Dos 60,51 USD por barril no final do dia de sexta-feira aos 59,05 USD perto das 09:15, o barril de petróleo mantém o curso das perdas acentuadas, voltando, depois de algum alívio, para a fasquia dos 50 dólares, território perigoso para as contas públicas angolanas.

Isto sucede num momento, hoje, em que o Presidente da República, João Lourenço, vai ao Parlamento explicar ao país, no Discurso à Nação, no arranque da 3ª sessão legislativa da Legislatura, como está a economia nacional, que resultados obteve com as suas políticas e reformas e o que espera que suceda nos próximos tempos, que são tempos exigentes devido, entre outras questões, à realização das eleições autárquicas em 2020, à aplicação incontornável de medidas duras, como o fim dos subsídios dos combustíveis... e com a fase mais relevante da aplicação do acordo de austeridade com o Fundo Monetário Internacional.

Mas, do outro lado do mundo, onde se decide o seu valor diário, o que está por detrás da perda de valor do crude nada tem a ver com o estado das finanças públicas angolanas, mas tem tudo a ver com a economia chinesa, cujo crescimento está, segundo as agências de notícias internacionais, a mostrar fraqueza, o que se repercute imediatamente na procura global de petróleo.

Como avança a Reuters, os dados estatísticos dos últimos dois dias mostram que o valor da produção industrial do gigante asiático tomba e em valores, referentes ao mês de Setembro, como já não sucedia há três anos, sendo igualmente verdade que os dados das importações chinesas cedem já por cinco meses consecutivos.

Como pano de fundo a esta realidade está a longa batalha comercial entre os EUA e a China, materializada através do aumento de tarifas sobre as importações de um e do outro lado, o que já levou a que Washington castigasse Pequim com aumentos de taxas sobre mais de 300 mil milhões de dólares das importações Made in China, enquanto Pequim já quase chegou aos 100 mil milhões de represálias sobre os bens Made in USA.

Apesar de a última ronda negocial entre as duas maiores economias planetárias ter sido anunciada como tendo corrido bem, os mercados já descontam a incoerência do Presidente norte-americano, porque a sua opinião e medidas podem mudar em escassas dias, ou mesmo horas.

A juntar a este problema, os EUA estão ainda a anunciar sanções económicas à União Europeia e à Turquia, no primeiro caso devido ao apoio dos Estados à construtora europeia Airbus, que Trump entende serem vantagens sobre a norte-americana Boeing, e no segundo, por causa da invasão turca do norte da Síria, depois de os EUA terem retirado as suas tropas do território curdo.

Moscovo e Riade afinam estratégias

A Arábia Saudita e a Rússia, os dois maiores produtores mundiais em potência e actualmente os dois maiores exportadores globais, acabam de anunciar a assinatura de um acordo com o qual pretendem estreitar os laços de cooperação no seio da OPEP+, órgão similar à OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) mas que agrega outros produtores, incluindo a Rússia, e que, no fim da linha, levará a que esta forma organizacional passe a ter estatuto de oficial e não ad hoc, como ocorre actualmente.

Este acordo foi assinado durante a visita do Presidente russo, Vladimir Putin, à Arábia Saudita, na segunda-feira, 14, onde os dois países mostraram que estão disponíveis para criar uma parceria que permita esbater os esforços globais do Presidente Trump para manter o crude em baixa, como interessa à economia norte-americana e à sua estratégia eleitoral para que possa ser eleito em 2020, quando em Novembro disputar as eleições Presidenciais para tentar um segundo mandato.

Para além deste acordo, que incide directamente sobre o controlo da oferta de crude mundial - a Rússia e a OPEP estão organizados desde Janeiro de 2017 nesse sentido, com cortes artificiais na produção para equilibrar os preços do barril em alta -, empresas russas e sauditas assinaram diversos acordos no âmbito do sector dos petróleos e da energia, nomeadamente para o desenvolvimento de equipamento e infra-estruturas petrolíferas.

Face à evidência de que a Rússia é essencial para o controlo da produção - a Arábia Saudita, a Rússia e os EUA, com produções potenciais entre os 11 e os 12 milhões de barris por dia, são os três maiores produtores mundiais -, esta consolidação da aproximação estratégica entre Moscovo e Riade deverá permitir perceber nas próximas semanas se o valor do crude nos mercados pode efectivamente ser melhor controlado.

Isto, porque os EUA e a China - que são os dois maiores consumidores mundiais de petróleo -mantêm uma guerra comercial com escassas possibilidades de ser dissolvida totalmente no curto prazo, o que incide de forma pesada e directa sobre a produção industrial total e, subsequentemente, sobre a procura de petróleo.

A criação desta plataforma de entendimento entre Riade e Moscovo é mesmo considerada pelos analistas essencial, porque as reservas russas não têm parado de crescer nos últimos dois anos, tendo mesmo chegado a um recorde de 1,2 triliões de dólares, o dobro do valor existente no final de 2017.

Se a Rússia mantivesse a sua política de venda livre, porque todos os seus OGE são elaborados a partir de um valor do barril de 40 USD, então, devido à grandeza das suas reservas, o mais provável seria que o barril estabiliza-se em torno desses mesmos 40 USD, o que seria aceitável para Moscovo mas um desastre para os sauditas, que, face à grave crise económica que atravessam, carecem do barril acima dos 85 USD para garantir o equilíbrio das suas contas públicas.

E o mesmo sucede com a maioria dos países exportadores e dependentes das vendas de crude, como é o caso de Angola, que tem o seu OGE construído com o barril nos 55 USD.