Não é que a vida não seja importante, pois, sem dúvida, que o é. Basta analisar os esforços e as medidas que estão a ser tomadas em relação à Covid-19 em nome da salvaguarda da vida humana. Afunda-se a economia, mas salvam-se vidas. O problema é que o ângulo quase sempre escolhido pelos jornalistas exacerba ainda mais a já enorme vontade de ocupar os espaços que no passado foram habitados pela vida selvagem. A prática da caça ilegal, as queimadas anárquicas, a expansão agrícola, o corte de floresta, o fabrico de carvão, entre outras actividades humanas, contribuem para essa ocupação.

Nas notícias, os títulos, com letras garrafais, são quase sempre enganadores: «Cidadão morto por um elefante no Tomboco», «Picadas de escorpiões causam 12 óbitos na Baía Farta», «Pacaça mata uma pessoa e fere duas em Ndalatando», «Acidente com um elefante faz dois feridos graves no Cuanza Norte». Estes são apenas alguns exemplos do enfoque dado ao papel dos animais selvagens no finamento de angolanos.

Na realidade, as causas da morte são muito diversas e a culpa não parece que seja dos animais. No caso do Tomboco, o elefante apenas se defendeu de um caçador com a mira cincada. Já as 12 pessoas «atacadas» pelos escorpiões pereceram, pois foram primeiro procurar tratamentos tradicionais que são, muito provavelmente, a causa da sua morte. Os banhos fumegantes e sacrifícios de galinhas e cabritos não fazem mais do que alimentar crenças populares sem fundamento.

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