O gráfico do Brent, em Londres, que mostra o sobe e desce do valor médio das exportações angolanas, colocava o barril, perto das 09:00 de hoje, acima, pela primeira vez em muitos dias, dos 60 USD, nos 60.24 dólares.

Esta subida inesperada resulta da incerteza que mais um ataque às "artérias" vitais do mercado petrolífero mundial, como é o caso do Médio Oriente, embora o Mar Vermelho, que separa a costa africana da península arábica, onde decorreu o ataque, junta à cidade saudita de Jeddah, não tenha a importância estratégica do Gofo Pérsico.

Todavia, este episódio, devido ao petroleiro envolvido, porque pertence à frota iraniana, coloque a tensão novamente ao rubro pela incerteza que envolve.

Este ataque surge cerca de 4 semanas após os graves ataques à maior refinaria do mundo, Abqaiq, na Arábia Saudita, e a um dos seus importantes campos petrolíferos, nos Khurais, que os sauditas atribuíram ao Irão, tal como os EUA, mas que foi prontamente reivindicado pelos rebeles Houthis, do Iémen, que são apoiados por Teerão contra o regime local, por sua vez apoiado por Riade.

Não sendo, sublinhe-se, o primeiro ataque a petroleiros, visto que nos últimos meses foram atacados dois petroleiros com pavilhão saudita, no Golfo Pérsico, tendo igualmente surgido suspeitas de que o Irão possa ter estado na sua origem, embora o Governo de Teerão tenha efusivamente recusado a autoria de tais ataques.

Naturalmente que o impacto imediato no valor do barril de crude surge do facto de não se saber a dimensão das forças por detrás de mais esta prova à estabilidade da região, visto que toda a área do Golfo Pérsico é responsável pelo trânsito de mais de 20 por cento de todo o petróleo consumido no mundo.

O Mar Vermelho, sendo que a área geográfica onde ocorreu este ataque tem de um lado a costa saudita e do outro o Sudão e o Egipto, sendo uma região até há alguns anos severamente sujeita a ataques piratas.

Por outro lado, o Irão está sob severas sanções norte-americanas que impedem este país de exportar aquase totalidade da sua produção de petróleo, embora se trate de um dos maiores produtores mundiais, o 4º maior em volume da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP), tendo os EUA prometido perseguir os petroleiros com que Teerão tem procurado contornar a malha apetada da vigilância da marinha dos Estados Unidos, que têm na região dezenas de navios de guerra, aeronaves e milhares de militares.

A hipótese de se tratar de um acto terrorista, perpetrado por grupos de radicais que não se tenham apercebido da nacionalidade do navio é apontada pelos media estatais iranianos, como a agência ISNA, que informou ainda que não existe risco de afundar nem houve vítimas entre a tripulação.

A Arábia Saudita não se pronunciou e a possibilidade de ter sido este país a desferir o ataque em represália pelos ataques de 14 de Setembro a Abqaiq não está a ser equacionada.

Mas, segundo especialistas citados pelos media internacionais, o petroleiro estava totalmente carregado com mais de 1 milhão de barris de crude e tinha como destino a Síria, o que perfaz um conjunto de elementos totalmente contrários ao que as sanções norte-americanas pretendem impedir: a venda de crude iraniano e a compra de petróleo por parte do regime sírio de Basahr al Assad, que os EUA pretendem derrubar.

Alias, segundo o The Guardian, nos últimos seis meses pelo menos três petroleiros iranianos foram incapacitados de navegar nestas águas e os Estados Unidos da América dispõem na região mais que suficientes meios para inviabilizar a navegação de navios iranianos.

Os dois países, Irão e EUA tê mantido uma permanente tensão desde que o Presidente Donald Trump decidiu unilateralmente abandonar o acordo nuclear com o Irão, assinado em 2015, juntamento com a Rússia, a China e países europeus - União Europeia -, fazendo regressar as sanções económicas sobre Teerão.

Este recrudescimento da crise levou, entre outros episódios , ao abate de um drone americano pelas forças iranianas sobre o Gofo Pérsico, e a ameaças de Washington de destruição do Irão que sempre disse não querer guerra com ninguém mas que está preparado para se defender e transformar o Médio Oriente num poço em chamas caso seja atacado.