As redes sociais tornaram-se parte inalienável do quotidiano de muitos de nós. Enquanto ferramentas de comunicação, são hoje cruciais na construção e desconstrução de imagens e na sua disseminação.

Neste tempo tecnológico, o espaço público virtual, que se constrói em torno de plataformas como Facebook, Instagram, WhatsApp, entre outras, afirma-se como essencial na formação da opinião pública, que deixou de estar quase que exclusivamente dependente da intermediação oferecida pelo jornalismo.

A portabilidade do consumo de internet, proporcionada pelas redes 3G/4G, às quais acedemos através do pequeno e leve smartphone que temos connosco 24 horas por dia, coloca-nos perante uma «overdose» de conteúdos, em texto, vídeo ou fotografia, obrigando-nos a um permanente processo de validação.

Sem surpresa, essa constante presença on-line é explorada comercialmente. Também sem surpresa, ela é igualmente objecto de aproveitamento político.

A internet é um dos púlpitos essenciais dos titulares de cargos políticos e palco favorito para os aspirantes a funções públicas. A ideia de comunicar sem filtros, directamente com os eleitores, para lá da aplicação de qualquer critério de noticiabilidade ou escolha editorial, com enorme potencial de viralização, mais ou menos acrítica, favorece a ilusão de que, na web, concretamente nas redes sociais, tudo é possível.

As eleições de 2016 para a Casa Branca, que elegeram Trump como Presidente dos Estados Unidos, evidenciaram uma dinâmica crescente de desinformação, à boleia das redes sociais. Esta tendência agravou-se desde então, com contornos absolutamente decisivos na eleição presidencial brasileira de 2018.

O continente africano não está imune a estas práticas. Num artigo de 2019, publicado no site Newsroom, do Facebook, Nathaniel Gleicher identifica actividades nos media sociais, visando actos eleitorais em países como Nigéria, Senegal, Togo, Níger ou Tunísia.

Sob pressão de quem exige, simultaneamente, mais responsabilidade e responsabilização, as gigantes tecnológicas vão ensaiando respostas para tentar travar a distribuição de informação manipulada ou falsa. Até agora, os resultados são decepcionantes.

Sinalizar desinformação, ao ritmo a que ela é produzida e circula, por ventura combinando inteligência artificial e curadoria humana, é um processo mais complexo do que aparenta, sujeito a uma grande margem de erro (além de ética e legalmente impossível em redes de instant messaging, com partilha privada, como o WhatsApp ou o Messenger) e que poderá encontrar resistência no público que consome esse tipo de conteúdos (e que cataloga como conspirativo tudo o que diverge da narrativa que subscreve e apregoa).

Por esse motivo, se o papel das empresas não pode ser desvalorizado, enquanto agentes, elas próprias, da esfera pública reinventada, o foco deverá ser colocado nas pessoas e na valorização do indivíduo, capacitando-o para saber e querer lidar de forma exigente com a (re)mediatização do debate político.

Decisões como aquela que o Twitter tomou relativamente a Donald Trump fazem sentido do ponto de vista figurativo, mas terão sempre alcance limitado, alimentando a narrativa anti-sistémica do próprio e da sua claque.

* Jornalista em Cabo Verde