Em escassas horas, após as "insensatas" palavras de Novak, como consideraram alguns analistas, o barril de Brent, que é vendido em Londres e define o valor médio das exportações angolanas, tombou dos 63,10 USD para uns "escassos" 60,4 USD.

Esta perda contrariou o ciclo de subidas alimentado na passada semana por sinais claros de que no seio da OPEP+, designação para a organização ad hoc que junta a Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e um grupo de países não-membros do "cartel" liderados pela Rússia, existia uma vontade comum de avançar para novos cortes na produção.

Na verdade, aquilo que estava dado como "garantido" era que na OPEP+, liderada pelos dois gigantes da produção mundial, a Arábia Saudita e a Rússia, existia um acordo no sentido de prolongar os cortes em vigor desde Janeiro deste ano - de 1,2 milhões de barris por dia - para além de Março de 2020, como forma de contrariar o ciclo de fragilidade do sector gerado pela guerra comercial entre os EUA e a China, a grande fonte de pressão sobre a matéria-prima.

Hoje, aparentemente, tudo mudou, porque do Iraque veio a admissão de que os membros da OPEP+ estão a ultimar pormenores para não só prolongar os actuais cortes para além de Março do ano que vem, como existe a forte possibilidade de aprofundar esses mesmos cortes para mais 400 mil barris por dia, chegando aos 1.6 milhões de barris por dia (mbpd).

Se isso acontecer, o "cartel" pode estar a um pequeno passo de igualar os cortes definidos em Janeiro de 2017, quando os membros cortaram 1,8 mbpd da sua produção para retirar o barril de valores historicamente baixos, como foram os 29 dólares em Fevereiro de 2016.

O impulso no preço do barril em Londres surgido hoje, na abertura do mercado, foi dado, pelo menos em parte, pelas declarações ontem, Domingo, em Bagdade, do ministro do Petróleo iraquiano, Thamer Ghadhban, que, segundo a Reuters, afirmou que na reunião da OPEP de Viena, na próxima quinta-feira, e da OPEP+ na sexta-feira, vai ficar definido um novo aprofundamento nos cortes, de 400 mil bpd.

Mas, para além das declarações de Thamer Ghadhban, os mercados petrolíferos estão a reagir positivamente aos sinais vindos da economia chinesa, cuja indústria manufacturadora está a crescer, segundo dados referentes a Novembro, de forma substancial, com a consequente maior procura de petróleo para a alimentar.

A China, o maior importador de petróleo do mundo, tem estado no epicentro de uma crise económica global, a par dos Estados Unidos, por causa da guerra comercial que estes dois "tiranossauros" travam há quase dois anos, com forte impacto na perda de valor do petróleo, devido ao efeito borboleta que esta tem nas restantes economias mundiais, incluindo as pujantes economias europeias alemã e francesa.

A produção global da OPEP, segundo dados recolhidos pela Reuters, caiu em Novembro por causa de problemas com a infra-estrutura produtiva angolana, referida como estando em manutenção e alguns sectores com impacto na produção, e da Arábia Saudita, que tem consolidado os seus cortes como garante de controlo dos preços.

Por parte da Arábia Saudita, que é quem, de facto, lidera a OPEP, o ministro da Energia, Abdulaziz bin Salman, embora ainda não tenha proferido declarações sobre esta importante reunião em Viena, deixou o seu staff" fazer saber aos jornalistas que o maior exportador mundial de crude pretende "fazer uma surpresa".

Esta "surpresa" pode ser uma pressão de última hora para ir mais longe que os 400 m bpd de cortes já anunciados, o que pode suceder, como esta país já fez antes, através de uma decisão unilateral de baixar a produção para lá do acordado entre os pares na OPEP e na OPEP+.

Actualmente, segundo dados referentes à média de Novembro, a OPEP está a produzir 29,57 mbpd, menos 110 mil em relação à média de Outubro, embora os potenciais efeitos na procura estejam a ser mitigados pela crescente produção norte-americana, que já vai nos 12,46 mbpd, o que faz deste país o maior produtor mundial da actualidade, à frente da Rússia e da Arábia Saudita, que, embora sendo tradicionalmente os primeiros da lista, estão condicionados pelos acordos em vigor no seio da OPEP+.

Num cenário optimista, em conjunto com os cortes a acordar na próxima reunião de Viena, as negociações entre Pequim e Washington, que tem em Dezembro um período decisivo, chegam a bom porto, e o petróleo sobe em conformidade com esse cenário.

Num cenário pessimista - na perspectiva dos países produtores e economicamente dependentes do petróleo -, a OPEP+ não chega a acordo para novos cortes e as negociações entre os EUA e a China para desvitalizar a fricção comercial que existe, voltam a estancar, e aí o crude dificilmente resistirá a novo tombo.