Isto, porque os vários conflitos que estão a manter o "ouro negro" em alta, desde a crise EUA/Irão, à guerra comercial Washington/Pequim, tendem a diluir-se e a produção actual está a ser suficiente para aumentar os "stocks" das grandes economias, como a dos EUA.

E tudo apesar de a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e os seus aliados, liderados pela Rússia, que desde 01 de Janeiro estão a extrair 1,2 milhões de barris por dia (mbpd) do mercado, já terem deixado sinais espalhados pelos quatro cantos do mundo de que vão manter os cortes após a reunião agendada para o mês de Junho, em Viena de Áustria, que tem como agenda quase única a discussão do plano em curso para pressionar os preços em alta.

Para já, mesmo que, no mundo dos petróleos, as análises sejam mais que as mães dos analistas e as elucubrações se multipliquem ao minuto, os factos são os factos e hoje o Brent, em Londres, que é onde se define o valor das exportações angolanas, estava em mínimos de muitas semanas, nos 68,78, cerca das 09:30, baixando da barreira dos 70 USD por barril, limite considerado mínimo aceitável por parte dos produtores.

Por exemplo, os analistas da Morgan Stanley consideram, numa análise citada pelos media especializados,que as circunstâncias actuais tendem a empurrar o preço do barril para baixo, nomeadamente com a perda de fulgor daqueles que foram os motivos que o mantiveram em alta nos últimos meses, como os riscos geopolíticos e conflitos comerciais.

Na linha da frente estão a crise que os EUA de Donald Trump abriram com o Irão por causa do acordo nuclear, retomando sanções gravosas para as exportações de crude iranianas, que é só e apenas o 3º maior produtor da OPEP e um dos cinco mais importantes do mundo, e a guerra comercial entre a China e os EUA, as duas maiores economias planetárias, com a primeira a retirar mais de 2 milhões de barris do mercado e a segunda a levar a um encolhimento da produção industrial, diminuindo a procura da matéria-prima.

Mas ambos estão à beira de um volte-face importante, porque, sobre o Irão, pela primeira vez, o Presidente norte-americano já disse estar disposto a conversar com Hassan Rouhani, o moderado presidente iraniano, contrariando os "falcões" de Washington, Mike Pompeo, Secretário de Estado, e John Bolton, Conselheiro para Defesa de Trump.

E quanto à guerra comercial Washington/Pequim, Donald Trump e o seu homólogo chinês XI Jinping mostram indícios de que um acordo está para breve, como o demonstra o recuo dos EUA nas sanções ao gigante tecnológico Huawei, depois de esta empresa ter sido apontada como estando a colocar em perigo a segurança nacional dos Estados Unidos.

Em causa, mesmo que a questão iraniana ainda leve uns meses a resolver e na Venezuela a produção continue em declínio, bem como na Líbia, ou que Angola, o 2º maior produtor da África subsaariana tenha mostrado uma tendência em baixa no número de barris extraídos diariamente, estão factores que não podem ser controlados pela OPEP+Rússia, como é disso exemplo o petróleo de xisto norte-americano (fracking), que se estima, como lembra a Stanley Morgan, existirem em reserva mais de 200 mil milhões de barris, com um breakeven cada vez mais baixo devido aos avanços tecnológicos, que passou de um custo por barril de 70 USD ainda há menos de dois anos, para os actuais 40 a 45 USD por barril extraído do solo, com um potencial de injectar milhões de barris nos mercados.

Por outro lado, a Arábia Saudita e a Rússia, dois dos três maiores produtores mundiais, que têm sido fulcrais para manter o programa de cortes da OPEP+ como ferramenta de controlo dos preços, vivem momentos críticos nas suas economias, especialmente os sauditas, que atravessam anos a fio a acumular défices nas suas contas públicas, e vão ter de analisar profundamente a política actual, tendo já os russos admitido, pelo seu ministro das Finanças, que pretendem voltar a abrir a torneira.

E se isso acontecer, pode ser levantar a tampa da caixa de pandora ao mesmo tempo que se abre a torneira do petróleo para os mercados, porque todos os países produtores têm em curso planos de aumento da produção, como é disso bom exemplo Angola, com importantes medidas legislativas já aprovadas e aplicadas para aumentar a produção, através de incentivos fiscais, entre outras facilidades proporcionadas com a criação da agência do petróleo e do gás (ANPG), que assumiu as funções de concessionária para dar maior versatilidade a esta área do negócio.

Mas, como é por demais evidente neste sector, a evolução dos preços vai depender de forma vincada do que realmente suceder com os diversos conflitos latentes ou efectivos, especialmente no Médio Oriente, e ainda se a indústria do fracking norte-americano vai conseguir manter a produção com os preços a evoluírem em baixa acentuada.

Sobre este momento de imprevisibilidade, Angola resolveu proteger-se com a revisão do seu OGE para 2019, retirando 13 USD ao preço de referência do barril, que apssou de 68 para 55 USD.

Com a revisão do Orçamento Geral do Estado para 2019, Angola consegue proteger-se minimamente desta oscilação em baixa do valor da matéria-prima, mas o impacto é evidente e negativo.

É por causa desta dependência angolana das exportações de crude que, na Cimeira da OPEP que vai ter lugar no próximo mês, em Viena de Áustria, Angola deverá defender de forma clara a manutenção dos cortes que desde 01 de Janeiro, envolvendo ainda os parceiros do "cartel" liderados pela Rússia neste esforço, retiraram 1,2 milhões de barris por dia para manter os preços do barril controlados e em alta.