A frente contra Israel por causa dos abusos de força contra a população civil e inocente em Gaza, onde já morreram mais de 35 mil pessoas, na maioria crianças e mulheres, está igualmente a alagar-se na frente social.
Desde as manifestações contra a participação israelita no Festival de Musica da Eurovisão, que enfureceu o primeiro-ministro israelita, passando pela universidades dos EUA e na Europa ocidental às manifestações globais, incluindo nas ruas de Israel, contra o Governo de Benjamin Netanyhau, o "mapa" anti-Israel está a expandir diariamente.
Alias, no caso aberto pela África do Sul no TIJ, ao Egipto juntou-se ainda a Turquia e a Colômbia, abrindo uma frente que deve crescer no futuro breve, porque o processo, depois de os juízes terem admitido indícios de prática genocida, vai continuar já nas próximas semanas, embora deva durar anos até haver uma eventual sentença.
Em causa está, como o TIJ sublinhou, ao invectivar Telavive para travar as decisões que confirmam a acusação da prática de genocídio em Gaza, a Convenção sobre Genocídio, que Israel está a violar de forma grave, como se pode ler na acusação elaborada por Pretória.
As falhas inauditas a 07 de Outubro
Desde que Israel lançou a sua operação em Gaza, a 08 de Outubro, depois do assalto do Hamas ao sul de Israel, a 07 desse mês, deixando um rasto de morte, mais de mil mortos, na maioria militares apanhados de surpresa, que existe um elefante na sala: como foi possível?!
Como foi possível as várias agência de segurança israelita, que dispensam apresentações, terem, ao mesmo tempo, falhado na detecção dos planos do Hamas, que foram elaborados durante meses, e não deram conta da entrada de milhares de combatentes na fronteira de Gaza com Israel.
Em causa, nem mais nem menos, está a Mossad, a intelligentsia israelita para o exterior, vista como insuperável no mundo, a AMAN, a secreta militar, igualmente no top mundial, e o Shin Bet, a agência que vela para segurança interna, com igual prestígio global.
Desde os primeiros dias que várias teses foram levantadas e nenhuma delas contestada pelo Governo do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyhau, desde um "complot" para justificar o ataque a Gaza, até a um ardil interno visando o próprio chefe do Governo de Telavive.
Mas, até agora, a condução da guerra levou a que essas suspeitas não fossem investigadas, e pouco ou nada faladas nos media israelitas, com excepção de alguns casos esporádicos, como no Haaretz, o mais incómodo e independente no país, tal como levou a uma redução substantiva dos protestos de rua anti-governamentais.
Mas estes já voltaram, com relativa força, embora longe da intensidade pré-invasão de Gaza, exigindo agora que os processos de corrupção e peculato que corriam contra Netanuhau sejam retomados rapidamente.
Todavia, como se pode revisitar aqui, o primeiro sinal sério de que o tema da "cegueira" das agências secretas israelitas está a aquecer foi com a demissão do líder da AMAN, general Aharon Haliva, que admitiu que era obrigação da "sua" agência ter sabido dos planos do Hamas.
E o assunto ganha agora nova tracção, provavelmente até mais séria, com o anúncio por parte do líder do Shin Bet, Ronan Bar, que está a ser noticiado pelo Haaretz, de que vai ser aberto um processo investigatório sobre o falhanço na antecipação do 07 de Outubro.
Ainda segundo o centenário jornal israelita, Bar disse que se trata de uma investigação profunda às inacreditáveis falhas dos Serviços Gerais de Segurança de Israel, compostos pela Mossad, Shin Bet e AMAN.
Vai mesmo, segundo Ronan Bar, ser uma "investigação dolorosa e significativa" que, com esta antevisão, dificilmente deixará de expor os responsáveis pelas falhas que ninguém acredita que possam ter outra justificação que não seja uma "cabala" interna, faltando apenas perceber que objectivos perseguia e que alvos visava.
IDF avançam sobre Rafah
Entretanto, contra tudo e contra todos (ver links em baixo nesta página), Benjamin Netanyhau insiste no lançamento das operação sobre a cidade de Rafah, a última cidade relevante, pela sua dimensão, do sul de Gaza, junto à fronteira com o Egipto, e onde estão refugiados mais de 1,4 milhões de pessoas.
O melindre desta operação, e que levou todos os aliados de Israel a pedirem a Netanyhau para travar as Forças de Defesa de Israel (IDF), é simples de perceber: com tal concentração de civis na cidade, qualquer acção militar resultará em inúmeras mortes.
Gaza já é uma das geografias mais densamente habitadas do planeta, com mais de 2,3 milhões de pessoas em 365 kms2, numa faixa com apenas 40 kms por nove de largura, mas em Rafah, até este "aperto" parece uma largueza, depois de as IDF terem para ali empurrado mais de 1,3 milhões de pessoas a partir do centro e norte do território.
Esta urbe tinha pouco mais de 180 mil pessoas até 2017, último censo conhecido, contando agora com perto de 1,4 milhões... o resultado trágico de uma investida das IDF é fácil de prever...
No entanto, mesmo com o Presidente dos EUA, Joe Biden, a ameaçar com o corte no fornecimento de armas, porque isso lhe é conveniente em tempo de campanha eleitoral, face ao crescendo de protestos civis, especialmente nas universidades, Benjamin Netanyhau garante que não vai travar a operação sobre Rafah.
As pessoas, na esmagadora maioria mulheres e crianças, estão agora a ser "convidadas" a sair de Rafah para campos de tendas montadas em Khan Younis, porque as IDF vão mesmo avançar, independentemente, como afirmou Netanyhau, havendo ou não um acordo de cessar-fogo.
Esta evidente incongruência tem uma explicação simples: o primeiro-ministro israelita está dependente dos pequenos partidos radicais ortodoxos, que já o ameaçaram com a demissão da coligação governamental, deitando assim abaixo o executivo, se a operação Gaza for travada.
E isso Benjamin Netanyhau não pode deixar suceder, porque assim que deixar o cargo de primeiro-ministro terá de viltar a sentar-se no banco dos réus porque a acusação e o julgamento por corrupção e peculato não caiu, foi apenas suspenso devido à guerra...