Num documento assinado pelos directores destas três agências das Nações Unidas, Qu Dongyu, da FAO, Tedros Adhanom Ghebreyesus, da OMS, e Roberto Azevedo, pela OMC, o mundo é advertido para o iminente cenário de insegurança alimentar que pode afectar milhões de pessoas em todo o mundo, mas com especial enfoque nos países em desenvolvimento.

Com data de 30 de Março, este documento explica que as medidas que estão a ser tomadas pela generalidade dos países para estancar a progressão da pandemia da Covid-19, que em Dezembro do ano passado começou a espalhar-se pelo mundo a partir da China, exigem especial cuidado para que o comércio internacional não seja severamente afectado de forma a garantir que as linhas de abastecimento alimentar mundiais não são interrompidas.

Isto porque os representantes destas agências, que são originários da China, da Etiópia e do Brasil, estão preocupados com a possibilidade real de a Covid-19 poder bloquear as trocas comerciais globais de forma a abrir espaço para a insegurança alimentar em várias regiões do globo, sendo que as geografias mais desfavorecidas, como a africana ou partes da asiática, estão na linha da frente do risco de fome para milhões dos seus habitantes.

Como pode ser lido nas páginas oficiais das três agências, a protecção da saúde e do bem-estar dos seus cidadãos é essencial para "garantir que essas medidas não vão gerar disrupções nas cadeias de abastecimento alimentar", como, por exemplo, sucederá se os trabalhadores agrícolas não puderem trabalhar os campos e nas fronteiras forem impostos bloqueios que abranjam as cargas de alimentos, no geral, mas frescos, com risco de degradação, em particular, provocando a destruição de toneladas de comida essencial para algumas partes do mundo.

As restrições nas trocas comerciais em alimentos podem, alerta ainda esta posição conjunta da FAO, OMS e OMC, resultar de excesso de receio por parte dos países produtores que estes faltem localmente, retendo o seu envio para o exterior, incluindo países que há muito tempo têm aqueles fornecimentos tidos como garantidos.

"As incertezas provocadas pela pandemia no fornecimento contínuo de alimentos pode gerar uma vaga de restrições com potencial de atingir com gravidade o mercado global alimentar, atingindo com especial vigor as populações mais desfavorecidas dos países em desenvolvimento", avisam Qu Dongyu, da FAO, Tedros Adhanom Ghebreyesus, da OMS, e Roberto Azevedo, pela OMC.

No mesmo diapasão, sublinham que, a par das restrições podem ser criadas situações de desequilíbrio entre o fornecimento e a procura, com o aumento e a volatilidade de preços como consequência, criando ainda dificuldades extra para as organizações humanitárias que já se encontram no terreno a apoiar populações afectadas pela fome em resultado de conflitos armados ou de prolongadas secas.

A cooperação internacional surge como a solução para impedir que os piores cenários ocorram, lembram ainda os directores das três agências da ONU, sublinhando que este é o tempo da solidariedade e de agir com responsabilidade de forma a não criar ainda mais obstáculos aos esforços globais em curso para diminuir a insegurança alimentar para as populações mais desfavorecidas.