O País assinala este ano 50 anos de Independência. O que correu mal no Governo de Transição depois dos acordos de Alvor?

O governo foi composto pelos três movimentos, com a quarta parte portuguesa. Infelizmente, esse governo não funcionou. As razões do seu não funcionamento são sobejamente conhecidas.

Mas pode reviver a história para as novas gerações...

Cinquenta anos depois da Independência, nós não podemos estar a esconder o oceano, "expressão é minha". A parte portuguesa não estava preparada para deixar Angola e, se todos estão recordados, naquela época, os comunistas mandavam em Portugal.

E foi o partido Comunista, através do movimento das Forças Armadas, que conduziu o processo de descolonização. Nem cegos, nem mudos, apercebemo-nos muito mais em Alvor que Portugal já tinha um parceiro.

Como assim? Pode explicar-se?

O parceiro era o MPLA e dizia-se na altura por razões ideológicas e culturais. Com este espírito e nessa base, tudo foi torpedeado e o governo não funcionou. Houve roptura. E a parte portuguesa tentou ainda um noivado entre o MPLA e a UNITA, que, naquela altura, era o elo mais fraco da corrente. Desculpa aos irmãos da UNITA por dizer isso, não estou a insultá-los, mas era verdade. Foram até Portugal e lá não se entenderam. A intenção era isolar a FNLA, mas, infelizmente, eles não conseguiram entendimento. O governo não funcionou e já sabia o resto.

Ainda tentamos ir até Nakuro para salvar o que poderia ser salvar, mas também não conseguimos. Tudo já estava minado.

Quando diz que tudo estava minado, está a dizer que a intenção era favorecer o MPLA?

Mas é claro... Favorecer o MPLA em todos os aspectos. Hoje quem ama Angola não pode vir aqui com uma capa negra, com um discurso para embelezar o tempo, mas, sim, a história. Portugal já tinha um parceiro que era o MPLA e tudo fez para que os outros se sentissem mal, neste caso, os dois outros movimentos, a UNITA e a FNLA.

Está a acusar Agostinho Neto de traição?

A palavra pode ser muito pesada, mas é mesmo esta. Houve traição. Também as forças portuguesas comunistas combatiam contra nós. Depois de várias negociações, eu negociei pessoalmente com o falecido Lúcio Barreto Lara, na Fortaleza. Tentámos encontrar uma solução, eles pediam a capitulação do ELNA, mas eu disse que o ELNA não foi capitulado por ninguém. Para evitar um banho de sangue, a direcção da FNLA decidiu retirar as nossas forças para as nossas origens, o Norte do País. E, fomos andando, chegámos ao 11 de Novembro, cada um do seu lado como era de se esperar. Foi a única coisa que os três movimentos respeitaram, a data de 11 de Novembro.

E, aqui, permita-me abrir um parêntesis para dizer o que é verdade: O 11 de Novembro de 1975 foi proposta de Álvaro Holden Roberto, apresentada em Mombaça, na cimeira dos três movimentos. Antes de Alvor, estivemos em Mombaça, onde preparamos a plataforma para a Independência, também proposta pela FNLA. O MPLA proclamou a sua república popular, em Luanda, com o apoio dos seus aliados ideológicos, a UNITA proclamou a data no Sul e nós, no Uíge, fizemos a mesma coisa. A proclamação foi feita por mim, em nome de Álvaro Holden Roberto, que se encontrava na frente de combate em Ambriz. E, assim, respeitou-se a data de 11 de Novembro.

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