Trata-se, claramente, de uma opção estratégica americana que, por respeitar os interesses que os EUA consideram úteis para o país, está para além de quem ocupa o cargo de Presidente dos EUA.

Dada a relevância desses interesses, a informação pública desse acordo coincidiu com a ruptura do fornecimento de submarinos que a Austrália tinha praticamente assente que viriam a ser fornecidos por França.

O elevado montante da encomenda, no valor de 60 mil milhões de dólares, conduziu ao agravamento da tensão diplomática de França com os EUA, que passará a ser fornecedor dos submarinos, agora, com equipamentos nucleares.

O que importa sublinhar nesta opção americana de priorizar os seus interesses geoestratégicos no Indo-Pacífico é, de facto, a secundarização da histórica relação Euro-Atlântica.

Isso não significa que os EUA prescindam dos aliados europeus, até pela importância que esses têm em relação à Federação Russa e à China, mas aparece inequívoco que, no novo quadro, a NATO diminuirá a sua influência e a UE não poderá deixar de repensar o seu posicionamento, reforçando em paralelo a sua autodefesa.

No novo quadro geoestratégico definido pelos EUA, há que ter ainda presente que, de par com o acordo AUKUS, os EUA têm outro acordo, também no Indo-Pacífico, quadrilateral com a Índia, o Japão e a própria Austrália.

Esta nova realidade mundial não deverá deixar de merecer particular atenção ao continente africano e, particularmente, a Angola.

Paralelamente com a questão indo-paquistanesa, ocorreram as eleições no passado domingo na Alemanha para o Bundestag (Parlamento alemão) e, no mesmo dia, tiveram eleições autárquicas em Portugal.

O novo Governo alemão, que será, inevitavelmente, de coligação, como o foram os quatro anteriores sob a liderança de Merkel, não estará formado antes do final do ano e, neste momento, ainda não se sabe quem será o chanceler que será escolhido pelo Bundestag.

É admissível que venha a ser o líder do partido social-democrata alemão, Olaf Schold, mas há que aguardar.

É que a Alemanha, enquanto motor da UE, terá uma palavra muito importante para o reposicionamento internacional da UE face ao novo quadro geoestratégico mundial.

As eleições autárquicas em Portugal demonstraram a vitalidade da democracia com milhares de candidaturas em listas partidárias a concorrerem.

Como é sabido, só os partidos que foram constituintes da democracia continuaram a eleger Presidentes de Câmara, no caso o PS, o PSD, o PCP e o CDS, como era expectável.

O PS continua a ser o partido maioritário nas autarquias, apesar de ter perdido importantes bastiões como Lisboa, Coimbra e Funchal. Daí a subida do PSD que, ainda assim, tem pelo menos 30 presidências de Câmara a menos que o PS. O CDS, acobertado em listas conjuntas com o PSD, procurou dar prova de vida e o PCP ficou restrito, agora, a 19 presidências de câmara.

Apesar de muitas surpresas, sobretudo na capital, Lisboa, onde o PS perdeu, o importante é sublinhar o respeito pela democracia de que os partidos e os eleitores deram prova com civismo e aceitação dos resultados expressos de forma transparente.

Sublinho este facto, que deve orgulhar os países de língua portuguesa pelo exemplo, tal como sucedeu nas últimas eleições em Cabo Verde, um país de reconhecida boa governação.

Esta referência às recentes eleições em Portugal não poderia deixar de ser feita, sendo, porém, certo que os factos respeitantes ao Indo-Pacífico e ao reposicionamento geoestratégico que dele decorre constituem a razão essencial do presente artigo e de que falei, dando conta que o mundo está mesmo em mudança.

Uma grande, muito grande mudança que merece muita mas mesmo muita atenção... n *(Secretário-geral da UCCLA)