Vladimir Putin aproveitou a Cimeira da Organização do Tratado de Segurança Colectiva (CSTO), em Astana, no Cazaquistão, para chamar a atenção de Donald Trump através desta informação "útil" antes de o Presidente-eleito dos EUA assumir o poder a 20 de Janeiro de 2025.

Este aviso à navegação de Putin dirigido a Trump não pode ser destacado do evidente interesse e fortes expectativas de que o Presidente-eleito possa ter um papel importante no desfecho da guerra na Ucrânia, especialmente agora que se soube que este criou o inédito cargo de enviado especial para o conflito russo-ucraniano.

Naturalmente que as palavras de Putin não surgiram sem um contexto, mas que foi inevitavelmente criado para ter esse efeito, começando o chefe do Kremlin, por quem Trump tem um conhecido e antigo apreço e consideração, por dizer que ele e a sua família "foram sujeitos a métodos absolutamente incivilizados" na campanha para as eleições de 05 de Novembro.

Entre esses métodos incivilizados, Putin destacou as tentativas de assassinato de que foi alvo, sublinhando que, na sua opinião, "ele não está ainda a salvo", relembrando os muitos "incidentes históricos" ocorridos nos EUA, onde sobressaem neste contexto os assassinatos de quatro Presidentes, como Lincoln, em 1865, ou Kennedy, em 1963.

Putin foi ainda mais longe e, numa frase de onde se pode aferir a possibilidade de que saberá mais do que diz em público, adiantou, citado pela RT, que, espera, sendo ele um político experiente e inteligente, que "tenha cuidado e perceba o que lhe está a ser dito".

O líder russo aproveitou para sublinhar que vê estas situações, das quais se destaca o ataque de Junho, onde, durante um comício de campanha, na Pensilvânia, uma bala lhe perfurou a orelha direita, como algo de revoltante" e que mostram o "declínio do sistema político norte-americano".

E, acrescentando, sublinhou que não pode afastar totalmente a ideia de que a actual Administração Biden está a tentar criar dificuldades ao futuro relacionamento entre os EUA e a Rússia após Trump tomar posse, notando com firmeza que Moscovo está aberto ao diálogo com a futura Administração norte-americana.

Um alvo sobre a cabeça de Zelensky

Nesta Cimeira da CSTO, a organização que agrega a maioria das antigas repúblicas soviéticas, em Astana, Cazaquistão, Vladimir Putin falou, de novo, numa sucessão inaudita de abordagens em público da situação na Ucrânia, do seu novo míssil hipersónico, o Oreshnik, que causou grande borburinho em todo o mundo pela surpresa e poder demonstrado.

Reafirmou que esta nova arma, que agora equiparou a um meteorito, é a escolhida preferencialmente na resposta a dar ao ocidente para os ataques na profundidade da Rússia, e fora da geografia em disputa na guerra, com os misseis norte-americanos, ATACMS, e britânicos, Storm Shadow.

E, no meio das habituais tiradas ameaçadoras, o chefe do Kremlin elevou a fasquia para onde nunca tinha estado: colocou um alvo sobre os centros de decisão política e militar ucranianos, o que inclui do Parlamento à Presidência ucraniana.

Pouco depois de o ter dito, e questionado por um jornalista russo, sobre a quais os alvos, especificamente, se estava a referir?, na resposta, Putin foi buscar uma antiga anedota dos tempos da União Soviética: "Quando se perguntava a um meteorologista sobre o tempo que ia fazer nesse dia, ele metia a mão no ar e dizia que tudo era possível".

E quando tudo é possível e se está a falar do uso de uma arma, o Oreshnik, que Moscovo garante ser imparável pelos mais modernos e sofisticados sistemas antiaéreos ocidentais, então é a cabeça do próprio Presidente Valodymyr Zelensky que Putin colocou a prémio...

Sobre as palavras de Putin, incluindo a questão dos ataques massivos à infra-estrutura eléctrica ucraniana como resposta ao uso dos ATACMS e Storm Shadow, Zelensky não se mostrou amedrontado e veio a público pedir aos seus aliados norte-americanos e europeus para "responderem com firmeza à chantagem" enviando mais armas para Kiev se defender.

E o seu conselheiro principal, Mikhail Podoliak, o mais acérrimo muro contra quaisquer formato de contacto com Moscovo, veio garantir que a indefensabilidade do Oreshnik propalada por Putin "não é oura coisa senão uma ficção criada na cabeça de Putin".

E deu como exemplo os igualmente hipersónicos Kinzhal, que os russos também diziam que eram imparáveis e são abatidos pelos Patriot norte-americanos como quaisquer outros, afirmando que o Oreshnik é "uma mera alteração aos conhecidos misseis intercontinentais russos".

E o primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, referiu-se a estas declarações de Putin como "uma demonstração de fraqueza" e que o ocidente "não vai ser chantageado pelas suas palavras", ao mesmo tempo que em Washington, Joe Biden vinha a terreiro afirmar que as acções russas "só mostram a necessidade de manter o apoio à Ucrânia para se continuar a defender da agressão russa".

Estas palavras de Biden foram vistas por vários analistas como uma tentativa de enclausurar o próximo Presidente dos EUA, Donald Trump, na condição de obrigatória continuidade do apoio a Kiev por Washington.