Os países europeus, os EUA, o Brasil ou a Índia são exemplos de grandes economias vergadas pelo efeito da pandemia que vêem nas vacinas a solução para quase um ano de encolhimento, que se traduz num claro menor consumo de energia que leva a que o barril de crude se mantenha em valores comparativamente baixos em relação a 2019, ainda antes de o novo coronavírus ter emergido como ameaça global a partir de Fevereiro deste ano, cerca de dois meses depois de ter sido descoberto na China, de onde se espalhou por todo o mundo.

Neste momento de forte expectativa por causa das vacina e de que a mais grave pandemia em quase um século possa finalmente ser debelada, mas com os efeitos nocivos sobre as economias ainda muito visíveis, a OPEP+, organismo que junta os Países Exportadores (OPEP) e um grupo de 10 não-alinhados liderados pela Rússia, tem mantido as rédeas apertadas sobre a oferta com cortes na produção de 7,7 milhões de barris por dia (mbpd) para impedir quebras ainda mais volumosas nos preços.

Nas últimas reuniões dos comités técnico e ministerial da OPEP+ ficou definido que o "carte" vai manter este volume de cortes para além de 01 de Janeiro de 2021, quando o calendário existente previa que nessa data esta quantidade fosse reduzida para 5,7 mbpd, seguindo um plano prévio de redução dos factores de equilíbrio dos mercados na perspectiva de que a pandemia já estivesse em fase de diluição por esta altura. O que não se está a verificar, pelo contrário.

O programa de cortes da OPEP+ visa reequilibrar os mercados fortemente afectados pela pandemia que desde que surgiu tem feito recuar a procura e, por isso, empurrado os preços do barril para baixo, a ponto de em Abril deste ano ter alcançado valores negativos em Nova Iorque e preços historicamente reduzidos em Londres, tendo, depois, iniciado uma lenta recuperação, muito por causa das medidas do "cartel".

A não ser que as vacinas prometidas cheguem efectivamente a tempo de impedir o descalabro absoluto, com as maiores economias mundiais a enveredarem por confinamentos cada vez mais rígidos, como é o caso do espaço comum europeu, no Japão, e o que se espera que venha a ser a política do novo Presidente dos Estados Unidos da América, Joe Biden, de combate à pandemia, que a partir de 20 de Janeiro - data em que assumirá o cargo - será um contraste total com a actual política de Donald Trump, que é negacionista da gravidade da Covid-19, esperando-se fortes restrições e, consequentemente, uma maior dificuldade para o sector energético.

E é nesta espécie de terra de ninguém em relação à luta da humanidade contra a Covid-19, com o vírus a ganhar terreno de forma crescente e as vacinas quase, quase a chegarem para marcar o princípio da irradicação do novo coronavírus.

Mas os analistas, epidemiologistas e especialistas em logística têm insistido que esse processo, mesmo depois de o mundo poder contar efectivamente com as vacinas que estão agora nas fases mais adiantadas de produção, vai ser longo e exigente, estado mesmo em cima da mesa aquilo que já foi comparado com o gigantismo do esforço logístico da II Guerra Mundial, sendo necessário colocar em marcha uma carreira de distribuição de biliões de vacinas em largas milhares de aviões de diferentes portes, navios, camiões e veículos todo o terreno para chegar a alguns dos locais mais recônditos do planeta.

Para já, e enquanto este cenário não sofre alterações substanciais, a verdade dos números é esta: o barril de Brent, que determina o valor médio das exportações angolanas, estava hoje, cerca das 10:00 de Luanda, a valer 44,15 USD, mais 0,42% que no fecho de quarta-feira, enquanto no WTI de Nova Iorque estava, à mesma hora, e igualmente para contratos referentes a Dezembro, a valorizar 0,96%, para os 41,02 USD por barril.

Para Angola, estes valores, longe de serem suficientes para amaciar a crise grave que o País atravessa, são, ainda assim, um bom sinal, visto que o Executivo elaborou o OGE para 2021 com o valor de referência do barril nos 39 USD e a matéria-prima ainda é responsável por mais de 50% do Produto Interno Bruto nacional e mais de 95% do total das exportações nacionais.

Angola enfrenta ainda um outro e grave problema que é o lento mas continuado empobrecimento da sua produção em resultado de falta de investimento das "majors" a operar no seu offshore mas também do envelhecimento dos seus poços, muitos deles já exangues, enquanto tarda o investimento em novos furos rentáveis, apesar das políticas agressivas do Executivo nesse sentido.

Nos últimos 10 anos, sublinhe-se, a produção angolana tem vindo num coerente declínio, desde os vigorosos 1,8 mbpd de há pouco mais de uma década até aos actuais 1,28 mbpd, com apetência para diminuir ainda mais, como tem insistido a Agência Internacional de Energia (AIE), se não surgirem novidades no advir breve.