Em declarações hoje à agência Lusa, a deputada do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), membro do seu Comité Central, assumiu que está "involuntariamente" fora do país devido à doença da filha e que há vários meses está a ser "intimidada" por dirigentes do partido no poder desde 1975.
Face à realidade - descreveu - em Angola, a deputada assumiu à Lusa que está à procura de advogados em Luanda para avançar para o Tribunal Constitucional angolano com "um pedido de "impeachment" [destituição]" de João Lourenço, e que também procura o apoio de deputados para uma Comissão de Parlamentar de Inquérito à actuação do actual chefe de Estado.
Explica as ameaças de que é alvo - apontando mesmo uma alegada lista de várias figuras angolanas ligadas ao período da governação do pai, José Eduardo dos Santos (1979 - 2017), que as autoridades pretendem impedir de sair de Angola - por ser uma voz que contesta algumas das orientações de João Lourenço, Presidente da República e líder do MPLA.
"O Presidente da República é conivente porque nada faz", critica.
"Está a haver um crime contra o Estado. Isto é um caso para "impeachment". Este Presidente da República merece um "impeachment"", afirma Welwitschea "Tchizé' dos Santos, considerada a filha mais próxima, politicamente, do ex-Presidente José Eduardo dos Santos.
A deputada fala em "abuso de poder" com a actual liderança em Angola, como o caso de outro deputado do MPLA, Manuel Rabelais, próximo do anterior chefe de Estado e que em Janeiro foi impedido pelas autoridades de embarcar num vôo internacional, em Luanda, apesar da sua imunidade parlamentar.
Aponta igualmente a anunciada intenção de aumentar o número de elementos do Comité Central do MPLA com a liderança de João Lourenço, antes de um congresso ordinário, o que diz contrariar os estatutos: "Mas então as regras onde é que estão?", aponta.
Questionada pela Lusa, a deputada, com investimentos em Portugal e filhos luso-angolanos, não clarificou se pretende regressar em breve a Luanda, mas garantiu que não vai aceder ao pedido, feito esta semana pelo grupo parlamentar do partido, de suspender o mandato por estar ausente da Assembleia Nacional há mais de 90 dias.
"É o senhor João Lourenço que me está a fazer a perseguição através do MPLA, porque ninguém no MPLA toma ali uma atitude sem a autorização do Presidente, ou sem a orientação", afirmou.
"Tchizé' dos Santos assume os receios face aos ecos que recebe do partido e que tem vindo a denunciar publicamente, dizendo sem receios que mesmo fora do país é visada: "Passo a vida a receber ameaças".
"E o partido não me protege, não me defende? A Lei obriga o Estado a prestar segurança aos deputados e eu não fui contactada por nenhum serviço consular, para saberem como é que eu estou, como é que eu não estou. Obviamente que isso é um forte indício que a perseguição está a vir do Governo e o chefe do executivo é o Presidente da República", aponta.
"Isto é um crime contra o Estado, um Presidente da República estar a atentar contra os direitos de um deputado eleito pelo povo para o supervisionar", diz ainda "Tchizé' dos Santos, visando sempre João Lourenço.
Ainda assim, a deputada assume que o seu partido é o MPLA, e acredita que ainda é possível "um entendimento" com a actual liderança de João Lourenço, desde que se garanta a separação de poderes, entre o parlamento, o partido e o Presidente da República.
Afirmou que além das críticas públicas que faz, através das redes sociais, as suas acções enquanto empreendedora junto da sociedade angolana, como a recente acção de formação de zungueiras (vendedoras de rua) que realizou em Luanda, entre outras, está a "irritar" a actual liderança angolana.
Além disso, diz que está a ser visada pelas intervenções do Presidente da República e líder do partido, sobre o uso das redes sociais por responsáveis do MPLA.
"Um Presidente que está a subverter o Estado democrático de direito está a tentar dar um golpe de Estado às instituições", afirma, sobre João Lourenço.