"Em Angola, os custos têm de descer, e é aí que vemos os projectos a serem competitivos na comparação com os outros países", disse Mansur Mohammed, vincando que "com o petróleo a 50 dólares ou até abaixo há projectos de boa qualidade que continuam a ser rentáveis".
Entrevistado pela Lusa em Londres, o analista da Woodmackenzie, consultora especializada em energia, disse que "as companhias estão mais sensíveis às comparações internacionais por causa da descida dos preços e da redução das margens de lucro", mas disse que a situação económica de Angola não deverá motivar as empresas a saírem do país.
"Não vejo isso a acontecer a curto prazo, porque as petrolíferas têm projectos em curso que estão a produzir, fizeram descobertas que ainda não começaram e ainda têm barris no chão para desenvolver, mas é preciso incentivar as companhias a desenvolverem os campos mais pequenos", alertou.
A vantagem de Angola é ter petróleo em águas profundas, que o analista considera serem mais rentáveis a longo prazo: "As companhias querem um portefólio diversificado para não ficarem expostas a uma só região, e agora a economia favorece o xisto, mas as companhias olham para o futuro e preferem as águas profundas, onde o sucesso é maior", disse Mansur Mohammed.
Para esta consultora, Angola é mais um dos países que foi afectado pela descida do preço das matérias-primas desde o verão de 2014.
"Como estavam tão dependentes das receitas fiscais do petróleo para encher os cofres do Estado, a perspectiva económica não é tão boa como era antes de 2014; a situação económica piorou, os "ratings" baixaram, e há uma séria escassez de dólares, o mercado paralelo de divisas faz uma grande diferença para o oficial, e a Sonangol tem problemas de liquidez que torna difícil honrar os compromissos financeiros".
Angola está, por isso, "a atravessar um período difícil, que é um reflexo do estado global da indústria do petróleo e gás".
Questionado sobre a possibilidade de essas dificuldades serem ultrapassadas com as eleições e a mudança do Presidente, Mohammed respondeu que "as conversas em Angola são sobre a transição, sobre sair da dinastia de dos Santos para o Governo de João Lourenço, e há um optimismo moderado sobre a sua chegada ao poder".
Para este consultor, "Lourenço é visto como alguém com uma nova agenda dentro do contexto de manutenção do mesmo partido no poder".
A diversificação, tema incontornável nas economias muito dependentes de uma só fonte de financiamento do Orçamento, "deve ser feita agora, com os preços a caírem, e apostando na agricultura nas cidades mais pequenas e no interior, mas só o tempo dirá se Angola consegue", concluiu.