E quando o mercado recebe sem contar mais petróleo que o esperado, o preço do barril cai, o que, neste caso, será certo e seguro porque o Irão, cujo potencial de produção diária é de cerca de 4 mbpd, pode representar mais, pelo menos, 1 mbpd.
E se o mercado receber mais 1 mbpd, quando o consumo está a encolher devido ao efeito devastador do vendaval de tarifas do Presidente Donald Trump, que deixou os mercados à beira de um ataque de fúria nas últimas semanas, o barril voltará a cair... seguramente.
Para já, o barril de Brent, referência principal para as ramas exportadas por Angola, está a perder mais de 2,5%, para os 66,05 USD, quando são 11:30, hora de Luanda, depois de no fecho da semana passada ter feito um relevante recuperação do afundanço tarifário de Trump.
Mas a ameaça mantém-se e o acentuar do vermelho nos mercados deve ser o normal nas próximas horas ou mesmo dias, especialmente porque os analistas estão agora a voltar a temer um efeito de remoinho das tarifas norte-americanas.
Esse remoinho tarifário, apesar do alívio sobre a electrónica chinesa e a suspensão de 90 dias sobre o resto do mundo, pode manter-se devido à desconfiança dos mercados na sensatez do Presidente norte-americano.
Isso, especialmente depois de Trump ter feito duras críticas à "sua" Reserva Federal 'porque o seu presidente, Jerone Powell, recusou baixar as taxas de juro como ele pretendia, ameaçando mesmo demiti-lo, o que gerou nova vaga de incerteza para a economia norte-americana.
Além disso, Trump disparou novas sanções sobre refinarias chinesas devido às suas ligações a alegadas importações que contornam as sanções ao Irão.
Não é tudo. Além da possibilidade de o Irão injectar mais 1 mbpd nos mercados, ou mais, se chegar a um acordo com Washington - uma alternativa não é melhor, um eventual ataque israelo-americano ao programa nuclear iraniano -, a OPEP+ não desmarcou ainda a escala de Maio para o aumento da produção.
Depois de em Abril o cartel, que junta a OPEP e a Rússia, entre outros, ter retomado parcialmente a sua produção, com mais 138 mil bpd, para Maio o calendário prevê mais 411 mil bpd, o que é difícil de explicar considerando que a economia mundial está à beira do caos.
E os sinais sobre o que se espera das grandes economias, como as dos EUA e da China, não são os melhores, como o reporta a Reuters, que divulgou uma peça feita a partir da auscultação de vários investidores, onde se salienta a expectativa de uma fragilização da economia norte-americana.
Além disso, os mesmos investidores entendem que existe um risco sério de uma recessão nos EUA nos próximos 12 meses, o que teria um efeito devastador nos mercados sendo os EUA o maior consumidor do mundo.
Os oráculos sobre a China são igualmente negativos por causa das tarifas, sendo o efeito igualmente pesado visto que o gigante asiático é o segundo maior consumidor do mundo e o maior importador da matéria-prima planetário... de longe.
Como Luanda olha para este cenário global?
O actual cenário internacional, que não era tão dramático há anos, desde a pandemia da Covid 19, tende a manter os preços ainda longe do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD.
Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.
Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo, que pode ser obrigado em breve a avançar para uma revisão do OGE.
O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.