"Chegou o tempo de os medíocres desaparecerem de cena para que possa reinar a paz e a justiça" na RDC (República Democrática do Congo), disse o cardeal Monsengwo, quando reagia em conferência de imprensa à brutalidade policial exercida sobre fiéis católicos no dia 31 de Dezembro, muitos deles ainda dentro das igrejas, dia em que ocorreu uma marcha para exigir o abandono do poder do actual Chefe de Estado, Joseph Kabila.

O cardeal Monsengwo, a mais alta autoridade católica na RDC, país onde mais de 40 por cento da população professa a religião de Roma, fez estas duras críticas, claramente dirigidas a Kabila mas sem proferir o seu nome, numa rara conferência de imprensa realizada ontem com este objectivo, para criticar o comportamento da polícia face aos manifestantes católicos que decidiram sair às ruas no último dia do ano para exigir a saída do Presidente.

Recorde-se que Kabila está há mais de um ano no poder graças a um acordo de última hora assinado em finais de 2016 com intermediação dos bispos católicos, depois de violentas manifestação, das quais resultaram centenas de mortos, que exigiam a realização das eleições que não tiveram lugar e deveriam ter ocorrido em Dezembro desse ano.

Foram entretanto adiadas para Dezembro de 2017 e novamente adiadas para Dezembro deste ano, 2018, contrariando o acordo de compromisso e contra a vontade de toda a oposição, que agora ganha ainda mais fôlego com esta tomada de posição da mais alta autoridade católica do país.

A marca dos católicos foi organizada pelo Comité Laico de Coordanação para reivindicar a aplicação do acordo de 2016, o que compreende a exigência de realização imediata de eleições e a saída sem condições adicionais de Kabila do poder.

Uma das perguntas deixadas pelo arcebispo de Kinshasa foi como é que agora, depois da violência exercida contra pessoas, mesmo no interior de igrejas, se pode voltar a confiar em dirigentes incapazes de proteger a população, de garantir a paz e a justiça?

O cardeal Monsengwo recorreu mesmo à expressão "métodos anticonstitucionais" para se referir à forma como Joseph Kabila se mantém no poder desde Dezembro de 2016, quando a Constituição exigia e impunha a realização de eleições nesse mês, coincidindo com o fim do segundo e último mandato consecutivo possível de Kabila.

Mais, o religioso disse mesmo, citado pela rádio da ONU, Okapi, que o acordo intermediado pelos bispos católicos foi "deliberadamente violado".