Em silenciocracia, o P mais importante não é o de Pátria, patriotismo, profissionalismo, é o de Poder sempre e cada vez mais absoluto, com o controle da informação como parte da estratégia política, visando a domesticação e adormecimento da sociedade.

Em silenciocracia, os meios de comunicação social públicos são sequestrados e usados para chacotear, atacar, perseguir e caluniar activistas, oposição política e todos aqueles que não alinhem pelo diapasão dos silenciadores, dentro e fora do país.

Esses media transmitem apenas a narrativa autorizada pelo detentor do Poder, anulando pensamento, opiniões diferentes e classificando, tal como os silenciocratas, de falta de patriotismo e inimigos da Pátria ao serviço de interesses estrangeiros, quem pensa diferente.

Para crescer e prosperar, a silenciocracia elege o acéfalo e fanático que defende a sua narrativa e o seu regime como cidadão exemplar.

A falta de debate e de crítica conduz à atrofia da sociedade que passa a viver permanentemente com o "Perigo de uma História Única", na expressão de Chimamanda Ngozi Adichie, intelectual nigeriana diaspórica.

Se o regime democrático é por excelência o da palavra, da prestação de contas, do escrutínio e da negociação, em silenciocracia a opacidade é regra, assim como a mordaça aos opositores, críticos, activistas e comunicadores para com isso fazer afirmar o pensamento único e vender a ideia de país e de regime das mil maravilhas.

Para os silenciocratas, o povo, "rebanho de ovelhas cujo pastor é o «nosso» Deus-Presidente", segundo o jornalista Graça Campos, só serve para legitimar, com a sua ida às urnas, o simulacro de democracia.

Em democracia, a vitória ou derrota políticas dependem do desempenho dos actores políticos em relação às necessidades da sociedade, enquanto que em silenciocracia, o dono do poder não admite menos que uma vitória robusta e, para tal, vale tudo, absolutamente tudo, até aniquilar fisicamente opositores.

Enquanto em democracia os órgãos de gestão e administração eleitorais são constituídos por gente independente e idónea da sociedade civil, sem ligação aos contendores políticos, em silenciocracia a escolha recai, invariavelmente, sobre quem tem provas dadas da sua inquestionável ligação ao partido silenciocrata.

Em democracia os juízes são independentes, a polícia e o exército são apartidários, mas em silenciocracia só são nomeados os juízes afectos ao partido do Poder e a polícia e o exército servem para ajudar a perpetuar o regime.

Em democracia, um massacre de seis ou 26 cidadãos (não importa o número) suscita a imediata e inequívoca condenação de toda a classe política, a começar pela liderança, que tenta confortar as famílias das vítimas, enviando condolências e exigindo uma investigação séria.

Os massacradores ou suspeitos de cometerem ignóbil acto são suspensos até à conclusão das investigações e punição exemplar dos prevaricadores. Já em silenciocracia, os criminosos são protegidos, agraciados pela sua destreza na defesa do regime, os dados são deturpados e os mortos são responsabilizados pelo seu próprio assassinato.

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