Segundo os docentes, a paralisação é uma resposta à inacção do Ministério da Educação, Ciência e Inovação (MECI) de Portugal, no que diz respeito à equidade salarial entre o corpo docente da EPL.

Os grevistas acusam o actual governo português, liderado por Luís Montenegro, de desvalorizar as condições laborais dos docentes e dizem-se "enganados" pelas promessas do ministro da Educação, Ciência e Inovação (MECI), Fernando Alexandre, feitas aquando da sua visita à EPL no ano passado.

Na altura, o ministro garantiu que estava a ser estudado um subsídio para os docentes das Escolas Portuguesas no Estrangeiro e que a equidade entre os docentes era fundamental para boas condições de trabalho.

Em declarações ao Novo Jornal, uma das professoras participantes da greve salienta que a paralisação ocorre devido à falta de resposta do MECI às suas reclamações, apresentadas por cartas e outros meios.

"Somos funcionários do Ministério da Educação Português, pertencemos ao Estado português, trabalhamos com muitos colegas que também pertencem ao Estado português e as condições que uns têm são completamente diferentes das condições dos outros. Portanto, estamos a ser discriminados pelo nosso próprio Governo, o que é muito grave e incompreensível", lamenta.

"Estamos tristes porque não queremos estar em greve. Queremos estar a trabalhar, queremos estar com os nossos alunos, mas, de facto, chegámos ao nosso limite. Ninguém nos ouve, então tivemos que tomar esta atitude mais extrema mas é sombrio para nós. Estamos desanimados porque já era tempo de olharem para nós", explica a docente.

Os professores mantêm a esperança de que a greve não precise de durar os cinco dias previstos e que o MECI apresente soluções concretas para as suas reivindicações, permitindo o regresso ao trabalho. Caso contrário, ponderam novas formas de luta. "Um passo de cada vez", assegura.

Os professores do quadro da EPL, vinculados em concurso extraordinário em Setembro do ano passado, queixam-se do agravamento das condições e de injustiças, e não descartam a possibilidade de deixar a instituição antes do final do ano lectivo, por a situação se ter tornado insustentável. E destacam que a transição da gestão da escola, iniciada em 2021, resultou numa "perda substancial de regalias e remunerações, colocando estes profissionais numa situação de desigualdade face aos colegas em mobilidade estatutária".

"Estamos a receber pelo 1.º índice da tabela salarial de Portugal (1.657) e, ainda assim, fazemos muitos descontos. Portanto, estamos a receber muito menos do que estaríamos a receber se estivéssemos em Portugal", lamenta uma das docentes que refere que os salários actuais são "insuficientes" para cobrir despesas básicas como alimentação, saúde, educação, alojamento e transporte.

Além da tabela salarial dos professores do quadro, que não recebem qualquer subsídio, a EPL conta com professores em mobilidade estatutária, com regalias como seguro de saúde e viagens para os descendentes e familiares, subsídio e salários pagos em Portugal (isento de impostos). A instituição tem ainda professores do mapa de pessoal residual, que transitaram da antiga direcção, a Cooperativa Portuguesa de Ensino em Angola (CPEA), com salários e subsídios pagos em Luanda e os contratados, estes últimos apenas com um salário que considera ser "verdadeiramente uma miséria", de acordo com os docentes.

A EPL, criada na década de 80, foi até 2021 gerida pela Cooperativa Portuguesa de Ensino em Angola (CPEA), mas, a partir de 07 de Setembro de 2021, passou a ser gerida pelo Ministério da Educação português, após um litígio com alguns cooperantes.