Ossanda, inclusão, igualdade e amor a Lisboa são os três pilares que apresenta na sua estratégia para liderar a capital portuguesa. Em que assentam?

Optei por esses três pilares porque são aqueles que, de certa forma, resumem aquilo que é a nossa candidatura. É uma candidatura pela humanidade. Humanidade no sentido de sermos mais humanos, no sentido de se propor uma gestão municipal que vá ao encontro daquilo que são as dificuldades reais das pessoas e as necessidades individuais de cada um, ao invés de se ver a coisa como um colectivo.

Portanto, e se pensarmos nas pessoas, naquilo que lhes faz feliz, que lhes faz bem, que as faz sentir bem numa sociedade, no caso numa cidade, esses factores, de certa forma, são aqueles que são transversais, e depois de interrogarmos as pessoas na rua e percebermos que, efectivamente, são elas que, de certa forma, compilam as necessidades das pessoas, aquilo que elas esperam duma autarquia.

Em termos de inclusão, o que é a inclusão? No início, confesso que, quando fui à rua e pela minha própria característica de imigrante, eu, inicialmente, achava, mas, em todo o caso, defini que aqueles que seriam a prioridade no plano de inclusão, que iríamos apresentar, seriam, efectivamente, os emigrantes.

Considera Lisboa uma cidade inclusiva?

Penso que Lisboa não exclui, mas não inclui, ou seja, as pessoas são deixadas a si mesmas, de certa forma, ou seja, cada um por si, e é exactamente esse o sentido da nossa candidatura. Cada um por isso não funciona. Vivemos em comunidade, o ser humano socializa, o ser humano depende um do outro e a autarquia não pode estar ausente da vida de cada

indivíduo, não pode generalizar as medidas, uma vez que cada pessoa ou cada grupo de pessoa tem as necessidades específicas, e uma autarquia perfeita, na minha óptica, é aquela que vai ao encontro das necessidades específicas de cada pessoa.

Lisboa é, acima de tudo, uma cidade multicultural, e isso pode ajudar a nível do acolhimento e da inclusão?

Sim, é multicultural. E atenção que Portugal em si é um país de acolhimento, ou seja, Portugal não exclui ninguém, no sentido de definir regras demasiado estritas da emigração. Portanto, Portugal recebe. O ponto aqui é não basta receber. O ponto aqui é que as pessoas, quando chegam a Portugal, ficam perdidas, elas não sabem por onde se virar, não sabem como começar o processo de legalização, porque essa informação não existe, não consta, não está compilada, em todo o caso. Então, o que queremos é que o que acontece é que, como Portugal não informa, como Portugal não tem uma política de acolhimento específica, o que acontece é que passa a impressão de que é um país que não gosta dos estrangeiros, e eu acho que é injusto. Não é essa a minha experiência, não é essa a experiência que as pessoas ao meu redor têm.

Falta aí política de integração...

Faltam políticas de integração, mas, antes mesmo disso, falta a informação. As leis existem, todos os anos tem-se estado a evoluir bastante, no que diz respeito às leis de integração, mas elas não são divulgadas, não são publicitadas, então as pessoas não as conhecem.

E o que acontece? Por desconhecimento, as pessoas acabam por cair. Eu diria, na armadilha de advogados, enfim, de cidadãos que se propõem ajudar essas pessoas, com o pretexto de que é tudo muito complicado, que é tudo muito difícil, acabam, de certa forma, por explorá-las. Além do custo que isso tem para essas pessoas, elas esperam imenso tempo para conseguir regularizar o processo, porque obviamente, quanto mais tempo, mais rentável é para elas, para esses supostos ajudantes, e isso faz que o processo de integração seja muito mais longo, o que prejudica Portugal. Porquê? No caso de Lisboa, prejudica Lisboa, bastante porque, enquanto essas pessoas não estiverem legalizadas, enquanto estão no limbo, o que acontece é que elas depois acabam por trabalhar por fora, ou seja, trabalhar ilegalmente, consequentemente não declaram os seus impostos, consequentemente Lisboa não tem a perfeita noção do que é feito dessas pessoas que chegam a Portugal, onde é que elas estão, o que realmente estão a fazer, qual é a intenção delas, e então isso está bastante descontrolado, e é isso que queremos propor no que respeita aos emigrantes. Que haja um departamento que se ocupe na câmara desta situação, que trabalhe obviamente junto das entidades!

Neste caso, vamos falar deste gabinete exclusivamente dedicado ao apoio à emigração, como apresenta aqui? Como é que ele vai funcionar?

Por acaso, estivemos a reflectir sobre esse tema, e sendo que a inclusão não é só da emigração, e eu gostaria de falar sobre isso. Pensamos que o gabinete devia ser um gabinete pela inclusão. Inclusão, no geral, porque existem mais do que os emigrantes que precisam de ser incluídos, em Portugal. Há vários grupos de pessoas que não se sentem como parte disso, gostam de Lisboa, muitas nasceram cá, outros não. A verdade é que elas sentem que não são tidas nem achadas na hora das decisões políticas que concernem às suas vidas. Portanto, este gabinete de inclusão trataria de agregar todas as políticas necessárias para a integração de todas as pessoas que se sentem desintegradas, todas as pessoas que se sentem excluídas acabavam por ter uma atenção especial, é importante, é um factor absolutamente essencial, para que as pessoas se sintam bem e para que Lisboa seja para todos.

Ossanda, temos visto uma Lisboa muito virada para atrair e para receber turistas, e nem tanto até para acolhimento de imigrantes. A sua candidatura pretende também mudar esse quadro?

Portugal precisa de imigração. Pronto! Eu candidato-me enquanto lisboeta, que isso fique claro, e tenho a preocupação sobre várias questões que podem ser resolvidas se tivermos um melhor processo de imigração. Portanto, quanto à imigração, Portugal precisa de imigração, e Portugal sabe disso. Todos os dados indicam. Ainda este ano, como deve saber, foi publicado, há dois meses, o resultado do censo, e, do ponto de vista da natalidade, é importantíssimo o contributo da imigração, também no que diz respeito às contas do país, e, no caso de Lisboa, é bastante relevante. Portanto, esse tema não pode ser de forma alguma subestimado.

E sobre esta questão, li algumas coisas e alguns candidatos, principalmente aquele que se recandidata para a Câmara de Lisboa, Fernando Medina, falava um bocado da necessidade daquela questão do alojamento local, voltar às casas para os seus habitantes. O que se percebe é que, nalguns bairros tradicionais, os bairros estão a perder a alma e as suas gentes?

Eu não concordo, eu não creio. Assim como não acontece em nenhuma capital europeia, os turistas não são quem, de certa forma, faz perder a identidade dos locais. O que deve haver é um regulamento, isso tem de ser regulamentado, isso tem de estar claro, efectivamente quais são as zonas mais propícias para acolher alojamento local, assim como hotéis, devem ter o mesmo tratamento, na minha óptica, porque são turistas, de todas as maneiras, mas é preciso perceber que o alojamento local resolveu também a vida de muitas famílias, muitas famílias que tinham orçamento muito baixo e, em todo o caso, insuficiente, e que, graças ao facto de serem proprietários de casas, conseguiram ganhar mais algum dinheiro, sem dizer que a cidade também ganha com isso, mas vamos falar para as pessoas. Portanto, há várias famílias que hoje em dia contam com isso para conseguir aquele extra necessário para ter uma vida melhor.

Portanto, penso que aquilo de que se está a falar agora, que o actual candidato, Medina, quer propor de acabar com o licenciamento do alojamento local, essa só pode ser uma medida populista. Portugal precisa de turismo, Portugal é um país com grandes dependências do turismo, portanto isso não pode ser visto desta forma.

Também precisa de preservar a memória histórica dos locais, não é?

Sim, é disso que se trata, é o acolhimento dos turistas, seja em hotel, seja em alojamento local, tem de ser organizado, de forma a não prejudicar a qualidade de vida de quem mora aqui, e isso é possível. Há várias outras cidades que conseguiram encontrar formas de conciliar a vida das pessoas, dos locais, com o acolhimento dos turistas, uma vez mais, repito, não se devem distinguir os turistas do alojamento local dos turistas dos hotéis.

A única questão aqui delicada é em termos de comportamento. Portanto, o que se passa, muitas vezes, é que os turistas são acolhidos pelas casas, pelas residências, pelas famílias, e depois não têm um comportamento que é esperado num condomínio e, obviamente, os outros condóminos manifestam-se, não gostam, e depois há toda uma onda de protesto face a isso, mas isso há formas de resolver, a partir do momento em que há um regulamento e que as

pessoas que não cumprem com o regulamento são sancionadas, e sancionadas como deve ser, sancionadas à medida do prejuízo que causam. Considero que isso acaba por ser um factor dissuasor, e o que vai acontecer é que, de facto, as pessoas vão ter mais cuidado. Um: com quem acolhem; dois: em garantir que o facto de acolher aquelas pessoas na sua casa, temporariamente, não perturba aquilo que é o funcionamento normal do condomínio.

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