Mas, como pano de fundo para este esboroar das tensões entre o Ruanda e o Uganda, a RDC e Angola não deixam de ter em conta que as principais guerrilhas que incendeiam o leste do Congo têm origem nestes dois países.

E uma acção interna concertada entre os Presidentes ruandês, Paul Kagame, e ugandês, Yoweri Musevini, é essencial para acabar com o potencial fomentador de terror das guerrilhas da FDLR, criada no Ruanda, e da ADF, com origem no Uganda, nas décadas de 1990, no rasto do genocídio de 1994 no Ruanda, nas províncias do Kivu Norte, Kivu Sul e Ituri, no leste da RDC, com fronteiras comuns com estes dois pequenos estados da região dos Grandes Lagos.

Alias, esta não é a primeira vez que Angola assume um papel liderante neste processo, porque há pelo menos 10 anos, numa Cimeira dos Grandes Lagos (CIRGL), em Luanda, o então Presidente angolano e da organização, José Eduardo dos Santos, pediu mesmo à comunidade internacional o envio de forças militares para o leste da RDC com o objectivo de acabar com o reinado de terror destas duas guerrilhas estrangeiras a actuar no país vizinho, onde vivem à custa da exploração dos recursos naturais em território congolês.

Mas, na primeira linha desta determinante Cimeira de Luanda, onde o Presidente João Lourenço acolhe os seus homólogos da RDC, Félix Tshisekedi, do Uganda, Yoweri Musevini, e do Ruanda, Paul Kagame, no topo da agenda está a procura de uma solução equilibrada entre Musevini e Kagame que permita consolidar o anterior acordo, também conseguido em Luanda, em Julho.

Na esteira desta Cimeira de Luanda, o ministro das Relações Exteriores, Manuel Augusto, desdobrou-se em encontros em Kigali e em Kampala para preparar o documento reitor do que será o futuro da região dos Grandes Lagos em termos de segurança regional, que muitro depende do sucesso do combate às guerrilhas da FDLR e da ADF.

Isso mesmo surge estampado na declaração que antecede este encontro de Luanda, que vai consumar a "boa vontade política" do Ruanda e do Uganda de consolidar os resultados conseguidos através do diálogo alimentado pelo esforço diplomático de Angola e a vontade clara demonstrada pelo Presidente João Lourenço desde que assumiu o cargo, prosseguindo o papel determinante que Luanda tem na construção da paz e da segurança nesta conturbada área do continente africano.

Recorde-se que, para além do grave surto epidémico de Ébola no leste do Congo, das décadas de violência perpetrada por milícias locais e pelas guerrilhas originárias do Uganda e do Ruanda, em grande medida ocupadas em explorar os recursos naturais congoleses e das centenas de milhares de refugiados que se espalham pelos três países - Uganda, Ruanda e RDC -, no início deste ano, num momento de aguda tensão entre os dois pequenos estados, o Ruanda encerrou a fronteira com o Uganda, gerando um forte e negativo impacto social e económico devido à quebra de um circuito fundamental de comércio e de pessoas na zona.

Pelo meio, ficou uma querela entre militares dos dois países, com dois mortos do lado ugandês, com Kampala a acusar Kigali, que negou, entretanto, de invasão de território.