Fez aquilo que um companheiro de trabalho, hoje membro do Bureau Político do MPLA, me disse há cerca de trinta anos - a construção de Angola será muito mais rica se tivermos uma política inteligente de captação de estrangeiros com capacidades técnicas e empresariais que venham para ficar, trabalhar, constituir família (se for o caso) e fazer deste o seu segundo país.

Este meu amigo fez isso, casou com uma angolana, está a mergulhar nos hábitos e costumes e noutros aspectos que podem conformar uma certa cultura da terra e tem contribuído com o seu esforço e conhecimento, na medida das suas possibilidades, para a construção do nosso país, numa dimensão muito superior à de muitos angolanos com responsabilidades a vários níveis.

A nossa conversa andou à volta da situação do país e cada um falou sobre as suas experiências e reflexões. Perante o meu conhecido cepticismo em relação ao rumo que na realidade estamos a seguir, ele pediu, quase desesperado, que falasse sobre aspectos positivos, pois sentia-se deprimido perante os factos vivenciados por si e pelos relatos de outros que chegavam ao seu conhecimento. E concluía quão preocupado estava pelo facto de vários amigos, que haviam feito trajectória idêntica, e até alguns angolanos, estarem a desistir, não apenas porque a vida se tornava cada vez mais difícil, mas também porque estavam decepcionados com o tal rumo.

Falarei aqui, pois, de alguns aspectos positivos, alicerçado sobretudo nas vivências de uma Angola que, apesar das contingências e do pouco peso relativo, está, ou pode vir a estar, a dar certo.

Começarei por referir a minha última chegada ao aeroporto 4 de Fevereiro, vindo do exterior do país. Influenciado ou não pelas mudanças que se registam na TAAG, pela primeira vez em décadas a minha angústia da chegada foi minimizada. Organização e rapidez nos serviços dos serviços de migração, na saída das malas e no acesso aos poucos carros de mão para carregamento de malas (quem viaja para o estrangeiro sabe bem do que estou a falar). E pensei que, afinal, não é difícil prestar aos cidadãos um serviço com um mínimo de qualidade e que isso não tem a ver com "a falta de divisas por causa da baixa do preço do petróleo". (Infelizmente outras instituições caminham no sentido contrário, mas isso será matéria para outra conversa).

Sou suspeito quando se fala da ADRA pelo meu envolvimento com ela desde a sua criação. Mas hoje falo mais à vontade por ser amplamente reconhecido o seu papel e protagonismo na sociedade angolana, desde os cidadãos que beneficiam ou não da sua acção, às instituições públicas e privadas e aos partidos políticos e a própria comunicação social. Um reconhecimento que está em crescendo.

Na semana passada, na Caála, província do Huambo, foram vividos momentos muito especiais durante o já tradicional Encontro Nacional das Comunidades com as quais a ADRA trabalha. Uma antropóloga brasileira, que nunca havia ouvido falar da organização e participou por mero acaso, mostrou-se surpreendida com a qualidade do ambiente democrático.

(Pode ler a opinião de Fernando Pacheco na sua versão integral na edição nº 458 do Novo Jornal, nas bancas, ou em edição digital, que pode pagar via Multicaixa)