No exercício da actividade jornalística, procuramos ser coerentes com os princípios da liberdade, imparcialidade, isenção, objectividade, rigor e outros. Procuramos pautar a nossa actividade diária em torno destes e outros valores fundamentais. O chamado Quarto Poder, que procura sempre estabelecer uma relação aberta, livre e independente com os outros poderes que estão acima de si, sabendo sempre que estes poderes na realidade têm sempre receio que este Quarto Poder tenha poder de facto, procurando controlar-lhe e limitar-lhe ao lugar de um Quarto do Poder.
O poder político lida mal com o escrutínio livre e objectivo que lhe é feito pelo jornalismo. Lida mal com a sua liberdade, objectividade e pluralidade, procurando reduzi-lo a uma mera caixa de ressonância do poder ou uma unidade de propaganda. Há um ambiente em que se vai limitando, controlando e "asfixiando" o jornalismo e jornalistas. Uma excessiva e abusiva interferência, o poder político na linha editorial dos órgãos de comunicação social públicos e no exercício da actividade jornalística. Por causa da manutenção do tacho e da defesa do status até muitas ditas e tidas como referências acabam apanhadas na incoerência entre os princípios e valores que demostraram defender e proteger, porque outros "valores" se levantam.
Este é o preço da incoerência que uma classe está a pagar em nome e defesa de agendas pessoais e muitas vezes ocultas, tudo alimentado por poderes políticos e corporativos que querem ter sempre o jornalismo e jornalistas no "kafrique", que procurar usar e manipular toda uma classe no interesse das suas agendas de manutenção ou conquista de poder. Promovem a divisão na classe, hostilizam os jornalistas politicamente incorrectos, afastam os ideologicamente indisciplinados e não toleram os doutrinariamente desalinhados.
Mas, a necessidade de controlo faz também que o poder judicial sucumba aos apetites e ditames do poder político. Os juízes, tidos e encarados como figuras livres e isentas, como a reserva moral e da aplicação de uma justiça justa, acabam também por entrar na lista dos "kafricados" do poder político. A honra, a dignidade, a elevação e o respeito dos ditos tribunais superiores são jogadas discutidas e avaliadas até já no bar da esquina. A captura do sistema judicial pelo poder político, onde sentenças e acórdãos são decididos no "edifício partidário" do Largo dos Ministérios, promovendo aos olhos dos cidadãos reais da era digital a completa banalização de órgãos como o Tribunal Constitucional, que vive uma das maiores crises de credibilidade institucional. Quando não se julga em nome do povo, mas em favor ou interesse de grupos. Quando juízes têm medo de decidir de acordo com a sua consciência e ética, quando privilegiam a obediência a estratégias de lutas pela conquista e manutenção do poder, é um mau caminho que estão a trilhar.
Não estão a ser coerentes com os valores e ensinamentos que partilharam na academia e com o estatuto de mestres que adquiriram por mérito próprio junto dos seus discípulos. E é logo nesta fase da sua vida que deitam tudo a perder e arriscam-se a pagar bem caro o preço da incoerência? Como ousam defraudar, assim, os seus discípulos? Como os vão encarar? Como pretendem ser abordados pelos seus filhos? Como acham que serão recordados pelos seus netos? Será que a História os absolverá? Como foi possível uma instituição digna e de respeito como o Tribunal Constitucional, com quadros experientes, cientes e competentes permitir-se ficar no "kafrique" e à mercê das agendas político-partidárias? Como é que se deixou passar de uma instituição credível e respeitada para uma instituição que hoje vê a sua credibilidade abalada e ridicularizada nas conversas de bar, nas corridas de táxis ou até entre jogadores do "Não Te Irrites". É o preço da incoerência que muitas classes e instituição estão a pagar pelo alinhamento e cumprimento de agendas. Não merecíamos isso.