Quando em Novembro de 2016, os Países Exportadores de Petróleo (OPEP) conseguiram trazer para a mesa das negociações a Rússia, juntando-se depois outros, como o México e o Cazaquistão, por forma a iniciar um corte de 1,8 milhões de barris por dia no dia 01 de Janeiro deste ano, os preços começaram a subir, libertando algumas economias do sufoco em que estavam devido aos preços historicamente baixos, na casa dos 20 USD, no arranque do ano passado.
O barril de Brent, em Londres, por onde passam as exportações angolanas, chegou mesmo a atingir os 57 dólares norte-americanos em Abril passado, mas, quando se pensava que a subida iria manter-se, aconteceu o contrário e começou a descida para uns perigosos 49 USD no início deste mês, gerando algum pânico entre os países da OPEP mais dependentes da matéria-prima.
Um dos que mais se manifestou preocupado foi a Arábia Saudita, tendo mesmo avançado para uma medida inédita, ao suprimir o fornecimento de crude aos países asiáticos com quem mantém um longo compromisso, em respeito pelo acordado em Novembro de 2016, mas também outros membros da OPEP, como Angola, a Venezuela ou a Nigéria, todos a atravessar severas crises económicas, não deixaram de mostrar as suas inquietações com o rumo descendente do barril nos mercados internacionais.
Na calha já estava, no entanto, a possibilidade de prolongar os cortes para além de 30 de Junho até Dezembro próximo, tendo esse anúncio permitido uma ligeira recuperação do preço do barril, que se revelou, todavia, escassa para as expectativas geradas com o acordo de Viena de Áustria.
Impelidos a reagir, a Rússia e a Arábia Saudita como que organizaram, enquanto gigantes da produção mundial, um comité especial para lidar com o problema, e, nas últimas semanas, os dois ministros que tutelam o sector, multiplicaram declarações no sentido do prolongamento do acordo.
Primeiros sinais
Mas foi já ontem que as coisas ganharam verdadeiramente importância ao colocarem a data para esse prolongamento em finais de Março de 2018, aproveitando recentes indícios de que os actuais cortes estão a ter um impacto nos níveis das reservas norte-americanas que, pela primeira vez deste o arranque do acordo, revelaram um descida significativa de cinco milhões de barris, considerando os analistas que é o primeiro sinal do impacto dos cortes na maior economia mundial.
Com isto, o preço disparou já hoje 3 por cento, para um valor acima dos 52 USD em Londres (Brent).
No entanto, um novo impulso pode surgir já no próximo dia 25, dia em que os membros da OPEP e os não-membros inseridos no acordo, se vão reunir em Viena de Áustria para redefinir a estratégia, sendo que uma eventual surpresa possa ainda surgir, nomeadamente acrescentando alguns meses ao calendário dos cortes, que, segundo alguns analistas, podem ir até 30 de Junho de 2018 em vez de 30 de Março, o que será uma garantia mais sólida de que estes cortes vão "secar" os mercados e as reservas das grandes economias importadoras, como a China e os EUA, catapultando, eventualmente, o preço do barril para uma fasquia mais condizentes com as expectativas iniciais.
Recorde-se que para Angola esta fasquia razoável está situada na casa dos 60 USD, batendo mesmo nos 70 dólares, como se pode perceber através das várias declarações que o ministro dos Petróleos, Botelho de Vasconcelos, foi fazendo no último ano.
E é também isso que parecem querer os ministros dos Petróleos russo e saudita. "O acordo precisa de ser prolongado, uma vez que não vamos alcançar o nível desejado para as reservas até ao final de Junho", notou o saudita saudita, Khalid Al-Falih, citado pela Bloomberg, durante um evento com o seu homólogo russo, Alexander Novak.
Tendo, na mesma ocasião, sublinhado que "por isso se concluiu que acordo deve terminar no fim do primeiro trimestre de 2018?, o que levou ao acréscimo de 3 por cento ao preço do barril de Brent, mas também a valores semelhantes do o West Texas Intermediate (WTI), que ultrapassou os 49 USD.
Novak seguiu a mesma lógica: "As consultas preliminares mostram que estão todos comprometidos" com esta linha de actuação, acrescentando o russo que não encontra quaisquer razões para desistir desta estratégia.
Mas há riscos no horizonte
O problema é que à medida que o barril vê o seu preço crescer nos mercados, cresce igualmente o apetite pela produção dos EUA , que é o segundo maior produtor mundial, no sector do petróleo de xisto, ou "fracking", que consiste na injecção de água a altas pressões no subsolo para desfazer a rocha e dela extrair gás e petróleo.
Esta indústria sofreu um enorme abanão, com centenas de pequenas empresas a abrirem falência, quando o barril tombou, a partir de 2014, para preços abaixo dos 60 USD, que é a fronteira média a partir da qual o negócio deixa de ser rentável.
Agora, com o barril a subir, esta mesma indústria já deu sinais de poder ser reactivada em larga escala.
E, segundo os analistas, este é o maior desafio à estratégia da OPEP e da Rússia, porque à medida que apertam a sua produção, efectivamente estão a dar razões para aumentar esta extracção alternativa de crude nos EUA que, também na produção tradicional, tem vindo a aumentar os investimentos.
Provavelmente é por isso que a OPEP aponta como ideal um preço na casa dos 60 USD, porque garante mais-valias importantes ao mesmo tempo que deixa o "fracking" ligeiramente abaixo do valor em que a produção compensa financeiramente.