O segundo golpe pode estar já em preparação em Angola, quando entrarem em operação as três refinarias em construção no país, em Cabinda, no Soyo (Zaire) e no Lobito (Benguela), que vão juntar, aos 650 mil barris por dia da Refinaria Dangote, na Nigéria, mais cerca de 360 mil, sendo a do Lobito a maior, com 200 mil a trabalhar no máximo.
Com os dois maiores produtores africanos a erguerem capacidade interna para refinar o seu próprio crude, libertando-se da dependência das importações, que, no caso angolano representa perto de 2 mil milhões USD por ano, e no nigeriano era superior a 7 mil milhões USD, embora estes valores tenham variado ao longo dos anos, os analistas esperam uma substancial redução no volume das importações continentais de refinados.
A Refinaria Dangote é uma machadada no gigantesco negócio, e um dos mais inexplicáveis estrangulamentos económicos do continente africano, onde a produção de petróleo era, e ainda é, quase toda exportada em bruto para depois esses países se abastecerem de refinados europeus produzidos com a matéria-prima importada de África, somando avultados ganhos de permeio.
Alex Kimani, economista e especialista no sector, em análise publicada no site OilPrice, refere isso mesmo, quando descreve a situação prevalecente na Nigéria antes da entrada em funcionamento da Refinaria Dangote, que custou mais de 20 mil milhões USD, com capacidade para processar 650 mil barris/dia, substancialmente mais que qualquer refinaria na Europa.
É a primeira vez em décadas que, graças ao investimento de Aliki Dangote, o maior produtor de petróleo africano refina o seu próprio crude que é vendido à NNPC, a petrolífera estatal, cortando assim o enorme desgaste nas reservas cambiais no negócio da importação de refinados, porque o Estado nigeriano adquire agora estes produtos na moeda nacional, a Naira.
Mas Kimani sublinha que um elemento fulcral deste momento relevante para a Nigéria é que, tal como vai suceder com Angola, assim que as novas refinarias, que vão acompanhar a velha refinaria de Luanda entrarem em funcionamento, haverá excedentes para libertar para os países vizinhos, que terão todo o interesse em fazê-lo regionalmente devido à diminuição dos custos inerentes à proximidade geográfica.
E isto não é feito sem consequências, porque o corte do fluxo de refinados europeus para a Nigéria desmonta um negócio de proporções gigantes, mais de 7 mil milhões USD, cerca de 600 milhões/mês, a que se irão somar, quando os projectos de Cabinda, Soyo e Lobito estiverem em plena laboração, os cerca de 2 mil milhões de Angola, que tem igualmente na Europa o seu principal fornecedor de refinados...
Ora, o negócio anual africano de importação de refinados abrange cerca de 17 mil milhões USD, o que significa que só com a Nigéria e Angola, directamente, os europeus perdem metade do chorudo negócio e, indirectamente, mais porque esses ganhos para África, no conjunto, e para Angola e Nigéria, podem ser ainda mais volumosos devido às exportações para os vizinhos, como, de resto, está já a ser planeado no que diz respeito a Angola, com um previsto oleoduto de 5 mil milhões USD para a Zâmbia.
O corte umbilical entre o gigantesco mercado nigeriano, mais de 200 milhões de habitantes, e os fornecedores europeus está mesmo, segundo os sites da especialidade, a criar impacto negativo acentuado nos mercados de capitais, sendo isso mesmo sublinhado pela OPEP, porque a Refinaria Dangote permitiu a supressão total das importações nigerianas de refinados europeus.
A Voice of Nigeria (VoN), a emissora estatal nigeriana, destaca com regozijo uma notícia sobre o report da OPEP onde é feito um sublinhado especial ao facto de a Refinaria Dangote ter libertado o país da dependência das importações de refinados.
Além disso, a VoN aponta ainda para o impacto que esse momento teve na redução das reservas de moeda estrangeira e no papel que terá futuramente na aquisição de divisas com as vendas de refinados nigerianos dentro de África.
Esta reviravolta está, segundo a OPEP, vai obrigar os refinadores europeus, com gigantesca capacidade instalada para fornecer mercados ultramarinos, a encontrarem destinos alternativos para os seus produtos, não sendo do seu interesse ver o florescimento da capacidade própria em África, como é o caso de Angola, de onde partirá o próximo "golpe".
Com a entrada em funcionamento da Refinaria Dangote, segundo especialistas citados nos media do sector, ficaram claras as vantagens para os países produtores de petróleo terem a sua própria capacidade de refinação instalada.
Isso, porque não apenas corta o fluxo em sentido contrário das reservas cambiais, que são escassas na maior parte dos casos devido à dependência do sector petrolífero e à frágil diversificação económica, como ainda acrescenta fonte de receitas em moeda estrangeira.
Alguns analistas admitem mesmo que Aliki Dangote pode ter começado um processo revolucionário no continente africano, libertando e mostrando como se libertam países da dependência dos países mais desenvolvidos do Hemisfério Norte, podendo esses ganhos ser desviados para recuperar os históricos atrasos em infra-estruturas na saúde, na educação...
Resta agora saber se o exemplo será seguido noutras geografias e se os interesses "sectoriais" não se sobreporão, como se sabe que historicamente tem sido comum em África, aos interesses dos Estados.