico", o porta-voz das IDF veio acrescentar que o fogo que deflagrou nesse campo de tendas foi exponenciado pela explosão de engenhos que se encontravam ali escondidos pelo Hamas.
E que o ataque das IDF tinha como alvo dois importantes comandantes do Hamas que se encontravam a 1 km do acampamento.
E para complexificar este já de si agreste contexto, a Al Jazeera está a avançar esta quarta-feira, 29, que, apesar de oficialmente Egipto e Israel estarem em paz, a verdade é que, por detrás dos panos, estes dois países travam uma feroz "guerra" de influência diplomática regional.
O que se agravou depois de o Cairo ter despoletado um empenhado processo de pressão internacional para travar a ofensiva israelita em Rafah, a cidade mais a sul de Gaza e quase em cima da fronteira com o Egipto.
Isso, porque esta operação das IDF que está a gerar fortes críticas internacionais, pode desestabilizar a região fronteiriça, onde tanto egípcios como israelitas disputam uma geografia que se mantem com alguma indefinição e ali mantém um contingente militar em permanente alerta.
Até porque no passado estes dois países já estiveram em guerra por diversas vezes, a última das quais em 1973, que ficou conhecida pela "Guerra dos Seis Dias".