Na sessão desta terça-feira, Archer Mangueira disse ao tribunal que foi afastado da liderança do processo pelo ex-Presidente da República José Eduardo dos Santos e que o antigo governador do Banco Nacional de Angola (BNA), Valter Filipe, após tomar a liderança do processo, deu instruções à equipa de advogados para que ele não soubesse nada sobre o andamento das negociações.

Archer Mangueira, que foi ouvido pelos juízes do Tribunal Supremo na qualidade de testemunha, no julgamento do caso 500 milhões USD transferidos ilegalmente do BNA para um banco de Londres, alegadamente para criação de uma fundo de investimento, realçou que foi o ex-chefe de Estado quem lhe disse para tratar das negociações do processo em 2017, e que surpreendentemente foi arredado do processo sem qualquer informação da Presidência da República.

"Estive envolvido nesse processo na fase inicial, e o mesmo teve três fases. A segunda foi conduzida pelo ex-governador do BNA, Valter Filipe, e a terceira fui reconduzido, já pelo novo Executivo para tratar do processo", disse o agora Governador do Namibe, acrescentando que não foi afastado por José Eduardo dos Santos de forma oficial, mas que se apercebeu que tinha sido afastado.

Questionado se houve orientação de José Eduardo dos Santos para a elaboração de um parecer conjunto, entre o BNA e o Ministério das Finanças, respondeu categoricamente que não houve e que não se lembra de ter havido.

Perguntado se teve a informação sobre a transferência dos 500 milhões de dólares do BNA para Londres, respondeu que, apesar dos secretismos que havia por parte do banco central, teve conhecimento, mas que não se recorda de quem o terá o informado.

Interrogado se caso estivesse no lugar de Valter Filipe, enquanto Governado do banco central, teria feito essa transferência nos termos em que foi feita, respondeu que não faria e defendeu que o sistema financeiro não funciona com dúvidas.

"Desde o princípio desta operação que tivemos dúvidas. Porque entendemos que seria uma capitalização inicial para a estruturação de uma operação financeira, e de acordo com a informação que nos foi data sobre o investimento, era uma operação esquisita e os promotores não garantiam confiança", afirmou.

Perguntado sobre qual foi o papel de "Zenu" dos Santos na delegação que chefiou, Archer Mangueira respondeu que foi na qualidade de acompanhante do processo.

O antigo ministro das Finanças disse também não saber dizer se o ex-titular do poder Executivo autorizou o governador do BNA a efectuar a transferência, porque, segundo ele, uma autorização tem como suporte legal a Lei dos contratos públicos e um Despacho Presidencial que autoriza a operação.

Perguntado se a reputação de Angola no exterior antes deste investimento era boa, o antigo ministro das Finanças respondeu: "Se antes não era boa, com esta transferência dos 500 milhões de dólares só piorou".