As reacções às palavras do Pep Clarós foram surpreendentemente instantâneas. Um jornal desportivo dominicano fez logo questão de publicar uma matéria alegando que o seu "contigente" de atletas nascidos além das suas fronteiras, precisamente seis, resultou de uma boa estratégia executada em tempo útil pela sua federação.
Quase na mesma hora foi igualmente publicado um artigo de opinião no prestigiado ESPN sobre este tema, identificando o articulista os mais mediáticos casos de naturalização de atletas mundialistas, como Jordan Clarkson, das Filipinas, Thomas Walkup, da Grécia, Mike Tobey, da Eslovênia, Carlik Jhones, do Sudão do Sul, e tantos outros.
Aqui de África chegaram-me reacções dizendo que nós angolanos não temos moral para fazer esta crítica, até porque fomos dos primeiros a recorrer a este expediente da naturalização de estrangeiros para reforçar as nossas equipas, como foram os casos do Agbel Boukar, do nosso saudoso Reggie Moore e da Italee Lucas ou ainda o caso do Kevin Kokila, que nasceu em França.
Penso que o seleccionador nacional não se referiu às circunstâncias como as do Reggie e do Agdel, que se fixaram no País, constituindo, inclusive, as respectivas famílias cá; nem como às de Italee Lucas, que há mais de 10 anos representa um clube por aqui, mas sim àquelas em que os atletas não têm a mínima conexão com o países que representam, não falando sequer a própria língua como bem referiu.
De acordo com os regulamentos da FIBA, um atleta tem que definir a sua nacionalidade desportiva até aos 16 anos, facto que tem despoletado uma verdadeira corrida para atracção de crianças com potencial físico e habilidades desportivas. Se a aquisição da nacionalidade ocorre após essa idade, o atleta é, para efeitos desportivos, considerado desportivamente naturalizado, que se limita à possibilidade da sua utilização em competições pela FIBA.
Este critério adoptado pela FIBA não me parece ser desportivamente o mais adequado. Para mim o ideal seria que os atletas pudessem representar nos escalões de formação os países que neles têm interesse.
Em todo caso, esta é uma discussão que não é recente e está muito longe se ser consensual todavia, pessoalmente, acho muito mais gratificante ter atletas na selecção criados e forjados aqui na nossa terra para o mundo do basquetebol. Isto sim é revelador do resultado do trabalho que é feito no País.
A lógica de uma competição mundial para mim está nesta espécie de correlação de forças, nesta saudável competição entre uns e outros. E, naturalmente, este quadro de uso excessivo de atletas nascidos e criados desportivamente fora dos países que representam distorce um pouco aquilo que deveria ser a pureza do desafio desportivo.n
*Presidente do Clube Escola Desportiva Formigas do Cazenga