O ano de 1991 torna-se, pois, o marco histórico de viragem da dança no nosso país, a partir do qual novas linguagens, novas estéticas e novas abordagens vêm inovar e agitar o então cenário conservador e de entretenimento a que esta linguagem artística estava circunscrita.
Eram caminhos novos, propostas diferentes e interventivas quer social quer politicamente. Os espectáculos aconteciam em palcos convencionais (no tempo em que ainda havia dois teatros em Luanda) e, pela primeira vez, também em espaços alternativos e em riscos de extinção, num apelo à importância dos mesmos, ao mesmo tempo que a dança se aproximava do público, das suas preocupações, das suas lutas e dos seus sonhos. As peças Corpusnágua (1992); Solidão (1992); 1 Morto & os Vivos (1992), 5 Estátuas para Masongi (1993) Introversão versus Extroversão (1995) ou Ogros... da Oratura... e do Fantástico (2008), marcam essa deslocação da dança para fora dos teatros, bem como as parcerias com alguns dos maiores nomes da literatura e das artes plásticas angolanas, entre os quais Manuel Rui Monteiro, Artur Pestana Pepetela, Frederico Ningi, Carlos Ferreira, Jorge Gumbe, Mário Tendinha, Francisco Van-Dúnem Van, Masongi Afonso, Zan de Andrade e António Ole.
O lugar histórico desta companhia angolana passa também pelo facto de ser uma das primeiras do género fundadas no território africano e aí desenvolverem o seu trabalho. Foi pela mão da CDC Angola que, pela primeira vez, Angola vê acontecer espectáculos de dança em regime de temporadas e com bailarinos profissionais.
Em 2009 a CDC Angola torna-se uma companhia de dança inclusiva num país com milhares de portadores de deficiência e onde a diferença ainda é marginalizada.?Na memória de milhares de espectadores ficaram as obras criadas a partir da investigação nas várias regiões de Angola, no âmbito da pesquisa e experimentação, para a revitalização da cultura de raiz tradicional, entre as quais A Propósito de Lweji (1991), Uma frase qualquer... e outras (frases) (1997), Peças para uma sombra iniciada e outros rituais mais ou menos (2009) e Paisagens Propícias (2012/13), Mpemba Nyi Mukundu (2014) e (Des)construção (2017).
Mas a marca desta companhia é a utilização da dança como meio de intervenção social como revelado nas peças Mea Culpa (1992); Imagem & Movimento (1993), Palmas, por Favor! (1994); Neste País... (1995), Agora não dá! "Tou a Bumbar... (1998), Os Quadros do Verso Vetusto (1999), O Homem que chorava sumo de tomates (2011), Solos para um Dó Maior (2014), Ceci n"est pas une porte (2016), O monstro está em cena (2018) e Mysterium Cuniunctionis (2019).
Hoje, 29 anos depois, a Associação da Companhia de Dança Contemporânea de Angola, continua com a mesma determinação com que começou e venceu as adversidades passadas, numa renovação permanente e procura de novos desafios.?Com uma proposta pedagógica e artística, baseada em profundo trabalho de investigação quer a nível das danças patrimoniais angolanas, quer a nível das nossas dinâmicas sociais, a CDC Angola projectou Angola no contexto da dança teatral universal, onde marca a diferença pelo investimento intelectual, pela originalidade das suas criações e pela qualidade técnica e estética do seu trabalho.
Com dezenas de obras originais criadas desde a sua fundação, a CDC Angola apresentou mais de uma centena de espectáculos e marcou a sua internacionalização apresentando-se em 36 cidades de16 países em todo o mundo.?Apesar de ser a única a desenvolver um trabalho profissional contínuo e de ser a histórica embaixadora da dança contemporânea angolana, a CDC Angola só venceu o Prémio Nacional de Cultura e Artes em 2017.