"Este julgamento não irá resolver o problema da liderança da Igreja Universal do Reino de Deus em Angola, que nesta altura anda em conflito por razão que todos sabemos (a gestão financeira). Não adianta trazerem aqui assuntos que não são matérias da acusação e que não competem a este tribunal nem a outros", disse o juiz Tutri António, após três meses de discussão e julgamento, no dia em que foram apresentadas as alegações finais.

Segundo o juiz principal, o problema da liderança compete apenas aos membros da IURD e a mais ninguém.

Tutri António pronunciou-se depois de alguns fiéis na assistência se insurgirem contra as declarações de um dos advogados de defesa na sala de audiência, quando este refutava as acusações.

O magistrado chamou a atenção das partes para deixarem de lutar de forma desnecessária e aconselhou-as a focarem-se na luta cristã, "que visa salvar almas perdidas e pregar o evangelho".

Segundo o juiz, o tribunal vai apenas julgar e condenar os factos provados em sede do julgamento, ou, caso não fiquem provados, absolvê-los.

"Há relatos que trazem aqui que são vergonhosos. Vocês como fiéis da igreja devem ter vergonha de trazer esses assuntos, internos, a tribunal. Se A ou B falhou na igreja, esse é assunto da igreja e não da Justiça. A Justiça não irá resolver o vosso problema de liderança, a IURD é uma marca mundial, e todos sabemos que gera boas receitas financeiras e essa é a vossa luta. Como crentes que são deviam ter muita vergonha desse conflito", aconselhou.

Tutri António salientou que fruto desta luta entre as alas só não houve mortes até agora porque Deus conseguiu impedir que isso acontecesse.

"A vossa ambição faz com que os senhores não respeitem a entidade divina. Deveriam temer a Deus e ter amor o próximo, não lutarem entre si, independentemente de existirem falhas do grupo A ou B. Os senhores deviam parar e refletir sobre essa disputa porque quem sai a perder é a marca IURD, com que todos vocês se identificam".

Conforme Tutri António, o comportamento que muitos declarantes das duas alas apresentaram não é de alguém temente a Deus.

"Os senhores têm de pensar e repensar essa vossa disputa da liderança, os cristãos conversam e se entendem, não se atacam ou lutam como vocês fazem. Uns irão chorar, outros irão festejar e outros vão orar no dia da sentença", avisou o juiz acrescentando que "os problemas das mágoas não serão resolvidos pelos tribunais.

Tutri António deixou claro que a possível decisão condenatória ou de absolvição dos arguidos, não irá resolver a situação dos conflitos na IURD.

"São vocês mesmo que devem ultrapassar os problemas internos da IURD na base do diálogo e do perdão. É a IURD que perde fiéis e património com essa luta desnecessária sobre a liderança da igreja em Angola", disse.

De recordar que a luta na IURD teve início em Novembro de 2019, quando um grupo de mais de 300 pastores angolanos subscreveram um manifesto em que renunciavam integrar a igreja sob a direcção brasileira, originando assim a separação.

No manifesto, a direcção brasileira era acusada de actos de racismo, evasão de divisas, procedimento obrigatório de vasectomia.

Na sequência das acusações, a Procuradoria-Geral da República (PGR) abriu um processo e ordenou o encerramento dos templos, acusando bispos e pastores de crimes de associação criminosa, branqueamento de capitais e violência doméstica.

Em julgamento estão os bispos e pastores Honorilton Gonçalves, António Miguel Ferraz, Belo Kifua e Fernando Henriques Teixeira.