Durante a manhã, depois de conhecida a aprovação no Parlamento da nova tabela de impostos, milhares de pessoas, na sua esmagadora maioria jovens, ultrapassaram as barreiras policiais e entraram no espaço do Parlamento, relatam os media locais.

A secção do Parlamento incendiada não é a parte principal do edifício mas sim secções laterais, incluindo a cafetaria e a logística, mas o fumo era visível a largos quilómetros de distância.

Para conter os protestos, a polícia, na ordem dos milhares nas ruas, usou canhões de água, granadas de gás lacrimogéneo e, nas situações de maior aperto, alvejou os manifestantes com balas de borracha, disparando ao mesmo tempo tiros de fogo real.

Os media no local reportam a existência de vítimas mas sem a confirmação de mortos, sendo o número de feridos elevado.

A proposta inicialmente apresentada pelo Governo do Presidente William Ruto, depois de na semana passada terem sido realizadas grandes manifestações de protesto, foi revista e algumas das taxas, como a que incidia sobre o pão, foram mesmo anuladas.

Mas isso não foi suficiente para os milhares largos de jovens quenianos, que compõem a maior parte da população do país, sendo cerca de 70% menor de 35 anos, porque os actuais níveis de desemprego, de inflação e de corrupção já não se tapam com remendos, dizem os lideres das manifestações.

Outra razão para os protestos são os elevados salários que auferem os deputados e governantes no Quénia, como sublinha um jornalista da Al Jazeera, superiores ao que ganham os deputados em países europeus ou o Japão, estando a exigir que a tamanhas regalias correspondam soluções para resolver os problemas do povo.

Na semana passada pelo menos duas pessoas foram mortas nos confrontos com a polícia, e, segundo relatos de hoje, as organizações civis temem que tenham igualmente morrido pessoas nos confrontos com a polícia que a Reuters e a Associated Press garantem ter usado balas reais.

Segundo os jornalistas da Al Jazeera em Nairobi, estes protestos não têm liderança política como se verificou noutras alturas, sendo claramente espontâneos e motivados por se ter chegado ao limite do suportável para milhões de quenianos.

Depois de debelada a invasão do Parlamento, a polícia colocou milhares de agentes em redor do edifício, criando várias camadas de defesa para proteger os deputados e os governantes.

Nas explicações dadas pelo Presidente Ruto, na semana passada, este aumento das taxas é justificado com a necessidade de garantir que o país consegue viver de acordo com as suas possibilidades e não através de continuado endividamento, que coloca em risco a sustentabilidade económica do Quénia.

Entre os impostos que mais fúria geraram foi o aumento de 16% no pão e 25% no óleo alimentar, mas também nos seguros e sobre a propriedade de automóveis, tendo sido realizados ajustes a estas propostas ou anuladas simplesmente, como foi o caso do pão.

Só que esses ajustes não chegaram, porque o Governo atacou outro sector de interesse geral, taxando vigorosamente aparelhos electrónicos, como telemóveis, televisões, computadores e aparelhos de som... onde as alterações foram consideradas escassas.

Sem alterações ficaram as novas taxas sobre a saúde e na construção de hospitais, o que faz recear um acrescento nas dificuldades dos quenianos no acesso a tratamentos que exigem internamento ou são mais complexos...

Os porta-vozes ad hoc dos manifestantes, citados pelas agências internacionais, garantem que as manifestações vão continuar até que o Governo encontre soluções e se mostre disponível para negociar de forma aberta e sem armadilhas.