Afastou Isabel dos Santos da Sonangol - a exoneração mais comentada a nível nacional e internacional -, bem como outros filhos do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, sobrando apenas José Filomeno "Zenú", que se mantém à frente do Fundo Soberano de Angola.
E para os cidadãos, que impacto tiveram estes 100 dias e as medidas protagonizadas por João Lourenço? O Novo Jornal Online foi à rua saber a opinião de quem festejou a vitória de JLO, a 23 de Agosto, e também de quem viu na sua eleição uma continuidade da política de José Eduardo dos Santos.
Walter Ferreira, da Plataforma Juvenil para a Cidadania (PJC), dá nota positiva a João Lourenço, "por conseguir interpretar os problemas da sociedade" uma qualidade que, diz, "tem a ver com o seu carácter", afirmando que "o PR trouxe uma política de inclusão".
"Os seus primeiros 100 dias de governação foram de exonerações e de nomeações, fiquei particularmente espantando com a exoneração do general "Zé Maria", que saiu de uma área estratégica do Estado. Para mim foi a mais visível".
Mas o mérito principal do PR, diz Walter Ferreira, "está no facto dele interpretar o sentimento da sociedade e trazer uma abordagem que vai ao encontro dos anseios dos angolanos. Houve sectores que estavam muito manchados e asfixiavam a cidadania, como é o caso do GRECIMA, mas hoje nós temos uma comunicação social mais actuante e aberta, o que no passado era difícil vermos".
Agora, Walter diz esperar que "depois deste 100 dias, o Presidente entre na fase de implementação dos programas".
Ousadia é a palavra que Augusto Báfua Báfua, especialista em Relações Internacionais, usou para descrever os primeiros 100 dias do PR.
"E não esteve com meias medidas para corrigir o que está mal. Primeiro arrumou o seu gabinete, o seu Executivo, a administração do Estado e as empresas públicas. Acredito que antes de Janeiro terminar ele fará também a arrumação na diplomacia", declara.
O especialista em Relações Internacionais elogia a "coragem e grande determinação ao mexer na chefia militar sem esperar por uma fiscalização sucessiva da lei aprovada".
"Ele foi directo na exoneração e posterior nomeação. Foi pragmático ao exonerar o general António José Maria "Zé Maria", do cargo de chefe do Serviço de Inteligência e Segurança Militar (SISM), e Ambrósio de Lemos do comando geral da Polícia Nacional (PN)", diz.
Augusto Báfua Báfua afirma mesmo que "desde a campanha eleitoral até aos dias de hoje, JLO não se desviou um milímetro daquilo que foi a sua campanha eleitoral, em que falou das mudanças que iria fazer a nível nacional".
"Muitas pessoas do seu próprio partido, pessoas que comungaram com ele durante acompanha eleitoral ficaram também admiradas, falo do general Kopelipa, que esteve à frente da campanha toda e, para o nosso espanto, foi prontamente exonerado", afirma, acrescentando que ficou surpreendido "com a exoneração de Luís Gomes Sambo do cargo de Ministro da Saúde, cargo em que estava há menos de um ano".
Mas algumas nomeações "foram pela negativa", opina Augusto Báfua Báfua, dando como exemplo os casos do governador provincial do Cunene, Kundi Paihama, "que já carece de reforma", e do ex-governador do Moxico, João Ernesto dos Santos "Liberdade", que foi agora indicado para ministro dos antigos combatentes, "que também pensávamos que fosse repousar, e o Presidente assim não entendeu, mas que, acredito, se não tiver resultados, ele vai mexer outra vez".
Já o jurista Harismag Gil diz não ter sentido ainda "mudanças no país", mas afirma ter aprovado "algumas nomeações que fez no aparelho do Estado"
"Falo da nomeação de Ângela Bragança, no sector da hotelaria e do turismo, Hélder Fernando Pitta Gróz, na Procuradoria-Geral da República (PGR), e de Ricardo de Abreu, para o cargo de secretário para os Assuntos Económicos do Presidente da República. Para mim foram uma boa escolha do Presidente João Lourenço", esclarece.
Neto Agostinho, funcionário da Sonangol há 22 anos, diz sentir "muito orgulho do presidente JLO" a quem reconhece "muita coragem".
"O novo Executivo está no bom caminho, gostei de ver a exoneração da Isabel dos Santos na Sonangol. Ela era muito autoritária e não estávamos a gostar, acredito se ela ficasse mais tempo haveria de estragar a empresa", revela.
"Gostei de ver nomeado Carlos Saturnino como Presidente do Conselho de Administração, pois ele é um homem de casa", remata.
Victor Filomeno, funcionário público, de 43 anos, tem "muita esperança em JLO".
"Ele está a criar motivação nas pessoas e a dar sinais de rompimento com muitas más práticas que existiam no passado".
"Quem passa pela rua", diz Victor Filomeno, "vê pessoas a conversar que estão a gostar da governação. Até as pessoas mais criticas à anterior governação hoje já falam forma diferente".
"Gostei de ver a exoneração da Isabel do Santos na Sonangol e outros ministros que se sentiam intocáveis e endeusavam o ex-Presidente. Na verdade, as coisas estavam mal e era altura de se rever tais práticas", conclui.