Os números actualizados apontam para um total de 60 mil infecções confirmadas em laboratório e 1.310 mortos, sendo que, desta soma dramática, apenas dois casos letais foram registados fora das fronteiras da China e o número de infectados no resto do mundo está ainda abaixo de 300.

A informação que minimiza o impacto desta nova realidade é que a quase totalidade destes novos milhares de casos são reportados a partir da província de Hubei, em cuja capital, Wuhan, esta epidemia pelo novo coronavírus que a Organização Mundial de Saúde apelidou de Covid-19, foi descoberto, em Dezembro, num mercado de produtos alimentares.

Os especialistas ouvidos pelas agências sublinham que um tão grande número de novos casos só pode resultar de uma mudança no método em uso de diagnóstico, sendo este agora mais eficaz e mais conforme à realidade, o que deixa em evidência que esta epidemia tem contornos mais alarmantes, para a China e para o mundo, que aqueles que estavam a ser admitidos ate aqui, tanto pelas autoridades sanitárias chinesas como pela OMS.

"Estamos perante uma evidente constatação de que esta epidemia vai piorar bastante até que comece a melhorar", nota um especialista no terreno citado pela Reuters, sublinhando que o número recorde mortos registado na quarta-feira contrasta com o recorde absoluto até então, que era de 103 no passado dia 10 de Fevereiro.

Esta nova realidade foi revelada após as autoridades sanitárias chinesas terem iniciado uma nova metodologia de diagnóstico recorrendo à tomografia computorizada, um método de diagnóstico que recorre ao raio-X de forma mais abrangente, permitindo detectar um muito maior número de casos em menos tempo e com maior eficácia.

O dado mais recente a sublinhar a gravidade da situação foi a ordem emitida para todas as universidades da China continental para que os estudantes e os professores estrangeiros regressem o mais rapidamente possível aos seus países.

Para os especialistas, estes números não significam que a doença esteja a progredir agora mais que antes, apenas mostram melhor a realidade que estava "escondida" pela forma como anteriormente era feito o diagnóstico, mais lento e exigindo reconfirmações que podiam levar dias a afirmar se se tratava de um caso positivo ou negativo, sendo evidente que o problema é, por isso, mais grave que aquilo que se pensava.

Porém, este novo método permite a aplicação dos medicamentos em uso numa fase mais precoce da doença, o que vai levar ao aumento do número de casos de doentes recuperados, que são, sublinhe-se, milhares diariamente.

Esta doença tem uma taxa de letalidade baixa, cerca de 2.2 %, em comparação, por exemplo, com os quase 10% do Síndrome Respiratório Agudo Grave (SARS), igualmente provocado por um coronavírus, que em 2002/2003, teve início na China e fez milhares de casos em todo o mundo, embora em muito menor número que este Covid-19, que é mais contagioso mas menos mortífero.

Recorde-se que a OMS enviou esta semana dezenas de técnicos em saúde de todo o mundo para ajudar a China a combater esta epidemia e reuniu em Genebra, na sua sede mundial, cerca de 400 cientistas de vários ramos para "desenhar" um mapa de acção para debelar este coronavírus que é, já, e de longe, o actual "inimigo público nº 1 da humanidade".

E o seu director-geral chamou esta semana a atenção para o facto de o número de casos confirmados, de contágio fora da China, entre pessoas que nunca estiveram naquele país, faz com que as preocupações aumentem substancialmente.

Tedros Adhanom Ghebreyesus admitiu ainda que esta epidemia pode tomar vários caminhos, desde os mais dramáticos até à sua resolução num curto espaço de tempo.

O Covid-19 no mundo

Em todo o mundo, nos cerca de 30 países já inseridos neste mapa trágico, estão confirmados quase 400 casos e foram registadas pelo menos duas mortes, sendo que o continente africano é ainda o único onde não estão confirmados casos de infecção, embora em vários países, como Angola, já foram despistados casos suspeitos.

Como recomendado pela OMS, o Ministério da Saúde angolano adaptou um hospital da Barra do Kwanza para acolher as pessoas oriundas da China, especialmente das regiões mais afectadas, para um período de quarentena de 14 dias, no mínimo, como forma de manter sob controlo um eventual caso e evitar que este se transforme em vários devido à enorme contagiosidade do Covid-19.

Para evitar que esta epidemia chegue ao continente africano, a OMS declarou 13 países como de intervenção prioritária, sendo Angola um deles, para onde foram enviados já kits que permitem a detecção precoce de quaisquer casos, sendo que essa detecção célere é a melhor forma de impedir o alastramento do vírus, especialmente porque são países com fortes comunidades chinesas, com débeis sistemas nacionais de saúde e com áreas urbanas com milhões de pessoas a viverem em fracas condições sanitárias.

Enquanto isso, em Genebra, os especialistas convocados pela OMS defendem a produção de uma vacina o mais rapidamente possível ou procurar oura metodologia apropriada para a procura de um medicamento eficaz, embora isso só vá ser possível dentro de 18 meses.

E, como têm alertado alguns especialistas, em cima da mesa das principais preocupações está o facto deste coronavírus se distinguir dos demais já conhecidos, como o que provocou o SARS em 2002/2003, cujo número de mortos e vítimas totais já foi largamente ultrapassado por esta epidemia, por possuir a capacidade de transmissão na fase assintomática do paciente - sem sintomas visíveis - e por permitir que muitas das suas vítimas se mantenham sem sintomas durante toda a fase da infecção, mantendo, todavia, a capacidade de contágio activa.

O vírus em Angola

A par das medidas em curso aplicadas pelo Ministério da Saúde, como o controlo à chegada nas várias fronteiras do país, é a comunidade chinesa em Angola que está a aplicar as medidas mais dramáticas, como explicou o seu embaixador, Gong Tao, em Luanda.

Evitar as viagens de e para a China e a redução da mobilidade interna são algumas das medidas auto-impostas pela comunidade chinesa em Angola de forma a contribuir para o combate global em curso contra o coronavírus.

Segundo o embaixador chinês em Angola, Gong Tao, em conferência de imprensa na passada semana, estas medidas que estão a ser seguidas pelos membros da comunidade chinesa em Angola, que ultrapassa os 250 mil, são voluntárias, porque, apesar de ter lançado um alerta internacional de saúde pública, a Organização Mundial de Saúde (OMS) não proibiu a movimentação de pessoas e bens.

Isso está a ser realidade também junto daqueles que se deslocaram por estes dias à China para comemorar junto das suas famílias o Ano Novo Lunar, a maior festa chinesa, e estão a retardar o regresso no âmbito das medidas preventivas consideradas adequadas.

Os que regressaram há poucos dias, para evitar quaisquer riscos, estão a proceder ao auto-isolamento.

O diplomata chinês, em conferência de imprensa realizada em Luanda, admitiu que o vírus de Wuhan vai ter um impacto negativo nas relações económicas entre os dois países, mas notou que o mais importante é estancar esta pandemia porque os negócios podem esperar, "têm tempo".

Tao disse que a embaixada tem estado em permanente contacto com as autoridades angolanas, partilhando informações e cooperando no que diz respeito à assistência sanitária.

A embaixada está "muito atenta" no que diz respeito à comunidade chinesa, monitorizando a situação, sublinhando que para a representação diplomática de Pequim em Luanda, a saúde do povo angolano é tão importante como a do povo chinês.

Mas o Governo angolano procedeu nas últimas horas a algumas medidas mais intensas, como a quarentena obrigatória para todos aqueles que cheguem ao país oriundos de regiões chinesas mais expostas à doença, como a província de Hubei e a sua capital, Wuhan.

Para isso, foi criado uma unidade hospitalar de urgência na Barra do Kwanza, onde estão, actualmente, pelo menos 40 pessoas, como foi anunciado pelo Ministério das Relações Exteriores.

O vírus, o que é e o que fazer, sintomas

Estes vírus pertencem a uma família viral específica, a Coronaviridae, conhecida desde os anos de 1960, e afecta tanto humanos como animais, tendo sido responsável por duas pandemias de elevada gravidade, como a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), transmitida de dromedários para humanos, e a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), transmitida de felinos para humanos, como início na China.

Inicialmente, esta doença era apenas transmitida de animais para humanos mas, com os vários surtos, alguns de pequena escala, este quadro evoluiu para um em que a transmissão ocorre de humano para humano, o que faz deste vírus muito mais perigoso, sendo um espirro, gotas de saliva, por mais minúsculas que sejam, ou tosse de indivíduos infectados o suficiente para uma contaminação.

Os sintomas associados a esta doença passam por febres altas, dificuldades em respirar, tosse, dores de garganta, o que faz deste quadro muito similar ao de uma gripe comum, podendo, no entanto, evoluir para formas graves de pneumonia e, nalguns casos, letais, especialmente em idosos, pessoas com o sistema imunitário fragilizado, doentes crónicos, etc.

O período de incubação máximo é de 14 dias e durante o qual o vírus, ao contrário do que sucedeu com os outros surtos, tem a capacidade de transmissão durante a incubação, quando os indivíduos não apresentam sintomas, logo de mais complexo controlo.

A melhor forma de evitar este vírus, segundo os especialistas é não frequentar áreas de risco com muitas pessoas, não ir para espaços fechados e sem ventilação, usar máscara sanitária, lavar com frequência as mãos com desinfectante adequado, cobrir a boca e o nariz quando espirrar ou tossir, evitar o contacto com pessoas suspeitas