Durante as cerimónias de empossamento das governadoras provinciais do Huambo e de Luanda e do governador do Uíge, o ministro da Administração do Território (MAT), Marcy Lopes, lembrou o temível e implacável capitão Roberto (interpretado pelo actor Wagner Moura) em Tropa de Elite, premiado filme brasileiro, ao acarinhar os titulares de cargos públicos com palavras de amor e afeição, onde a dica que mais ficou no ar e nos ouvidos a ecoar em todas as bandas foi "peça para sair".

A mensagem foi bem clara, directa, sem esquivas e regada de sustentação, mostrando que agora o que se pretende é trabalhar com quem quer, sabe, merece, é disciplinado e trabalha bem em prol do bem público, do povo, que, afinal, somos todos, até quem governa, sendo essa a grande novidade, porque até então lá no beco sempre se pensou que quem governasse não fosse povo nem do povo, por estar acima de muitas cenas a que os do povo dos becos, matas, aldeias e esquinas das bandas sobrevivem diariamente para respirar. Mas prontos, o MAT veio dizer que, afinal, também eles, os que governam são do mesmo povo; já só falta vê-los nas paragens à espera do autocarro ou candongueiro para irem bumbar ou regressarem a casa, tal qual um cidadão normal desse povo heróico e generoso.

Essas dicas do novo ministro, que nem seis meses tem no cadeirão do MAT, em que substituiu Adão de Almeida, nomeado para a Casa Civil do PR, mostra que estaremos perante uma mudança para melhor ou então perante uma estratégia de marketing a mascarar algo que o futuro mostrará. Mas queremos crer nas palavras do MAT. No entanto, não basta falar e crer, há que pôr em prática o que se disse, aí surgem novas questões que vão mostrar o que, afinal, se pretende fazer.

Porque será que se nomeiam cidadãos sem estarem preparados, sem terem competências e provas dadas, sem estarem comprometidos com a coisa pública? Será que é para a seguir pedi-los para pedirem para saírem? Para que peçam a demissão dando a si mesmos atestados de incompetência? Porque será que quem nomeia e exonera não fica atento ao bom ou mau trabalho dos tais investidos em cargos públicos e tome as medidas necessárias a tempo, sem esperar que a tal pessoa peça para sair? Será que se acabará com a dança das cadeiras que era moda até então? Como será que os recém-nomeados estão a encarar e a digerir esse discurso do MAT? O que acontecerá com os heróis que pedirem para sair? Já agora, os gestores do PIIM e de outras fatias do bolo orçamental do Estado como é que estão a ser vistos e ouvidos? Que medidas vão acompanhar a implementação das dicas do MAT? Já agora, uma duvidazinha, será que aqueles outros tantos poucos que foram exonerados a seus pedidos (que pediram para sair) já estavam a cumprir com a orientação superior?

Apesar das dicas e de toda a azáfama resultantes do "peça para sair", vamos aguardar ansiosos para ver como será feito o trabalho pelos governantes ligados ao pelouro do jovem ministro (que tem a missão de bem administrar o território nacional) e de outros pelouros, a ver se teremos heróis e que causas vão alegar para pedirem a famosa saída. Será que nós, os do mesmo povo, mas que não governamos, que somos governados, podemos indicar quem são os que estão a falhar e que devem pedir para sair? E se a moda pegar, se o recado for acatado e levado à letra, quem sobrará no cargo? A todos bom trabalho. Katé+