Este avanço do M23 acontece perante a impotência do contingente militar enviado para o leste congolês no âmbito dos esforços de estabilização liderados pelo Presidente João Lourenço, e ignorando os compromissos assumidos em várias rondas negociais.
Mas este pode ainda ser o momento mais perigoso desde que os rebeldes que a ONU provou contarem com o apoio do Ruanda, apesar de Kigali negar, retomaram as conquistas pelas armas de territórios no leste do Congo.
Isto, porque a RDC e o Ruanda estão à beira de uma guerra aberta devido à actividade dos guerrilheiros do M23, sendo apenas evitada até agora pelos esforços liderados por Luanda e Nairobi para estabilizar esta região, que é cobiçada pelos seus vastos e estratégicos recursos naturais, como o cobalto e o coltão.
Com a tomada de Minova, o M23 aproxima-se perigosamente de Goma, a capital do Kivu Norte, a apenas 50 kms, e que, se vier a cair nas mãos da guerrilha de origem ruandesa, pode comprometer de forma existencial os interesses de Kinshasa numa das suas mais ricas províncias.
E se tal acontecer, como, de resto, o Presidente Felix Tshisekei tem vindo a ameaçar, dificilmente a intermediação do Presidente angolano poderá evitar a deflagração de um conflito entre a RDC e o Ruanda, que tem potencial para incendiar toda a região dos Grandes Lagos.
Minova é uma cidade importante nesta geografia porque é a única via de acesso ao nó rodoviário de Sake, a partir da costa oeste do Lago Kivu, que permite o acesso directo a Goma, quase na linha de fronteira com o Ruanda, consistindo numa séria ameaça à soberania de Kinshasa em todo o leste congolês.
Além de Minova, no Kivu Norte, segundo os media locais, os rebeldes do M23 também tomaram de assalto as zonas mineiras de Lumbishi e Shanje, já no Kivu Sul, importantes áreas de extracção de minerais estratégicos.
Esta conquista de MInova surge pouco depois de também a cidade de Masisi, igualmente no Kivu Norte, ter caído, aumentando o controlo do M23 nesta província estratégica.
Com este avanço, os rebeldes passam a ter sob controlo efectivo duas vias de acesso a Goma, as estradas N2 e R529, faltado apenas controlar a RP1030, para que a capital provincial fique sem acessos terrestres viáveis provenientes de oeste.
O M23 está presente no leste congolês desde 2012, tendo, entretanto, iniciado uma longa hibernação para, em 2021, reemergir com grande agressividade como uma espécie de força de segurança privada para proteger os negócios do Ruanda na exploração ilegal dos solos da RDC.
Apesar de Paul Kagame, o Presidente do Ruanda, negar de forma insistente qualquer ligação do seu país aos apoios que o M23 possa ter no exterior, a verdade é que um relatório de 2022, elaborado por especialistas da ONU, veio demonstrar que esse apoio de Kigali é efectivo.
O histórico
Por detrás desse apoio está a exploração de minerais estratégicos valiosos, como o coltão ou o cobalto, que são reexportados pelo Ruanda como sendo provenientes do seu subsolo mas sem que se conheça a existência de reservas no lado ruandês destes recursos naturais.
Perante a ameaça séria de uma guerra entre a RDC de Felix Tshisekedi e o Ruanda de Paul Kagame, com dezenas de escaramuças fronteiriças a suportar essa possibilidade, o Presidente angolano encetou uma "batalha" diplomática para estabilizar a região.
Para isso contribui ainda o Quénia, no âmbito da Comunidade da África do Este (EAC), que, com Angola, tem servido de palco para sucessivas rondas negociais, algumas delas promissoras, como quando, em 2023, em Luanda, Paul Kagame se comprometeu em pugnar junto dos lideres do M23 para aceitarem depor as armas.
Tal nunca foi efectivamente concretizado, apesar de ao longo de 2024 terem sido definidos os ditames das tréguas que duraram meses e foram vigiadas e garantidas por um continente militar de interposição com milhares de militares oriundos de países como Angola, África do Sul, Quénia ou, entre outros, Uganda.
Porém, como tinha sido reguçar nos últimos meses de 2024, agora, em 2025, ainda o ano está a arrancar é já se começa a perceber que o M23 não vai dar descanso aos líderes dos esforços diplomáticos, onde está o Presidente João Lourenço, como pode ser revisitado nos links em baixo, nesta página.
O mapa das conquistas do M23 no Kivu Norte e no Kivu Sul segue os filões dos recursos naturais que são mais cobiçados pelas grandes indústrias globais, desde as comunicações (coltão) à aeronáutica (cobalto).
Com as vagas de assaltos do M23, Kinshasa ficou sem controlo de algumas das mais vastas áreas de exploração mineira, perdendo assim milhões USD para os garimpeiros ilegais que fazem estes recursos chegar ilegalmente aos mercados internacionais via Ruanda ou outras geografias.
Por detrás desta renovada ofensiva dos rebeldes está, seguramente, a fricção entre Tshisekedi e Kagame que, apesar dos esforços de intermediação de Lourenço, parece ter chegado a um ponto de ebulição devido à imparável chama dos interesses económicos no leste congolês.
Além das perdas económicas, estes avanços do M23 resultam ainda como uma poderosa dor de cabeça para as autoridades congoleses que se encontram já com uma severa crise humanitária entre mãos.
Isso, devido aos quase cinco milhões de pessoas que se encontram em campos de refugiados em vários locais, devido à violência - são mais de 100 os grupos de guerrilheiros, milícias e bandidos organizados na região - e com tendência de crescimento sem fim à vista.
Há relatos de que os combates entre as forças congolesas e os guerrilheiros fazem mais de 20 mil mortos anualmente, sem contar com as milhares de vítimas civis, que são a larga maioria.