As agências e os sites internacionais especializados no negócio do petróleo sublinham, para além da queda de 3 por cento entre sexta-feira e a abertura hoje, que foi de 1% logo no arranque, em Londres, o facto de o barril estar a atravessar o seu pior momento em seis meses.

Mas, como a razão para este mau desempenho da matéria-prima é claramente a guerra comercial China/EUA, que ameaça queimar a economia mundial, acrescida da tensão gerada pelo ataque feroz da Administração de Donald Trump ao gigante chinês das telecomunicações, a Huawei, o potencial de danos actual está a ser equiparado ao momento em que, em meados de 2014, o mundo viu iniciar-se a mais grave crise no sector petrolífero em décadas e do qual, como é o caso de Angola, a maior parte dos países produtores/exportadores ainda não ultrapassaram.

Para a passada larga desta crise, está a servir de chão os ataques de Washington à China através de tarifas e taxas sobre os produtos Made in China e, o contra ataque de Pequim, contra os bens importados dos Estados Unidos, que já somam mais de 300 mil milhões de dólares, afectado as duas maiores economias do planeta e a consequente baixa na produção e o incontornável desconforto dos dois mais pujantes motores dos negócios da actualidade.

Donald Trump acha que os chineses estão há décadas a "roubar" mais de 500 mil milhões USD aos EUA com os negócios mal negociados pelos seus antecessores, ao mesmo tempo que entende que Pequim está a "roubar" tecnologia norte-americana, está a deturpar a liberdade económica global ao financiar com subsídios chorudos estatais as empresas privadas do país e, como se fosse pouco, a Huawei está a ser apontada como plataforma de espionagem digital.

No vai e vem de ataques e contra-ataques, onde a China, por exemplo, está a analisar a aplicação de taxas monstruosas aos bens Made In USA, impedir o acesso a minerais raros, essenciais para a indústria de ponta norte-americana, e a Huawei já está a lançar como forte hipótese um sistema próprio que lhe vai permitir libertar-se das grilhetas do Android da Google, a economia mundial mostra os primeiros sintomas claros de um gripe que se não for tratada rapidamente nada poderá impedir que se transforme numa pneumonia.

E se a guerra com a China já era uma enorme dor de cabeça global, o intrépido Presidente norte-americano não deixa créditos por mãos alheias e virou-se agora para o México, que é só e apenas um dos mais importantes parceiros económicos e dos mais destacados fornecedores de petróleo dos Estados Unidos da América, a quem ameaça com a imposição de tarifas extra de 5% sobre todos os bens que entram nos EUA.

Por detrás desta nova frente de batalha de tarifas de Donald Trump com o México está a sua preocupação com a porosidade da fronteira entre os dois países por onde continuam a passar milhares de ilegais, situação inflamada ainda mais por imagens difundidas nos últimos dias onde se vêem centenas de pessoas a atravessar a barreira.

E é este conjunto de situações que estão por detrás de um dos mais obscuros períodos da última década no sector petrolífero que pode mesmo ameaçar o valor de referência actual do barril utilizado para o Orçamento Geral do Estado angolano, que está agora em 55 USD, depois da revisão que retirou 13 dólares ao anterior valor, que era de 68 USD.

O que, a acontecer, vai obrigar o Executivo a apertar ainda mais o cinto e a avançar mais depressa do que o planeado com cortes nos subsídios estatais como nos combustíveis, e outos bens de consumo alargado, como a electricidade ou a água, abrindo a porta para um quase incontornável mal-estar social de consequências que não são facilmente adivinháveis.

E esse cenário, com a inflamação galopante da guerra comercial EUA/China, agora com o México, vão, obrigatoriamente, conduzir a economia mundial e a procura, subsequente, de crude, a um forte abrandamento mundial.

A pressionar o petróleo em baixa está ainda o facto de os EUA, com Trump a manter as ordens de "pump at will", estarem num momento fulgurante de produção intramuros, não só no sector tradicional, mas também no petróleo de xisto, ou "fracking", com as novas tecnologias a forçarem para valores nunca vistos o breakeven por barril até aos 50 USD, sendo esse um dos motivos principais - a par da perda de vigor da economia mundial - pelos quais os stocks norte-americanos, segundo o instituto dos petróleos nacional, estarem a crescer semana após semana.

Como valor de referência para este fulgor na produção de petróleos nos EUA, está o facto de actualmente estarem a sair para o mercado 12,3 milhões de barris por dia (mbpd), o que faz deste país o maior produtor mundial da actualidade, beneficiando, naturalmente, dos cortes que a OPEP+Rússia estarem a protagonizar uma aliança para cortar na produção como forma de controlar os preços em alta, que estrai 1,2 mbpd deste 01 de Janeiro deste ano, com a Arábia e a Rússia - os tradicionalmente maiores produtores planetários - a serem os maiores contribuintes líquidos para este esforço que abrange também Angola.