Maria Sebastião Lopes António, de 32 anos, testemunha de Jeová, deu entrada no Hospital Geral do Bengo (HGB), no início da noite de domingo,14, segundo o relatório do Serviço de Investigação Criminal (SIC).
A gestante deu à luz de parto normal, mas sentiu-se mal poucas horas depois do parto.
Sendo testemunha de Jeová, o marido, João Escórcio António de 33 anos, recusou que ocorresse a transfusão de sangue e assinou o consentimento livre e esclarecido, declarando que "preferia que a mãe dos seus filhos morresse a que fosse alvo de uma transfusão de sangue".
Ao NJOnline, o director do Gabinete de Comunicação Institucional e Imprensa da Delegação do Ministério do Interior no Bengo, inspector-chefe Gaspar Luís, disse que o SIC-Bengo deteve na tarde desta segunda-feira,15, João Escórcio António, por denúncia feita pela direcção do Hospital Geral do Bengo.
"O SIC-Bengo procedeu, na tarde de ontem, segunda-feira, à detenção do cidadão João Escórcio António de 33 anos, casado, por crime de homicídio voluntário, por permitir que a sua esposa perdesse a vida ao não autorizar uma transfusão de sangue", disse, acrescentando que o homem foi presente ao Ministério Público (MP) para os devidos procedimentos administrativos.
Por sua vez, João Escórcio António, em declarações ao NJOnline, garantiu que não matou a mulher mas cumpriu com os princípios bíblicos.
"O que aconteceu é que a minha esposa foi levada ao hospital porque já estava em serviço de parto, posto no hospital foi-lhe aplicada uma injecção para apressar o parto. Ela demorou muito tempo para dar a luz o nosso segundo filho, presumia-se que ela devia ser levada para o bloco operatório... Passados alguns minutos, a doutora me deu a conhecer que ela já tinha dado à luz, mas teve uma hemorragia pós-parto e necessitava de uma transfusão de sangue urgente", explicou.
"Quando a doutora me deu a conhecer esta situação, eu e os familiares da minha esposa, que também são testemunhas de Jeová, recusámos que ela fosse submetida a uma transfusão sanguínea. Não sei porque é que estou preso, porque eu não matei a minha mulher", questionou.
Para os seguidores da profissão de fé "Testemunhas de Jeová", a interpretação do conteúdo expresso nos Salmos e no Levítico promove o sangue a símbolo e identidade da vida pelo que não é admissível aos convictos o seu consumo sob qualquer forma.
Este princípio é válido mesmo quando em risco de vida.
Esta confissão religiosa, que desde a sua fundação proíbe a transfusão sanguínea nos seus membros sob pena de expulsão da mesma, actualizou as suas directivas em 2000. Manteve a proibição de transfusões de sangue total, eritrócitos, leucócitos, plaquetas ou plasma, anulando, no entanto, a expulsão daqueles que optarem por ela, considerando que os mesmos, ao aceitarem uma transfusão livre e esclarecidamente, se auto-excluem da sua fé. Quanto a outros hemo-derivados, como a albumina, é concedido ao crente o direito a decidir sem qualquer proibição nesse sentido.
Criada nos Estados Unidos, no fim do século XIX, a organização religiosa Testemunhas de Jeová tem mais de 8 milhões de seguidores em todo o mundo, com uma expressão igualmente significativa em Angola, com mais de 180 mil publicadores (pessoas baptizas e dedicadas).