Em comunicado, a administração da Catoca informa ainda que optou por adiar alguns investimentos que estavam calendarizados e procedeu a um reajustamento dos planos de despesas operacionais, de forma a lidar com uma crise que, sendo global, está a afectar de forma substancial a produção nacional de diamantes que, segundo o presidente da Empresa Nacional de Diamantes (Endiama), Ganga Júnior, anunciou na semana passada, vai este ano diminuir cerca de dois milhões de quilates na sua produção normal de 10 milhões.
A operar desde 1996, a Catoca emprega cerca de 3.500 trabalhadores e tem como força motriz estar situada sobre o 4º maior kimberlito do mundo, sendo responsável pela maior parte dos cerca de 10 milhões de quilates que Angola produz anualmente, tendo, números de 2018, produzido perto de sete milhões de quilates, o que ronda os 75 por cento do todo nacional.
O negócio dos diamantes está a sofrer fortemente o impacto da crise económica gerada no rasto da pandemia da Covid-19, com uma redução significativa das vendas de gemas em bruto em todo o mundo, levando as maiores multinacionais, como a russa Alrosa ou a De Beers, com sede em Londres, a aplicarem plano de contenção de custos e, nalguns casos, com despedimentos de milhares de trabalhadores.
Isso mesmo confirma a Catoca, liderada por Benedito Paulo Manuel, que, neste comunicado, citado pela Angop, depois de no final de Março já ter anunciado algumas restrições, como o Novo Jornal noticiou, adianta que as medidas agora anunciadas surgem num momento em que as vendas estão paradas, "nem se compra, nem se vende diamantes" em parte nenhuma e as empresas deixaram de ter receitas, o que obriga a este tipo de medidas.
Um dos exemplos avançados é o da Índia, a denominada lapidadora do mundo, que absorve a maior parte do trabalho de lapidação das gemas produzidas em Angola, que, sublinha a Catoca, está com o seu mercado estagnado "e com grandes stocks lapidados e brutos", que poderá traduzir-se num alongamento do calendário da retoma de compras mesmo depois da crise ser ultrapassada.
Os lideres das organizações profissionais da indústria da lapidação indiana, cuja mais saliente é a Gem & Jewellery Export Promotion Council, acabam mesmo de anunciar uma paragem na importação de diamantes em bruto até 30 de Junho como forma de tentar escoar a matéria-prima existente em stocks produzidos antes da crise pandémica.
Para além da crise económica, que produziu o maior impacto nas vendas, existe ainda um leque alargado de constrangimentos relacionados com as medidas de contenção da pandemia, desde logo o estado de emergência em centenas de países, que levou a dificuldades em fazer circular mercadorias.
Com várias fábricas encerradas, algumas delas essenciais para alimentar a indústria diamantífera, como, por exemplo, pneus para as máquinas de grande porte, foram surgindo cada vez mais dificuldades em manter a actividade imune ao estado em que o mundo se encontra, onde a prioridade das pessoas, mesmo nas grandes economias importadores de diamantes, como os EUA e a China, não é comprar jóias.
Este cenário de dificuldades generalizadas tinha já sido sublinhado na semana passada, quando o presidente da Endiama, Ganga Júnior, durante a cerimónia de anúncio dos resultados do concurso público para a prospecção e exploração de diamantes, ferro e fosfatos no país, admitiu que neste momento não existe mercado para os diamantes, obrigando a uma redução importante da exploração em todas as minas nacionais.
Ganga Júnior notou que se revelou incontornável reduzir a intensidade da exploração e impossível manter todos os trabalhadores em actividade.
"Estava previsto produzir este ano perto de 10 milhões de quilates este ano e agora vamos ter de ajustar os planos, porque este é um período bastante complicado mas que pode estar resolvido dentro de quatro meses", disse, acrescentando que está em curso uma redução de cerca de 20% da produção, o que se traduz numa redução de 10 para oito milhões de quilates no fim do ano.
O presidente do conselho de administração da Endiama disse, todavia, que as empresas estão a conseguir manter-se, apesar dos planos de contingência, com todas as minas do país em funcionamento, pelo menos parcialmente, embora as vendas tenham travado a fundo.
Neste momento, a estratégia é não ter pressa para retomar enquanto o mercado não melhorar, e isso mesmo fica claro quando Ganga Júnior admite que o último gigante encontrado em Angola, na mina do Lulo, na Lunda Norte, onde a Endiama é sócia dos australianos da Lucapa Diamond Company e da Rosa & Pétalas, com 171 quilates, deverá ser vendido em leilão em Luanda mas apenas quando as condições forem mais favoráveis.