A morte de jornalistas nunca foi tão elevada como nestes pouco mais de ano e meio, e a explicação, de muitas organizações internacionais, é que Telavive procura, ao eliminar jornalistas, em particular aqueles que trabalham para os media internacionais, esconder os seus crimes contra a Humanidade naquele espaço geográfico onde tem em curso uma gigantesca operação militar desde 08 de Outubro de 2023.

Pode muito bem ser a iniciativa mais demolidora para a imagem de Israel no mundo e só equiparável à iniciativa da África do Sul de abrir um processo, com sucesso, na Justiça Internacional por genocídio contra Telavive que já levou, não apenas à aceitação dessa prática pelos tribunais internacionais, como a mandatos de captura internacional contra o chefe do Governo de Telavive, Benjamim Netanyhau, além de outros elementos do seu Executivo e do Hamas.

Esta operação militar, na qual já perderam a vida, além de 250 jornalistas, quase todos abatidos intencionalmente, como o último episódio (ESTE) o demonstra à saciedade, mais de 65 mil civis palestinianos, começou logo após o violento assalto dos combatentes do Hamas e da Jihad Islâmica ao sul de Israel onde foram mortas perto de 1200 pessoas e 250 foram levadas como reféns para Gaza.

Desde então, o mundo assiste a uma das maiores catástrofes humanitárias, como sublinha o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, provocada pelo Homem, com mais de 65 mil mortos directamente visados pelos misseis e artilharia israelita, um número impossível de apurar, até porque o Governo do primeiro-ministro Benjamim Netanyhau impede a entrada de jornalistas estrangeiros no território, de pessoas tem morrido devido à fome, às doenças e à fadiga em resultado do bloqueio da força ocupante.

E é neste contexto que 200 jornais, rádios, televisões e sites de todo o mundo se uniram, como explica a portuguesa agência Lusa, que aderiu ao protesto, bloqueando esta segunda-feira, 01, "as primeiras páginas e interromper as transmissões, exigindo o fim do assassínio de jornalistas em Gaza e acesso ao enclave".

É certo que durante longos meses, muitos destes media, por alinhamento com as políticas ocidentais de apoio cego a Israel, ignoraram olimpicamente a tragédia que ali ocorria provocada pelas Forças de Segurança de Israel (IDF), estando agora, por ser impossível de ignorar nem mais um dia, a aderir a esta iniciativa global.

O Novo Jornal acompanha (ver alguns exemplos mais recentes em baixo nesta página) esta situação desde o início e tem mostrado na sua cobertura exaustiva e diária, apesar de à distância, por não ter correspondentes no terreno, ou sequer no Médio Oriente, que o mundo vive um momento histórico onde um povo é massacrado em directo nas tvs internacionais sem que os países que alegam e frisam defender os Direitos Humanos, como os da Europa Ocidental e os EUA, têm duas caras ao olhar para o genocídio provocado por Israel, o seu grande aliado na região.

Inclusive, as organizações que estão por detrás deste protesto, como os Repórteres Sem Fronteiras (RSF), foram já acusadas de não ter o mesmo comportamento com os jornalistas palestinianos abatidos em Gaza que tem noutros conflitos, quando as vítimas são jornalistas de países ocidentais.

Além dos RSF, estão na organização desta iniciativa o movimento de campanhas Avaaz e pela Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), sendo, segundo a Lusa, a ação apresentada como o primeiro "protesto editorial em grande escala" da história moderna coordenado em simultâneo por redações em todos os continentes.

"Jornais impressos terão capas inteiramente pretas com uma mensagem marcante. Emissoras de TV e rádio interromperão a programação com uma declaração conjunta. Portais `online` apagarão suas `homepages` ou exibirão `banners` em solidariedade", refere a organização, em comunicado.

Segundo as palavras do diretor geral da RSF: "Ao ritmo em que jornalistas estão a ser mortos em Gaza pelas forças de defesa de Israel, em breve não haverá mais ninguém para manter o mundo informado".

O número de jornalistas mortos em Gaza ultrapassa os 210 (outras organizações falam em 250) desde 07 de outubro de 2023, segundo dados da RSF, o que faz deste "o conflito mais letal para repórteres nos tempos modernos".

A organização assinala que "Israel tem impedido a entrada de jornalistas estrangeiros em Gaza há quase dois anos, deixando apenas os jornalistas palestinianos para reportar sob fogo".

Citado no comunicado, o diretor geral da RSF, Thibaut Bruttin, alerta que "não é apenas uma guerra contra Gaza, é uma guerra contra o próprio jornalismo. Jornalistas estão a ser mortos, alvo de ataques e difamados. Sem eles, quem vai falar da fome, quem vai denunciar crimes de guerra, quem vai expor genocídios", questiona.

O diretor de campanhas da Avaaz, Andrew Legon, diz que "Gaza se está a transformar num cemitério de jornalistas" porque "o governo de extrema-direita de Israel está a tentar concluir o massacre no escuro, sem o escrutínio da imprensa".

"Se as últimas testemunhas forem silenciadas, as mortes não cessarão - apenas deixarão de ser vistas. É por isso que estamos unidos hoje: Não podemos e não vamos permitir que isso aconteça", afirma.

Por sua vez, o secretário-geral da FIJ lembra que os jornalistas mortos "arriscaram tudo para contar a verdade ao mundo e pagaram com a vida. O direito do público à informação foi profundamente prejudicado por esta guerra. Exigimos justiça e uma convenção internacional da ONU sobre a segurança e a independência dos jornalistas", diz Anthony Bellanger.

Os ataques mais recentes contra jornalistas em Gaza ocorreram em 25 de agosto, quando forças israelitas bombardearam o complexo médico al-Nasser - um conhecido ponto de encontro de repórteres - matando cinco jornalistas. Duas semanas antes, outros seis jornalistas foram mortos num único ataque.