A corporação já reagiu através de uma nota de imprensa na qual admite ter recebido a cidadã e ter instaurado "o competente processo" contra o agente em causa. Também informa que o agente se encontra detido para "posteriores trâmites legais". Existe pronunciamento da Polícia Nacional é oportuno e necessário, principalmente quando se tem assistido a um despreparo, a uma falta de sensibilidade da maior parte das instituições para lidar com casos de violência sexual de mulheres e de menores nas esquadras e prisões. O paradoxo em tudo isso está ali onde o cidadão deve ser acolhido e protegido, ali onde se deve garantir o direito à vida, à integridade física e psicológica, ali onde o cidadão deve sentir segurança, é onde acaba por ser abusada e aqueles que têm a missão de proteger os cidadãos acabam por ser aqueles que abusam desses mesmos cidadãos em situação de vulnerabilidade.

Uma mulher é violada por um agente da Polícia Nacional numa esquadra, um estudante de 15 anos é agredido por colegas numa instituição de ensino, um órgão de comunicação é encerrado pelos serviços de investigação, mas o País segue como se nada tivesse acontecido. As pessoas não reagem e não se indignam publicamente, porque não querem chocar e também porque não podem violar certo código de silêncio instituído. É que em Angola a indignação também segue certas agendas partidárias ou interesses de grupos. O caso da jovem que alegadamente terá sido violada na esquadra do Zango não "provoca" debates mediáticos sobre a violência sexual nas esquadras e nas unidades prisionais, não "aquece" nem "arrefece" o Ministério da Família e Promoção da Mulher, organizações femininas de partidos e organizações da sociedade civil. Anda tudo e todos a gerir o silêncio. Basta que, por exemplo, o Presidente da República, a Primeira-Dama da República, a Vice-Presidente da República ou a vice-presidente do MPLA surjam em público a repudiar esta acção, e, por arrasto, irá então surgir a indignação generalizada. Infelizmente, parece que tem de ser sempre assim e que se vive numa total indiferença perante certas práticas nefastas e nocivas.

Existe certa propensão para a banalização do mal, em que já se vão criando narrativas para o assassínio de carácter da jovem mulher nas redes sociais e até com exposição de fotografias, acabando por se tentar ir para o caminho da chacota e da ridicularização para um assunto que deve merecer atenção de todos. Esse é um assunto que não deve ser negligenciado, ignorado e banalizado, porque é uma situação que acontece todos os dias. A violência sexual contra mulheres e menores em esquadras e/ou estabelecimentos prisionais é uma situação que permanece intramuros, é um tabu, e existem grandes resistências e barreiras na abordagem dos assuntos. Tudo porque quem devia proteger é quem acaba usando a sua posição e autoridade para abusar. Existem nas esquadras e prisões procedimentos interrogatórios e de revista íntima que causam uma perturbadora sensação de humilhação e violência contra as mulheres. Outra situação relevante é o risco que estas mulheres correm de serem contaminadas com doenças sexualmente transmissíveis e os danos psicológicos que carregam para toda uma vida. Mas, infelizmente, a sociedade prefere olhar para o lado, e esses casos vão acontecendo todos os dias, quase ninguém reage e quase ninguém se indigna. É o País que temos.