Ninguém entra e ninguém sai sem controlo policial. Vigiadas por agentes da Polícia Nacional, as portas da Shoprite do Cassenda tornaram-se hoje o retrato mais visível da procura descontrolada que, nos últimos dias, transformou os supermercados luandenses da cadeia sul-africana num palco de desordem.
O caos, até há pouco tempo concentrado no interior das lojas - onde as enchentes têm gerado lutas por produtos alimentares -, transferiu-se agora para o exterior, constatou o Novo Jornal ao início da tarde de hoje.
"Vê só a minha perna. Não dá para ficar mais", protestou Julieta Lino, de 22 anos, ainda a recuperar das marcas da luta travada na véspera, por um punhado de cebolas.
Os arranhões não chegam contudo para dissuadir esta mãe a tempo inteiro, que partilha as mazelas já depois de a vizinha Núria Ambrósio explicar a origem da insistência...e resistência. "Aqui os preços estão melhores. O litro do óleo alimentar está a 400 kwanzas, quando nas outras lojas pedem 800. O quilo do açúcar está a 300, e os outros querem 500", diz Núria, que vive das encomendas de bolos.
Com a factura do negócio mais aliviada, a doceira garante que "vale a pena sofrer um pouco" pelo acesso aos produtos da cesta básica da Shoprite.
A poucos passos, de ouvido na conversa, André Cabanga confirma a poupança: "Um frango [congelado] aqui custa 690 Kz, lá fora está a 1.300 Kz. Não dá para deixar passar".
Muito além do interior e da porta das lojas Shoprite, os preços começaram a circular nas redes sociais, facto que, segundo os clientes ouvidos pelo NJ, precipitou a confusão actual.
Preços sob investigação
Apesar de confirmar a presença de efectivos no estabelecimento do Cassenda, o porta-voz do Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional, Mateus Rodrigues, explicou ao Novo Jornal que se trata de uma "intervenção pontual".
O responsável sublinhou que "a empresa tem de ter capacidade para garantir a segurança das suas instalações".
Os últimos episódios demonstram contudo que o impacto da política de preços da Shoprite não foi devidamente acautelado pela cadeia de retalho.
"A empresa tornou-se alvo de ataques, e na perspectiva de salvaguarda dos seus interesses económicos e de segurança, tendo em conta que se tornou vítima de assaltos e açambarcamento, pediu a intervenção das autoridades", disse ao Novo Jornal o inspector-geral do Comércio, Heleno Antunes.
Garantindo que a situação está a ser acompanhada, o responsável esclareceu que "há equipas a avaliar se a empresa está a praticar dumping, ou seja, preços abaixo do custo de produção", prática que pode ser sancionada com a aplicação de multas e até com a suspensão da actividade.
Heleno Antunes sublinhou, contudo, que a política de preços baixos pode ser apenas uma estratégia de comercialização, que contudo não isenta a empresa de responsabilidades adicionais.
"A nossa preocupação não é apenas a de garantir que os preços não violam as leis, mas também de que os produtos disponíveis cumprem as exigências de qualidade e de segurança alimentar".