O sector da Saúde, que é habitualmente alvo de muitas críticas em Angola, sobretudo em Luanda, onde os próprios médicos alertam para a falta de materiais e de condições nos hospitais públicos, tem sido reforçado nos últimos dois anos com a autorização, pelo Presidente da República, para a construção e/ou reabilitação de vários hospitais quer na capital do País, quer em províncias como o Bengo, Cunene, Uíge ou Benguela.
O Américo Boavida, o segundo maior hospital de Luanda, esteve no epicentro de um vendaval de críticas em Maio, quando surgiram várias imagens e vídeos na internet que mostravam a unidade de saúde a rebentar pelas costuras, com gente deitada no chão a aguardar vez nas urgências, situação que levou a ministra Sílvia Lutucuta a mudar a direcção da instituição, substituindo Agostinho José Matamba pelo cardiologista Mário Fernandes (ler aqui).
O Complexo Hospitalar General Pedro Maria Tonha "Pedalé" também foi alvo de muita polémica, depois de, em Janeiro de 2020, o Novo Jornal avançar que o Chefe de Estado tinha assinado um decreto em que criava e aprovava o seu estatuto orgânico onde se lia que a unidade hospitalar seria de "assistência e apoio técnico ao Presidente da República e aos principais dirigentes do Estado" (ler aqui).
Uns dias depois, a 15 de Fevereiro de 2020, numa visita às obras da unidade hospitalar, João Lourenço afirmava aos jornalistas que aquele não era um hospital apenas para a classe política nacional e que tudo não passava de "mera especulação" (ler aqui).
Este complexo que está a ser construído de raiz, e que, recordamos, foi adjudicado por ajuste directo à sociedade anónima TPF - Consultores de Engenharia e Arquitectura por 128,1 milhões de dólares, segundo um decreto presidencial de Janeiro de 2019, inclui um centro de treinos, heliporto e um edifício de apartamentos e hotel.
O edifício principal do complexo desenvolve-se em três pisos com uma área total de construção de 29.062 m2, onde estão incluídas as áreas técnicas exteriores. É um super-hospital, que vai, segundo está escrito no papel, organizado por dois andares: No piso -1, com cerca de 5050 m2, ficarão instaladas as áreas técnicas (depósitos de água, central térmica e central de gases), os serviços de apoio ao funcionamento do hospital (vestiários, armazéns, farmácia hospitalar, cozinha, lavandaria, esterilização, morgue e armazenamento de resíduos hospitalares), os serviços clínicos (área de Radioterapia - com duas salas de tratamentos, uma sala de braquiterapia e um simulador), e a área de medicina nuclear (sala de PET, sala de Gama-câmara e um micro-ciclotrão para a produção de radio-fármacos).
No piso 0, com cerca de 7940 m2, as áreas funcionais e de serviços incluem recepção e cafetaria para o público, e entradas diferenciadas para urgências e consultas externas a funcionar em 36 gabinetes de consulta e 16 salas de exame;
O piso 0 dispõe também de salas de exame de imagiologia (Ressonância Magnética, TAC, Raio-X, Ecografia, Mamografia e Angiografia), de Hospital de Dia Oncológico, de serviço de urgências (com separação entre urgência de adultos (7 gabinetes) e urgência Pediátrica (4 gabinetes); de uma área de medicina física e reabilitação, que engloba um ginásio e uma sala de tratamentos de hidroterapia com tanque de marcha.
O mesmo piso contará também com uma área laboratorial (com zona de colheitas, banco de sangue com 3 três postos para colheita de dadores, laboratório de patologia clínica e anatomia patológica) e de um refeitório.
Na área adjacente ao edifício principal, segundo a TPF - Consultores de Engenharia e Arquitectura, estão situados dois edifícios destinados à farmácia de venda ao público e ao centro de hemodiálise.
No piso 1, com cerca de 7916 m2, vão funcionar cinco blocos operatórios, um dos quais destinado a cirurgia robótica (recurso ao robot cirúrgico Da Vinci), uma Unidade de Cuidados Intensivos com 16 camas, um posto de enfermagem e sala de trabalho, uma Unidade de Cuidados Intermédios com 16 camas, duas salas de partos, zona de preparação e recobro, e ainda uma zona de internamento com 74 quartos, todos com luz natural, com várias tipologias: individuais, duplos, triplos, VIP e de isolamento, totalizando 111 camas.
A conclusão das obras Complexo Hospitalar General Pedro Maria Tonha "Pedalé" estava prevista para Maio de 2021, mas, na última visita feita pelo Novo Jornal, no passado mês de Julho, deu para perceber que pelo andamento das obras o complexo dificilmente será terminado até ao final deste ano.
E por falar em obras e novos hospitais, é importante referir igualmente que o Presidente da República autorizou, em Julho, a construção do Hospital Universitário da Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto, uma unidade de saúde que vai custar 90 milhões de dólares aos cofres de Estado e que deverá "garantir a formação graduada e pós-graduada diferenciada dos profissionais de saúde nas mais variadas vertentes" (ler aqui).
Este hospital será construído pela empresa Promed Internacional AG, que tem no seu portefólio a Luanda Medical Center (LMC), e, pelas várias pesquisas do Novo Jornal, todos os caminhos vão dar ao grupo Mitrelli, e depois levam ao grupo Menomadin do empresário israelita Haim Taib, dono do LMC.
Este mês, o Presidente já deu também autorização para a abertura do procedimento de contratação simplificada pelo critério material (ajuste directo) para a adjudicação do contrato de empreitada de concepção, construção, formação do pessoal e apetrechamento do novo Hospital Militar de Luanda, no valor global 90 milhões de dólares norte-americanos (ler aqui).
Esta nova infraestrutura, que, de acordo com os dados avançados pelo Presidente no seu discurso sobre o estado da Nação, vai ter 200 camas, junta-se ao Hospital Militar Principal de Luanda/Instituto Superior para o qual foi aberta uma linha de crédito junto do Banco de Fomento Angola no montante de 63,2 mil milhões de Kwanzas (98,1 milhões de dólares norte-americanos), e cuja requalificação "já está em curso, com 320 camas" (ler aqui).
Segundo o Presidente "esta capacidade hospitalar a instalar vai certamente contribuir para a melhoria da assistência médica e medicamentosa dos efectivos dos órgãos de defesa e segurança do nosso País".
De referir que num despacho presidencial anterior, datado de Julho deste ano, João Lourenço autrorizou um ajuste directo que entregou a empreitada, no valor de 119,9 milhões de dólares norte-americanos, à Omatapalo.